sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

"Sangue no capim" de Reis Ventura revisitado por Barroso da Fonte

JORGE LAGE, BARROSO da FONTE (ao centro) e ABÍLIO BASTOS


“ANGOLA - OS DIAS DO DESESPERO”, foi o primeiro testemunho da guerra que se iniciara a 4 de Fevereiro de 1961 com o assalto às prisões em Luanda e que a 15 de Março assolou todo o norte da província de Angola. O seu autor foi Horácio Caio. Conhecemos o livro aos 11 anos de idade. Era um dos que fazia parte dos livros “escondidos” do nosso pai.
Dizem-nos as crónicas: “Com centena e meia de páginas o autor, então repórter da RTP, relata os primeiros meses da guerra em Angola, de 15 de Março a 8 de Julho de 1961, desde os assaltos selvagens do terrorismo provocado pelas hordas de membros da UPA de Holden Roberto, no distrito do Congo português.
Neste livro o leitor encontrará relatos impressionantes e cruéis dos massacres levados a cabo pela UPA contra as populações civis de brancos e negros civis, mulheres, crianças, velhos e indefesos.
Destaque também para os milhares de assassinatos dos trabalhadores bailundos que não estavam enquadrados na política e estratégia da UPA, com requintes de malvadez”.
Mas não é a Horácio Caio, nem ao seu testemunho, que o escrito de hoje pretende sublimar. É a outro autor (transmontano) que a seguir se destacou na Literatura Africana com um volume notável onde descreve os mesmos factos em “Sangue no capim”. Outro dos grandes livros da “biblioteca escondida” do nosso pai.
“Reis Ventura é o pseudónimo literário de Manuel Joaquim dos Reis Barroso. Tendo começado a sua vida pela Ordem de São Francisco, onde professou com o nome de Vasco Reis e recebeu ordens sacras, estudou Teologia em Espanha, tendo seguido depois para Moçambique como missionário. Ali abandonaria não só os franciscanos como as próprias ordens sacerdotais, tendo regressado a Lisboa onde estudou então na Escola Superior Colonial. Em 1938 seguiu para Angola, onde trabalhou primeiro como funcionário administrativo e, ultimamente, como empregado da companhia de petróleos daquela então colónia. Regressou a Portugal em 1975, tendo-se fixado em Lisboa. Estreou-se como poeta com o volume A Romaria, que em 1934 recebeu o "Prémio Antero de Quental" do Secretariado de Propaganda Nacional, ex-aequo com a Mensagem de Fernando Pessoa. Para além de continuar a cultivar a poesia, dedicou-se depois a escrever crónicas, contos e romances de temática colonial, pelo que recebeu alguns prémios da antiga Agência Geral das Colónias. Está representado nas antologias: Novos Contos d'África, de Garibaldino de Andrade e Leonel Cosme, 1962; Contos Portugueses do Ultramar, de Amândio César, 1969; O Corpo da Pátria, antologia poética sobre a guerra colonial, de Pinharanda Gomes, 1971; e Antologia do Conto Ultramarino, de Amândio César, 1972”, diz-nos o Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Lisboa, 1997.
E sobre este autor flaviense dizem-nos ainda: “Reis Ventura foi um dos escritores que integrou aquela que se pode classificar como a segunda fase da literatura colonial portuguesa de inspiração africana, no século XX. A primeira fase, representada por escritores como Henrique Galvão (1895-1970), Julião Quintinha (1885-1968) e Castro Soromenho (1910-1968), desenvolveu-se entre as décadas de 20 e 40 coincidindo predominantemente com a recuperação do conceito de império colonial, preconizado pelo Estado Novo. 
A segunda fase veio a coincidir com o início da autodeterminação dos países francófonos de África, já na década de 50, e com a sublevação nas colónias portuguesas, na década seguinte. Em Angola, esta fase cristalizou-se à volta do Grupo da Província, um conjunto de artistas e escritores que contribuíram para o Suplemento Literário do jornal "a província de Angola", logo a partir da década de 40.
Durante a década de 60, este grupo, apoiado tacitamente pelo governo e pela Agência Geral do Ultramar, veio a ser contestado, na sua literatura comprometida com o regime, por escritores de oposição ao colonialismo e ao Salazarismo, como José Luandino Vieira”.
Tudo isto que acabámos de escrever sobre Reis Ventura, foi retirado de um artigo sublime, publicado no último número da revista Aquae flaviae (Grupo Cultural Aquae Flaviae), cuja autoria subscreve o nome dessa lenda viva barrosã (e transmontana), João Barroso da Fonte.
Com grande pena não possuímos o artigo em PDF para o disseminar com as honras que merece pela internet.

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