Isabel dos Santos.
Reportagem da BBC mostra como a "bilionária corrupta" construiu a sua fortuna
Reportagem da BBC mostra como a "bilionária corrupta" construiu a sua fortuna
FONTE - OBSERVADOR TVI
Reportagem
do programa “Panorama”, da BBC, mostra como Isabel dos Santos explorou os
recursos naturais do seu país para construir a sua fortuna pessoal. Tudo com a
conivência do Presidente de Angola.
Isabel dos
Santos negou falar com o programa "Panorama".
[Na passada] quarta-feira, a BBC transmitiu um episódio
especial do programa “Panorama” dedicado exclusivamente a Isabel dos Santos.
Intitulado “A bilionária corrupta”, este mostra, com base nos mais de 700 mil
documentos recentemente divulgados, como a empresária explorou os recursos
naturais do seu país para construir a sua fortuna pessoal, beneficiando do
lugar privilegiado que ocupava enquanto filha do Presidente de Angola, José Eduardo
dos Santos.
A primeira parte do episódio é dedicada aos negócios
da mulher mais rica de África na área da construção e dá a conhecer uma
comunidade nos arredores de Luanda que vive junto a um esgoto a céu aberto
depois de ter sido obrigada a abandonar as suas casas numa vila piscatória pela
polícia. As suas terras tinham sido marcadas para o desenvolvimento de uma zona
costeira, um plano aprovado pelo antigo Presidente angolano que nunca andou
para a frente e que, segundo o “Panorama”, envolvia as empresas de construção
de Isabel dos Santos. Os advogados da empresária, que recusou o pedido de
entrevista do “Panorama”, negaram qualquer envolvimento no negócio, tal como
negaram todas as outras acusações apontadas pelo programa da BBC.
A escalada de Isabel dos Santos dentro da Sonangol tem
grande destaque no episódio. O primeiro negócio que é referido é da venda de
40% da participação da empresa petrolífera angolana na Galp à filha do
ex-Presidente. O preço estabelecido foi de 75 milhões de euros mas, de acordo
com o “Panorama”, não foi isso que a empresária pagou: “Documentos que nunca
foram mostrados antes mostram que só teve de pagar 15% do preço adiantado. Os
restantes 85%, ou 63 milhões de euros, foram diferidos e transformados em
empréstimos da empresa de petróleo estatal”. Este investimento vale hoje “três
quartos de mil milhões de euros”.
Outro negócio referido pelo “Panorama” no programa
desta quarta-feira é o da compra de uma percentagem do joalheiro de luxo suíço
Grisogono. O acordo deveria ter sido de 50/50 com o marido de Isabel dos
Santos, o empresário e colecionador de arte Sindika Dokolo, mas que, segundo os
jornalistas do programa da BBC, foi maioritariamente custeado pelo Estado. Este
terá investido 71 milhões de euros e a empresa de Dokolo, a Melbourne, 4
milhões. “E mesmo isso foi financiado pelo Estado”, garante o “Panorama”,
acrescentando que o empresário congolês terá recebido “uma taxa de cinco
milhões de euros” por ter servido de intermediário no acordo. Dokolo terá
posteriormente entrado com algum dinheiro — 103 milhões de euros, de acordo os
seus advogados.
Isabel dos Santos negara, em entrevista à BBC News,
qualquer envolvimento no negócio da Grisogono. Mas a documentação prova que
estaria envolvida, afirma o “Panorama”, que revelou um documento bancário no
qual a angolana surge como beneficiária económica e um outro que mostra que
tinha uma participação na empresa suíça.
Outra faceta dos negócios de Isabel dos Santos
referida diz respeito à Unitel. A empresária possui 25% da principal empresa de
telecomunicações angolana, que comprou há uns anos a um alto funcionário do
Governo angolano. A percentagem vale um mil milhões de euros e já rendeu outros
mil milhões em dividendos, diz o “Panorama”. Porém, segundo o programa, a
documentação divulgada mostra que “ela conseguiu ainda mais dinheiro, através
de empréstimos” feitos pela Unitel a uma outra empresa criada por si, a Unitel
International Holdings. Os advogados da filha do ex-Presidente dizem que os
empréstimos, no valor de 350 milhões de euros, protegeram a empresa de
telecomunicações de “flutuações cambiais”, mas nos documentos Isabel dos Santos
surge como mutuário e credor. “Ela emprestou 350 milhões de euros a si
própria”, refere o programa.
A maioria dos acordos de Isabel dos Santos foram
supervisionados pela maior empresa de contabilidade do Reino Unido, a PWC, cujo
envolvimento deu legitimidade aos negócios da angolana. O “Panorama” contactou
a empresa, que anunciou que ia levar a cabo um inquérito para apurar as
“alegações muito sérias e preocupantes” que tinham sido levantadas e que tinha
colocado um ponto final em “qualquer trabalho em andamento para entidades
controladas por membros da família dos Santos”.
O responsável da PWC pelo departamento de fiscalidade
em Portugal, Angola e Cabo Verde, decidiu entretanto abandonar a empresa.
Contactado pelo Observador na terça-feira, Jaime Esteves disse que ele e outros colegas do mesmo
departamento tomaram a decisão de abandonarem os cargos dada a “seriedade das
alegações do Luanda Leaks”.
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