O que se segue é fruto de leitura que hoje sorvemos no facebook.
Em Abril de
2007 saiu um livro intitulado “Holocausto em Angola”, de autoria de Américo Cardoso
Botelho. Num país decente teria sido um estrondo, no Portugal CORRUPTO de então
(governava José Sócrates e acólitos, incluindo António Costa e os corruptos do
governo actual), passou despercebido.
Em Julho desse
ano chegou-nos às mãos. Uma semana depois estava lido. Pensámos numa recensão. Abandonámos
a ideia. Criámos este blogue em Dezembro de 2010, e a coisa foi passando. Em
2008, António Barreto escreveu um artigo no jornal público sobre o mesmo,
seguido de batidas no peito por alguns “jornalistas” da praça – Artur Queiroz
entre outros.
E qual razão
das batidas no peito? Os testemunhos verdadeiros descritos no volume? Não. As
batidas no peito tinham a ver (apenas) com uma carta de Rosa Coutinho dirigida
a Agostinho Neto! Para Queiroz e acólitos era uma carta forjada. Ou seja, não
era verdadeira!
À época (27
de Abril de 2008), o provedor do Público, Joaquim Vieira, cumpriu com a sua
função, escrevendo um artigo em que sublimava as denúncias de alguns leitores,
incluindo sua Exª Artur Queiroz (que, diz-se no artigo, vivia em Luanda na
altura dos factos). Mais, o provedor recolheu ainda o testemunho de outro
jornalista, Adelino Gomes, que lhe disse que “tinha a ideia de que era falso”.
Tinha a ideia, notem bem!
Ora António
Barreto, na altura, rebelou-se com os factos descritos no livro, e não tinha
obrigação de investigar se a carta publicada no livro era verdadeira ou não! A carta
estava publicada, e era sobre essa publicação que o colunista tinha obrigação
de se pronunciar. Nada mais! E foi o que fez.
Essa carta
havia sido publicada cerca de 10 anos antes no “jornal do Norte (Vila Real). E
em 75 tinha sido publicada no jornal de Joanesburgo (África do Sul).
Se a carta é
verdadeira ou não, não nos podemos pronunciar, porque não possuímos os instrumentos
básicos para o fazer. Mas que o seu conteúdo é verdadeiro isso podemos afirmá-lo
com todas as letras. E porque o podemos fazer, segue o artigo de António
Barreto:
António Barreto - Sociólogo |
Angola é nossa!
"Só hoje
me chegou às mãos um livro editado em 2007, Holocausto em Angola, da autoria de
Américo Cardoso Botelho (Edições Vega). O subtítulo diz: 'Memórias de entre o
cárcere e o cemitério'. O livro é surpreendente. Chocante. Para mim, foi. E
creio que o será para toda a gente, mesmo os que 'já sabiam'. Só o não será
para os que sempre souberam tudo. O autor foi funcionário da Diamang, tendo
chegado a Angola a 9 de Novembro de 1975, dois dias antes da proclamação da
independência pelo MPLA. Passou três anos na cadeia, entre 1977 e 1980. Nunca
foi julgado ou condenado. Aproveitou o papel dos maços de tabaco para tomar
notas e escrever as memórias, que agora edita. Não é um livro de história, nem
de análise política. É um testemunho. Ele viu tudo, soube de tudo. O que ali se
lê é repugnante.
Os assassínios, as prisões e a tortura que se praticaram até à independência, com a conivência, a cumplicidade, a ajuda e o incitamento das autoridades portuguesas. E os massacres, as torturas, as exacções e os assassinatos que se cometeram após a independência e que antecederam a guerra civil que viria a durar mais de vinte anos, fazendo centenas de milhares de mortos. O livro, de extensas 600 páginas, não pode ser resumido. Mas sobre ele algo se pode dizer.
Os assassínios, as prisões e a tortura que se praticaram até à independência, com a conivência, a cumplicidade, a ajuda e o incitamento das autoridades portuguesas. E os massacres, as torturas, as exacções e os assassinatos que se cometeram após a independência e que antecederam a guerra civil que viria a durar mais de vinte anos, fazendo centenas de milhares de mortos. O livro, de extensas 600 páginas, não pode ser resumido. Mas sobre ele algo se pode dizer.
O horror em
Angola começou ainda durante a presença portuguesa. Em 1975, meses antes da
independência, já se faziam 'julgamentos populares', perante a passividade das
autoridades. Num caso relatado pelo autor, eram milhares os espectadores
reunidos num estádio de futebol. Sete pessoas foram acusadas de crimes e
traições, sumariamente julgadas, condenadas e executadas a tiro diante de toda
a gente. As forças militares portuguesas e os serviços de ordem e segurança
estavam ausentes. Ou presentes como espectadores.
A impotência
ou a passividade cúmplice são uma coisa. A acção deliberada, outra. O que
fizeram as autoridades portuguesas durante a transição foi crime de traição e
crime contra a humanidade. O livro revela os actos do Alto-Comissário Almirante
Rosa Coutinho, o modo como serviu o MPLA, tudo fez para derrotar os outros
movimentos e se aliou explicitamente ao PCP, à União Soviética e a Cuba. Terá
sido mesmo um dos autores dos planos de intervenção, em Angola, de dezenas de
milhares de militares cubanos e de quantidades imensas de armamento soviético.
O livro publica, em fac simile, uma carta do Alto-Comissário (em papel timbrado
do antigo gabinete do Governador-geral) dirigida, em Dezembro de 1974, ao então
Presidente do MPLA, Agostinho Neto, futuro presidente da República. Diz ele:
'Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos
aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon
que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada
Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para
aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a
fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as
crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão
arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os
fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos,
de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira
que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa
instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução
daquela'.
Estes gestos
das autoridades portuguesas deixaram semente. Anos depois, aquando dos golpes e
contragolpes de 27 de Maio de 1977 (em que foram assassinados e executados sem
julgamento milhares de pessoas, entre os quais os mais conhecidos Nito Alves e
a portuguesa e comunista Sita Valles), alguns portugueses encontravam-se
ameaçados. Um deles era Manuel Ennes Ferreira, economista e professor.
Tendo-lhe sido assegurada, pelas autoridades portuguesas, a protecção de que
tanto necessitava, dirigiu-se à Embaixada de Portugal em Luanda. Aqui, foi
informado de que o vice-cônsul tinha acabado de falar com o Ministro dos
Negócios Estrangeiros. Estaria assim garantido um contacto com o Presidente da
República. Tudo parecia em ordem. Pouco depois, foi conduzido de carro à
Presidência da República, de onde transitou directamente para a cadeia, na qual
foi interrogado e torturado vezes sem fim. Américo Botelho conheceu-o na prisão
e viu o estado em que se encontrava cada vez que era interrogado.
Muitos dos
responsáveis pelos interrogatórios, pela tortura e pelos massacres angolanos
foram, por sua vez, torturados e assassinados. Muitos outros estão hoje vivos e
ocupam cargos importantes. Os seus nomes aparecem frequentemente citados, tanto
lá como cá. Eles são políticos democráticos aceites pela comunidade
internacional. Gestores de grandes empresas com investimentos crescentes em
Portugal. Escritores e intelectuais que se passeiam no Chiado e recebem prémios
de consagração pelos seus contributos para a cultura lusófona. Este livro é, em
certo sentido, desmoralizador. Confirma o que se sabia: que a esquerda perdoa o
terror, desde que cometido em seu nome. Que a esquerda é capaz de tudo, da
tortura e do assassinato, desde que ao serviço do seu poder. Que a direita
perdoa tudo, desde que ganhe alguma coisa com isso. Que a direita esquece tudo,
desde que os negócios floresçam. A esquerda e a direita portuguesas têm, em
Angola, o seu retrato. Os portugueses, banqueiros e comerciantes, ministros e
gestores, comunistas e democratas, correm hoje a Angola, onde aliás se cruzam
com a melhor sociedade americana, chinesa ou francesa.
Para os
portugueses, para a esquerda e para a direita, Angola sempre foi especial. Para
os que dela aproveitaram e para os que lá julgavam ser possível a sociedade sem
classes e os amanhãs que cantam.
Para os que
lá estiveram, para os que esperavam lá ir, para os que querem lá fazer negócios
e para os que imaginam que lá seja possível salvar a alma e a humanidade. Hoje,
afirmado o poder em Angola e garantida a extracção de petróleo e o comércio de
tudo, dos diamantes às obras públicas, todos, esquerdas e direitas, militantes
e exploradores, retomaram os seus amores por Angola e preparam-se para abrir
novas vias e grandes futuros. Angola é nossa! E nós? Somos de quem?
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