quinta-feira, 9 de abril de 2020

Fascínio por Torga ...

Não há como um castiço sarcasmo peninsular para entupir certos bons samaritanos que nos saem ao caminho. Pena é que seja uma forma de reacção que dói mais na alma do próprio do que no entendimento alheio.
– O senhor por aqui na sua solidão!… Deve fazer-lhe falta conversar, discutir, trocar impressões…
– Está enganado. Gostei sempre do silêncio… Até na profissão passo a vida a recomendar repouso de voz…

Miguel Torga, Coimbra, 1 de Março de 1969 


Mário Adão Magalhães

Tenho um fascínio intrínseco, antigo, reiterado por este apontamento do Diário, de Torga.
Mais do que englobar parte interessante da personalidade do Torga, mostra realmente o que ele quer.
O que ele quis – escrever – escreveu. Disse tudo. Nada mais ficou por dizer a menos que fosse cumprir o diário, do dia-a-dia, se mais algum ele vivesse.
O texto diz aquilo que são na generalidade, especialmente os portugueses.
Não podem ver uma pessoa quieta. Se estiver quieta não está a trabalhar.
Acham que não pode estar a beber, deglutir o que o rodeia, a trabalhar mentalmente. Acham que por estar ali, não se pode estar longe, bem longe, mentalmente.
Acham que não se pode estar ali, e estar sem o próprio, mesmo, saber onde está.
Sublinhe-se que Miguel Torga ou o vulgo Adolfo Correia da Rocha foi médico otorrinolaringologista.


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