segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Pelalar para competir



Por Barroso da Fonte – A Voz de trás-os-Montes

O secretário de Estado do Planeamento, José Gomes Mendes, resolveu sair do gabinete do poder e percorrer, em bicicleta “os mil quilómetros da sua vida”, entre Bragança, e Faro. Dia 25 de Julho fez a primeira etapa: Bragança-Chaves, somando 100 km pela EN 103.

O mesmo traçado, o mesmo piso, as mesmas curvas, o mesmo “inferno viário” que tinha servido ao longo dos 48 anos do Estado Novo. No JN, dos dias seguintes, esses diários prenderam a minha atenção. 
Entre 1967 e 1975 trabalhei em Chaves, onde era o Correspondente do mesmo JN. Nele já eu pugnava por uma EN 103 decente. Radiquei-me, a seguir, em Guimarães, onde continuei como correspondente, até Novembro de 1982. Nunca, até hoje, abandonei esse tema que constitui um portento para aos 48 anos de Salazarismo que acresceram mais 46 de democratismo cinzento, remeloso e tísico.
Esse furúnculo está lá, bem visível, na EN que vai de Braga até Bragança,com passagem por Montalegre, Chaves, Vinhais, Boticas e toda a fronteira norte.
 O anterior Ministro das obras públicas, durante quatro anos, tudo fez para sublimar esse mostrengo que Nuno Santos nem quererá cheirar. Talvez a Camarada Isabel Moreira, pudesse servir de pendura para uma pareceria de conveniência política. Se não for por essa via Trás-os-Montes nunca mais deixará de ser a ultima colónia Portuguesa.
 José Mendes, certamente solidário com as origens do verdadeiro condado Portucalense, entendeu, destinar, parte das suas férias, a pedalar pelas velhinhas estradas que a memória não apaga. Por mais ingrata, dura e andrajosa que tenha sido, nos 48 anos do Estado Novo e mais 46 do “estado velho” que é este caroço difícil de roer.
O ex- vice-reitor da Universidade do Minho, partiu de Bragança para Chaves, pelo troço da EN 103. A 2ª etapa partiu (da Madalena) Chaves, rumo a Faro, onde chegou depois de percorrer 932 kms, em nove dias.
As televisões à cata de audiências, alimentam um circo de polémica futebolística, que tem um mundo ululante de seguidores” como escreveu Francisco Seixas da Costa “no país das trincheiras”, no JN uns dias antes.
 Penso que o grande mal dos nossos políticos nacionais consiste no desconhecimento do país sobre o qual são obrigados a fazer leis ou a tomar decisões quer pessoais, quer coletivas. Para evitar isso cada político deveria frequentar um curso agrícola para interpretarem os segredos do campo.

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