sábado, 1 de agosto de 2020

Flagrantes da Ruralidade na Literatura Transmontana

Tempo caminhado: ANTOLOGIA DE AUTORES TRANSMONTANOS, DURIENSES E ...

Por BARROSO da FONTE


O Grémio Literário de Vila Real, acaba de editar este volume numa tiragem de 300 exemplares com 128 páginas. É a edição 41 da Coleção Tellus, coordenada pelo seu diretor A.M. Pires Cabral. Em «uma antologia com sentido» esclarece que se trata de «uma coletânea de textos de uns quantos escritores de Trás-os-Montes e Alto Douro que manifestam na sua obra uma vigorosa fidelidade à ruralidade e, amorosamente, a têm tratado. Não é um ramalhete de textos inéditos mas de textos anteriormente publicados em livro».
http://gremio.cm-vilareal.pt/index.php/
publicacoes
Obviamente ao descrever os modos, os hábitos, os feitios e os costumes, faz-se história, com muitas e pequenas «estórias», não como elas aconteceram, mas como o seu autor as descreveu. E quando esses autores têm maus fígados, as «estórias» não surgem suculentas, nem «de chorar por mais». Pelo contrário, Pires Cabral – e bem - repescou nas obras dos autores que cita, dentadas de prosa virgem. E cita o exemplo de Ferreira de Castro que «tomou as terras de Barroso como cenário para o grande romance que tem o título de Terra Fria (1934). Mas não se limitou a descrever aquelas terras e aquelas gentes: amou-as também – o seu romance é um ato de simpatia humana e um preito de homenagem a Barroso».
O Grémio Literário é a primeira estrutura do género que foi inspirada pelo multifacetado autor A.M. Pires Cabral que poderá servir de modelo a organismos situados na capital.
Este príncipe da Cultura Transmontana, natural de Macedo de Cavaleiros, mas radicado em Vila Real, repartiu os seus dotes criativos pelos dois distritos, na tentativa de unificar Trás-os-Montes e Alto Douro. Nascendo em Bragança (distrito) e lecionando em Vila Real (distrito), consolidou o estatuto de Patriarca dos criativos, ao propor à Câmara de Vila Real que desse corpo ao Grémio Literário. Esse projecto encontrou vencimento. E, entre a cidade velha e a UTAD, foi construído um imóvel que desdobrado em duas valências, passou a ter a Biblioteca Pública da Cidade e o Grémio Literário. Aquela acolhe o grosso das obras raras e aquelas que ali chegam, autografadas, oferecidas, depositadas.
O Grémio é a menina dos olhos de ouro deste complexo cultural - para não lhe chamar o Centro Cultural de Belém – que serve o antigo Condado Portucalense. Este Grémio «provinciano, é muito mais democrático, gerido pelo orçamento Municipal de Vila Real, não promove chulos, não acolhe lésbicas, nem dá créditos a falidos que declaram só ter uma garagem, quando se sabe que andam uma vida inteira a viver à custa dos milhões que o povo paga com língua de palmo.
O Grémio Literário foi inaugurado no 1º sábado de Novembro de 2006. Foram catorze anos de experiência democrática que revelam um respeito ideológico exemplar, funcionando a contento daqueles que aí trabalham e daqueles que dessa estrutura beneficiam, com atividades bem pensadas, ao longo do ano, sempre com geral agrado dos criativos Transmontanos.
AM Pires Cabral, em 7 de Novembro de 2006,disse à Lusa que «o Grémio Literário funcionará como um observatório da Literatura Transmontano-duriense». E tem sido.
Regularmente estas duas valências culturais dão sinais de vida. Muitos e saudosos autores têm sido ressuscitados, de entre os vãos das gavetas. Pires Cabral rodeou-se de outro agente da mesma estirpe, especialista em recuperar pergaminhos, património que foi precioso em tempos idos e que, vertido em letra de forma, constitui espólio a enriquecer os espaços nobres da casa.
duas ou três coisas: A História do ElísioElísio Neves merece aqui uma palavra, ao lado desta dupla que demonstrou nestes catorze anos que a «província» rivaliza com os melhores sítios e «pousos» da capital. Nada ensinam que os provincianos não saibam. Tivessem estes as oportunidades dos urbanos.
As 126 páginas destes flagrantes da Ruralidade na Literatura de Trás-os-Montes e Alto-Douro, é um conjunto de contrastes entre a cidade e as serras à luz, sendo que Paris (a «cidade das Luzes») era, no parecer de Eça de Queirós, o contraponto ao clarão de Tormes, no concelho de Baião. 

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