BARROSO da FONTE |
Quantos carros vão ser roubados, quantos velhos vão
ser agredidos, quantos indefesos vão ficar expostos e quantas vítimas de
violência doméstica ou de assédio sexual vão dormir em sobressalto, depois de
consumada a libertação dessa massiva praga social e sobretudo política?
A deputada Constança Urbano de Sousa, que foi uma
péssima ministra da proteção civil a ponto de ter de se demitir, a meio do
mandato, veio acusar Rui Rio por ter posto o dedo na ferida: se esses presos
ficassem em casa com a pulseira eletrónica e, passada a pandemia, voltassem a
cumprir, na cadeia, o tempo que lhes faltar cumprir, compreendia-se. Mandados
para casa, sem mais nem menos, é uma injustiça tremenda, porque, entre o perdão
de cadeia e a liberdade incondicional, ainda há um grau de pena que é muito
usual e que se chama «pena suspensa».
Devolvidos à liberdade plena, constitui um erro
crasso.
Em primeiro lugar porque é um incentivo ao crime. Se
mesmo assim as penas já são cada vez mais reduzidas, para alguns crimes que,
muitas vezes, deixam muita gente atónita pela benevolência, como se compreende
que sejam perdoados e postos em liberdade, quando se sabe que muitos cidadãos,
cuja gravidade não dá para cumprirem pena efetiva, são condenados a pena
suspensa?
Em segundo lugar, esses presos deveriam sair da cadeia
mas com pulseira eletrónica, enquanto a pandemia persistir. Depois voltariam à
cadeia para cumprir o resto da pena.
Mas numa terceira hipótese, deveriam cumprir a pena
efetiva, como pena suspensa. Pelo menos não se cometia uma tremenda injustiça
em relação àqueles que no julgamento «apanham pena suspensa».
Se a deliberação de perdoar a 2500 presos efetivos os
dois anos que ainda teriam de cumprir, não ficarem, sequer, com a pena
suspensa, os muitos milhares que foram punidos com esse grau penal, têm direito
a promover uma manifestação pública, de imprevisíveis consequências.
No dia em que no Parlamento se discutiu e votou tão
polémica deliberação, um vizinho contou que foi julgado num crime comum e em
que, de três arguidos, um apanhou 3 anos de cadeia e outros dois, foram punidos
com pena suspensa.
Por esta pirueta política, quem apanhou três anos de
cadeia saiu em liberdade um ano mais cedo do que os outros dois que apenas se
libertarão daqui a um ano...
João B. da Fonte
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