quinta-feira, 18 de março de 2021

«Marvão à mesa com a tradição»


JORGE  LAGE


Trazer para o espectro transmontano um livro sobre as tradições culinárias e gastronómicas de um pequeno concelho do Norte Alentejano, parece não fazer sentido. 

Mas, se tivermos em conta um conjunto de variáveis enriquecedoras da obra, «Marvão à mesa com a tradição», impõe-se uma referência assente nas vertentes mais sumarentas. O livro foi escrito por três amigas da freguesia de São Salvador de Aramenha, do concelho de Marvão: Adelaide Martins, Emília Mena e Teresa Simão. 

O «bichinho» de registar as tradições que receberam dos pais e avós parece ser uma ideia comum e desde crianças. Partindo da ideia que três fazem melhor do que uma, amigas e vizinhas deixaram a memória gastronómica em livro (vai na 3.ª edição) com chancela das Edições Colibri. É uma publicação a cores, de capa atraente, de 160 páginas, 200 fotos das iguarias e património cultural marvanense e 176 receitas dividida em 10 capítulos: «Sabores da Panela» (da “açorda” às “sopas de cachola”), «Sabores do Rio e do Mar» (do “arroz de bacalhau” aos “peixes do rio fritos”), «Sabores do Monte e da Capoeira» (do “chibo de cachafrito” à “miolada”), «Sabores da Caça» (do “arroz de lebre de cabidela” à “perdiz tostada”), «Sabores do Fumeiro» (da “cacholeira cozida” ao “mouro”), «Sabores da Horta e do Campo», (das “bajas…” à “restolhada”), «Sabores do Forno» (das “saínhas” à “zangalhana”), «Doces Sabores» (da “boleima batida” às “papas do cu…”), «Sabores de Beber» (do “café ferrado” às “garafadas”) e «Sabores Proibidos» (vindos de tempos difíceis, do “cágado frito” às “pernas de rã”). O Prefácio de Jorge de Oliveira, leva-nos a sabermos mais da cultura de Marvão, desde o Neolítico, à romanização (com a velha urbe da Ammaia dinamizadora) e ao desenvolvimento trazido pelo comboio transfronteiriço. Quem visita Marvão encanta-se com esta granítica galera que um Eneias (ou os remadores) qualquer terá abandonado, encantado pelas ninfas do rio Sever. Na introdução lá estão explicações adicionais, porque «muitas foram as “viagens” que efectuámos (…) pelos campos, ao redor do lume, à boca do forno, à soleira das portas… os saberes dos mais idosos foram emergindo (…) uma viagem ao passado (…), os hábitos alimentares (…)». Livro «para ensinar a confecionar essas delícias mesmo a quem não seja muito hábil na cozinha». O Posfácio assume-se como chancela de qualidade, de Manuel Fialho, da Confraria Gastronómica do Alentejo. Aconselho este marco gastronómico de Marvão como um bem patrimonial e um cardápio útil a todos os que amam a boa cozinha tradicional e regional. Parabéns às autoras – Teresa, Adelaide e Mena – pela obra tão bem conseguida.

In: "Noticias de Mirandela" - 15 de Março de 2021

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