Não há como um castiço
sarcasmo peninsular para entupir certos bons samaritanos que nos saem ao
caminho. Pena é que seja uma forma de reacção que dói mais na alma do próprio
do que no entendimento alheio.
– O senhor por aqui na
sua solidão!… Deve fazer-lhe falta conversar, discutir, trocar impressões…
– Está enganado. Gostei
sempre do silêncio… Até na profissão passo a vida a recomendar repouso de voz…
Miguel Torga, Coimbra, 1 de Março de 1969
Mário Adão Magalhães
Mais do que englobar parte interessante da personalidade do
Torga, mostra realmente o que ele quer.
O que ele quis – escrever – escreveu. Disse tudo. Nada mais
ficou por dizer a menos que fosse cumprir o diário, do dia-a-dia, se mais algum
ele vivesse.
O texto diz aquilo que são na generalidade, especialmente os
portugueses.
Acham que não pode estar a beber, deglutir o que o rodeia, a
trabalhar mentalmente. Acham que por estar ali, não se pode estar longe, bem
longe, mentalmente.
Acham que não se pode estar ali, e estar sem o próprio, mesmo,
saber onde está.
Sublinhe-se que Miguel Torga ou o vulgo Adolfo Correia da
Rocha foi médico otorrinolaringologista.
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