segunda-feira, 9 de março de 2020

Uma "amazona" preta num país que (alguns) dizem racista!

Ontem ao percorrermos o facebook por minutos, apareceu-nos esta imagem. Alguém que para comemorar o Dia Internacional da Mulher, entendeu, e bem, homenageá-las com esta amazona preta (insistimos no termo por questões de semântica).
O que levaria os "racistas portugueses" (como consta no cardápio dos grupelhos esquerdoides), a  inserir nas fileiras do seu Exército, uma senhora preta?
A tal propósito ocorre-nos o lindíssimo poema de António Gedeão, o Professor Rómulo de Carvalho:

Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

ANTÓNIO  GEDEÃO
Tema: Condenação do racismo.
Assunto: O sujeito poético analisa uma lágrima de uma mulher negra, testa de maneira científica e chega à conclusão que essa lágrima é igual a todas as outras.
O teste da lágrima: Este poema é como que um relatório científico, elaborado através de uma experiência feita com uma lágrima de uma mulher de raça negra.
A figura principal é uma mulher preta que o sujeito poético encontrou a chorar nalgum lado “Encontrei uma preta/ que estava a chorar, (…)” (v.v. 1-2). Este ao observar esta cena, pede-lhe uma lágrima para a analisar de uma forma científica, daí a presença, no texto, de diversos termos científicos.
Exs: “(…)num tubo de ensaio bem esterilizado(…)” (v.v. 7-8)
        “Mandei vir os ácidos, as bases e os sais, (…)” (v.v. 13-14)
Trata-se, assim, de uma análise química que o sujeito poético vai fazer à lágrima, seguindo um certo método experimental:
Começa por recolher a lágrima e coloca-a num tubo de ensaio esterilizado “Recolhi a lágrima/ com todo o cuidado/num tubo de ensaio/bem esterilizado.” (v.v. 5-8), para que esta não ficasse contaminada e os resultados modificados.
Seguidamente a lágrima é observada cuidadosamente “Olhei-a de um lado,/ do outro e de frente: (…)” (v.v. 9-10) igualando-a com uma gota transparente “(…) tinha um ar de gota/ muito transparente.” (v.v. 11-12).
De seguida começa a análise experimental, recorrendo a vários reagentes “Mandei vir os ácidos,/ as bases e os sais,/ as drogas usadas/ em casos que tais.” (v.v. 13-16) e a processos experimentais “Ensaiei a frio,/ experimentei ao lume (…)” (v.v. 17-18)  e repetiu-os várias vezes, como se deve fazer em todas as experiências químicas “(…)de todas as vezes” (v. 19).
Após as repetições da mesma experiência o resultado foi sempre o mesmo “(…)deu-me o que é costume: (…)” (v.20), ou seja, a lágrima desta mulher negra tem uma constituição igual à de uma pessoa branca ou de outra cor: é constituída por água e cloreto de sódio “Água (quase tudo)/ e cloreto de sódio.” (v.v. 23-24) e não apresenta sinais de negro ou de ódio “Nem sinais de negro, nem vestígios de ódio.” (v.v. 21-22).
Resultados: Este poema serve para nos mostrar que somos todos iguais independentemente da nossa cor de pele, facto demonstrado pela inexistência de diferenças entre a composição química entre aquela lágrima e a de outras pessoas de outras cores (que se supõe que o sujeito poético já tenha analisado para poder comparar e retirar as suas conclusões).
É assim que o autor evidencia a sua condenação ao racismo, mostrando que até cientificamente está provado que somos todos iguais.
Este poema também demonstra a formação académica e profissional de António Gedeão, tanto a nível de ciências (pois este era professor de Física e/ou Química) como na sua oposição ao racismo.
ESTRUTURA FORMAL
É um poema constituído por 6 estrofes de 4 versos cada, ou seja, 6 quadras. Geralmente, cada verso tem 5 sílabas métricas (Redondilha menor).

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