JORGE LAGE, BARROSO da FONTE (ao centro) e ABÍLIO BASTOS |
“ANGOLA - OS DIAS DO DESESPERO”, foi o primeiro testemunho da guerra que se iniciara a 4 de Fevereiro de 1961 com o assalto às prisões em Luanda e que a 15 de Março assolou todo o norte da província de Angola. O seu autor foi Horácio Caio. Conhecemos o livro aos 11 anos de idade. Era um dos que fazia parte dos livros “escondidos” do nosso pai.
Dizem-nos as crónicas: “Com centena e
meia de páginas o autor, então repórter da RTP, relata os primeiros meses da
guerra em Angola, de 15 de Março a 8 de Julho de 1961, desde os assaltos
selvagens do terrorismo provocado pelas hordas de membros da UPA de Holden
Roberto, no distrito do Congo português.
Neste livro o leitor encontrará relatos
impressionantes e cruéis dos massacres levados a cabo pela UPA contra as
populações civis de brancos e negros civis, mulheres, crianças, velhos e
indefesos.
Destaque também para os milhares de
assassinatos dos trabalhadores bailundos que não estavam enquadrados na
política e estratégia da UPA, com requintes de malvadez”.
Mas não é a Horácio Caio, nem ao seu
testemunho, que o escrito de hoje pretende sublimar. É a outro autor
(transmontano) que a seguir se destacou na Literatura Africana com um volume
notável onde descreve os mesmos factos em “Sangue no capim”. Outro dos grandes
livros da “biblioteca escondida” do nosso pai.
“Reis Ventura é o pseudónimo literário de
Manuel Joaquim dos Reis Barroso. Tendo começado a sua vida pela Ordem de São
Francisco, onde professou com o nome de Vasco Reis e recebeu ordens sacras,
estudou Teologia em Espanha, tendo seguido depois para Moçambique como
missionário. Ali abandonaria não só os franciscanos como as próprias ordens
sacerdotais, tendo regressado a Lisboa onde estudou então na Escola Superior
Colonial. Em 1938 seguiu para Angola, onde trabalhou primeiro como funcionário
administrativo e, ultimamente, como empregado da companhia de petróleos daquela
então colónia. Regressou a Portugal em 1975, tendo-se fixado em Lisboa.
Estreou-se como poeta com o volume A Romaria, que em 1934 recebeu o
"Prémio Antero de Quental" do Secretariado de Propaganda Nacional,
ex-aequo com a Mensagem de Fernando Pessoa. Para além de continuar a cultivar a
poesia, dedicou-se depois a escrever crónicas, contos e romances de temática
colonial, pelo que recebeu alguns prémios da antiga Agência Geral das Colónias.
Está representado nas antologias: Novos Contos d'África, de Garibaldino de
Andrade e Leonel Cosme, 1962; Contos Portugueses do Ultramar, de Amândio César,
1969; O Corpo da Pátria, antologia poética sobre a guerra colonial, de
Pinharanda Gomes, 1971; e Antologia do Conto Ultramarino, de Amândio César,
1972”,
diz-nos o Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Lisboa, 1997.
E sobre este autor flaviense dizem-nos
ainda: “Reis Ventura foi um dos escritores que
integrou aquela que se pode classificar como a segunda fase da literatura
colonial portuguesa de inspiração africana, no século XX. A primeira fase,
representada por escritores como Henrique Galvão (1895-1970), Julião Quintinha
(1885-1968) e Castro Soromenho (1910-1968), desenvolveu-se entre as décadas de
20 e 40 coincidindo predominantemente com a recuperação do conceito de império
colonial, preconizado pelo Estado Novo.
A segunda fase veio a coincidir com o
início da autodeterminação dos países francófonos de África, já na década de
50, e com a sublevação nas colónias portuguesas, na década seguinte. Em Angola,
esta fase cristalizou-se à volta do Grupo da Província, um conjunto de artistas
e escritores que contribuíram para o Suplemento Literário do jornal "a
província de Angola", logo a partir da década de 40.
Durante
a década de 60, este grupo, apoiado tacitamente pelo governo e pela Agência
Geral do Ultramar, veio a ser contestado, na sua literatura comprometida com o
regime, por escritores de oposição ao colonialismo e ao Salazarismo, como José
Luandino Vieira”.
Tudo
isto que acabámos de escrever sobre Reis Ventura, foi retirado de um artigo
sublime, publicado no último número da revista Aquae flaviae (Grupo
Cultural Aquae Flaviae), cuja autoria subscreve o nome dessa lenda viva barrosã
(e transmontana), João Barroso da Fonte.
Com
grande pena não possuímos o artigo em PDF para o disseminar com as honras que
merece pela internet.
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