17 fev 2021
É um «relatório internacional», dizem, Sic, Expresso e Tvi. Um «relatório internacional»
que denuncia o crescimento do «extremismo de direita» na Europa — e do Chega em
Portugal, evidentemente. Sic, Expresso e Tvi nunca identificam os autores do
extraordinário «relatório internacional». Ora, quando Sic, Expresso e Tvi não
identificam estas coisas, Sic, Expresso e Tvi suscitam, decerto
involuntariamente, suspeitas. Que «relatório internacional» será este? Será um
«relatório internacional» de estudiosos e analistas internacionais, de
gente com curriculum e probidade?
Pois, que maçada, não é. O «relatório internacional» é um manifesto
assinado por três organizações de extrema esquerda, uma, inglesa; a outra,
sueca; a outra, alemã. São organizações de extrema-esquerda (dessas onde
costumam esconder-se os extremistas), anti-racistas (dessas onde costumam
esconder-se racistas em geral), ou anti-semitas (dessas que gritam contra a
islamofobia).
Esperança? Não, Ódio!
A primeira signatária do grande «estudo internacional» é a ONG Hope not
Hate, que foi fundada e é dirigida por Nick Lowles. Lowles é um activista
de extrema-esquerda, e a organização diz-se anti-fascista. Certa vez na
revista Spectator, Douglas Murray interrogava-se, exatamente a
propósito da Hope Not Hate, sobre por que seria que tanta gente que se proclama
anti-fascista age exatamente como agiriam os seus inimigos, «aos gritos, aos
berros, marchando, lutando, ameaçando», chamando «lixo» e defendendo que sejam
«esmagados» todos os que não pensam como eles? E mais revelava Murray que a
Hope Not Hate publicara uma lista de 10 grandes islamófobos, um dos quais era
uma dinamarquesa, jornalista e defensora da liberdade de expressão, que depois
foi visitada por um assassino.
A Hope Not Hate fez campanha contra o Brexit, evidentemente, proclamando
coisas carateristicamente extremistas, como: «É nossa convicção que a direita
radical, dentro e fora do Partido Conservador, está a utilizar um hard
Brexit para mudar drasticamente a sociedade britânica — e mudá-la para
pior.»
A «direita radical» dentro e fora do Partido Conservador conquistaria seguidamente uma vitória histórica nas eleições para o Parlamente. O povo britânico é maioritariamente fascista, há de pensar, odiosamente e sem esperança, a Hate Not Hope.
Expor o Quê?
A segunda signatária é a Expo (era o nome de uma revista antes de ser o de
uma ONG), uma organização sueca fundada por Stieg Larsson. Larsson foi o autor
da famosa trilogiaMillenium. Nasceu em 1954 e morreu de ataque
cardíaco com 50 anos. Era um extremista de esquerda: os muitos milhões do seu
legado, resultantes dos milhões de exemplares de livros vendidos e dos direitos
cinematográficos deixou-os ele ao Partido Comunista da terra. Mas como o
testamento não tinha sido reconhecido e nem havia testemunhas não foi validado.
Disputam o legado a mulher com quem vivia e a família de sangue.
A Expo gaba-se de ter o maior arquivo (a tendência «arquivista» é muito
forte em certas mentes, e bem conhecida de outras áreas) de material da
extrema-direita na Suécia e internacionalmente. Mas, tal como com a Hope Not
Hate, há boas razões para crer que para a Expo seja extrema-direita toda a
gente que não seja de extrema-esquerda.
O que é que o António tem a ver com a Stasi?
A terceira signatária é a AAS, António Amadeu Stiftung (Fundação), alemã. O
nome português é o de um imigrante angolano assassinado por um grupo racista. A
AAS é, evidentemente, uma organização anti-racista. Curiosamente, parece ter
descoberto que anti-racismo e anti-nazismo são mais fortes onde racismo e
nazismo «desde sempre foram confrontados», ou seja, na área da antiga Alemanha
comunista, dita «Democrática»; e que racismo e nazismo estão mais presentes na
área da antiga República Federal da Alemanha, a Alemanha livre e capitalista.
Explicará, talvez, alguma coisa que a presidente do conselho de direcção da fundação
Amadeu António seja a senhora Anetta Kahane, uma cidadã da antiga Alemanha
comunista, que foi informadora da Stasi, a polícia secreta dos torcionários
«democráticos».
E só mais 3 perguntinhas:
Estes 3 breves e pequenos blocos informativos sobre os autores do magnífico
«estudo internacional» ferem de alguma maneira a credibilidade do «estudo
internacional» magnífico? Pois, realmente ferem.
E Sic, Tvi ou Expresso não se lembraram de creditar os autores do brilhante
«estudo internacional»?
Pois não, não se lembraram! E porque é que Sic, Tvi e Expresso não se deram
ao trabalho de explicar quem eram os autores do estudo internacional
«brilhante»?
Bem, talvez por isso ser jornalismo.
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