quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

A propósito da pandemia ...uma cartilha de higiene

 

Como era o estado da saúde pública no início do século XX, em Portugal? Uma cartilha militar ajuda a compreender o movimento de higiene que assolava a Europa.

"O exército vem do povo. Esta cartilha de higiene, destinando-se ao exército, - destina-se ao povo". É assim que se inicia a "Cartilha de higiene", uma edição em 1912 do Ministério da Guerra e que ajuda a entender a importância da saúde pública no início do século passado em Portugal.

A cartilha inscreve "muito ensinamento valioso e muito conselho útil" e "não é uma imposição da disciplina, é um dever da humanidade".

Para contextualizar o lançamento da obra, é preciso recuar quase um século para perceber a sua importância. Usando o texto "Factos relevantes da saúde militar nos últimos 200 anos", publicado em Janeiro de 2014 na Revista Militar, percebe-se que os militares tinham alguma importância nestes temas da sociedade.

Desde 1822, data da fundação da Sociedade de Sciências Médicas de Lisboa, esta teve até 1866 uma presidência "preponderantemente de médicos militares, como por exemplo Bernardino António Gomes (filho), médico naval e precursor da psiquiatria portuguesa" que, na década de 40 desse século, irá criar o primeiro serviço de psiquiatria no Hospital da Marinha.

Segundo o autor do artigo, Rui Pires de Carvalho, em 1837 ocorreu a criação do Conselho de Saúde do Exército para, mais de 50 anos depois, ser publicado o livro "Questões Médico-Militares – Estudos Militares sobre Serviços Sanitários de Campanha", do cirurgião de brigada Cunha Belém, e "que lança a questão da necessidade de treino e formação do pessoal de saúde em ambiente operacional".

Os desenvolvimentos na higiene em ambiente militar decorriam em paralelo com o interesse na sociedade civil, devido aos avanços científicos internacionais (que apontavam como os germes podiam fomentar doenças e se reclamavam medidas de saúde pública), fomentado por personalidades como Florence Nightingale (1820-1910) no lançamento dos serviços de enfermagem, o casal Pasteur (dinamização da vacinação, entre outros) ou Robert Koch (1843-1910), na revelação das doenças transmissíveis, como a tuberculose.

"Aplicações da hygiene publica"

https://pt.calameo.com/read/005887431b213d21a72c1

Em Portugal, este movimento é dinamizado por Ricardo Jorge. No instituto que agora tem o seu nome e de que foi fundador, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, recorda-se que foi em Junho de 1899 "que se dá a sua consagração em definitivo a nível nacional e a projecção internacional, quando, sem hesitações, chega à prova 'clínica e epidemiológica' da peste bubónica que assolou a cidade do Porto, sendo esta depois confirmada 'bacteriologicamente' por ele próprio e Câmara Pestana".

Mas "as operações profilácticas que liderou no sentido de eliminar a peste, como a evacuação de casas e o isolamento e desinfecção de domicílios, entre outras, desencadearam a fúria popular que, incentivada por grupos políticos, obrigam Ricardo Jorge a abandonar a cidade".

Em Outubro "é transferido para Lisboa, sendo nomeado Inspector-Geral de Saúde e a seguir professor de Higiene da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Em 1903, é incumbido de organizar e dirigir o Instituto Central de Higiene, que passaria a ter o seu nome a partir de 1929".

Ricardo Jorge é ainda lembrado pela organização geral dos serviços de saúde pública (Dezembro de 1899) e pelo Regulamento Geral dos Serviços de Saúde e Beneficência Pública (1901). É desta "reforma" da Direcção-Geral de Saúde e Beneficência Pública e do Instituto Central de Higiene (depois Instituto Superior de Higiene), que se irá "desempenhar um importante papel na educação, formação e investigação em saúde pública, nota Luís Graça na "História da Saúde no Trabalho".Reparámos que temocker ativo.

A "preocupação essencial era então a protecção e a melhoria da saúde comunitária (e não propriamente a saúde do indivíduo)".

No referido regulamento, "os serviços de saúde pública tinham por fim 'vigiar e estudar quanto diz respeito à sanidade publica, à hygiene social e à vida physica da população, promovendo as condições da sua melhoria' e abrangiam:

- A defesa contra a invasão das moléstias exótico-pestilenciais (sic);

- A estatística demográfico-sanitaria;

- A prevenção e combate das moléstias infecciosas;

- A salubridade dos lugares e habitações;

- A inspecção das substâncias alimentícias;

- A higiene da indústria e do trabalho;

- A policia mortuária;

- O exercicio médico-profissional;

- E 'quaesquer outras aplicações da hygiene publica'".

É neste contexto que surge, em 1912, a "Cartilha de higiene" do Ministério da Guerra.

 

FONTE: https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/sexo-alcool-e-molestias-da-vida-militar-em-1912

 O que diz verdadeiramente a cartilha? Leia AQUI.


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