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Júlia Serra
Munch,
norueguês, pintou em 1893 O Grito. Trata-se de um exemplar do
Expressionismo que representa alguém em desespero. Neste quadro, o autor
retrata uma figura andrógina (não se sabe se é do sexo feminino ou masculino)
desenhada a cores frias e com uma expressão facial impressionante, revelando angústia,
dor e desespero. É uma face disforme, marcada pelo sofrimento que pode ser
físico e psicológico, mas um rosto sofredor onde sobressai uma boca aberta, de
quem solta um grito de socorro, as mãos levantadas e colocadas sobre as
orelhas, revelando a surdez do mundo e reforçando o desespero que, na imagem
fixa dos olhos, exprime sinais de hipotética loucura resultante do sofrimento.
É um quadro que,
muitas vezes, é evocado em situações extremas de angústia: em regimes, onde os
cidadãos não têm liberdade de expressão; em momentos de dor, quando a pessoa já
não acredita em nada e pretende soltar a voz clamando ajuda; enfim, nas horas
mais aflitas do ser humano, quando começa a ter a perceção que está a
endoidecer, pela falta de amor, de liberdade, de humanidade e de compaixão.
Álvaro de Campos, no poema Esta velha angústia, retratava esses momentos
dizendo que estava internado num manicómio sem manicómio, que era um doido a
frio. Alguém que estava entre…
Ao longo dos tempos,
a História mostrou-nos momentos de guerra, momentos de experiências nucleares,
ataques terroristas, sistemas políticos diferentes e tantas outras convulsões
que o Poder, aliado a vários ideais, desencadeou e continua a desencadear. O
modelo de governação que se perspetivava mais ajustado aos interesses do povo
era a Democracia, embora esta tenha sofrido mutações, com as novas tendências
exibicionistas totalitárias que constituem hipotéticas alianças, as chamadas
geringonças. Um modelo que se espalhou um pouco pela Europa atual, sobretudo,
nos países de base socialista. Mas enquanto uns se governam ou desgovernam com
a Democracia, outros países continuam com sistemas totalitários e perpetuados
no poder –caso da China, Cuba, União Soviética, Coreia do Norte – uns mais
fechados e ditadores que outros, mas onde a liberdade não tem cor, embora o
cidadão comum sonhe descobri-la e, por isso, a simbologia do Grito de Munch.
Jorge de Sena escreveu: “não hei-de morrer sem saber/qual a cor da liberdade.” Quantos sonham em
descobrir a sua cor?! Alguns servem-se dos meios de comunicação para enviar a
revolta, embora sabendo que serão vítimas; outros (muito poucos) tentam fugir…
em vão; outros gritam até enlouquecer e, ainda outros, a maioria, essa
submete-se e é o cordeiro sacrificado que os poderosos escolheram para engordar a sua carteira. E ninguém se
engane: os da esquerda gostam de uma carteira bem recheada!
As
filosofias da existência colocam o ser ligado à temporalidade e à escolha da
liberdade. É pela liberdade que o homem procura a sua realização, através da
escolha de valores e da busca de solução para os problemas, no entanto, esta
mesma liberdade contém limites e riscos. Na perspetiva de Sartre, o homem está
“condenado a ser livre e será o que forem os seus atos”, o mesmo que dizer que
a responsabilidade coarcta a liberdade. Ora, quando alguém sente necessidade de
ser livre, de apelar aos outros em seu auxílio e não consegue, avoluma-se a
angústia de não -liberdade. Essa necessidade angustiada torna-se parte do quotidiano
e, devido à ideia de falta de referentes, abre caminho para o niilismo. E, na
perspetiva de Heidegger, o homem “nada” está relacionado com a ideia da morte.
Assim, há pessoas desesperadas que lançam o seu grito, embora sabendo que isso
lhes pode valer “a morte” pelo silenciar e fechadura do sistema. São os
corajosos resistentes que tentam lutar pelas novas gerações. Neste tempo de
pandemia, não é preciso nomear a origem do mal, pois não?
Todos
sabemos que ele invadiu o mundo… estamos à mercê de quem?
JS
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