quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Manuela Morais prodígio da Natureza


MANUELA  MORAIS

Por BARROSO da FONTE


Manuela Morais é uma escritora Transmontana que lê, edita,apadrinha, divulga e produz prosa e poesia, desde menina e moça, numa espécie de missionação cultural que o destino lhe impôs. Licenciada em línguas e, desde cedo, comprometida com as artes e as letras de dois vultos da literatura e da pintura, que nos deixaram, como deixaram criação que baste para os eternizar, entendeu Manuela Morais, depois de tão marcante vivência cultural, gerir uma editora que prolongasse a obra desses dois talentos da diáspora, através da servidão a outros e aos próprios. Casada com o Fernão de Magalhães Gonçalves, o mais profundo estudioso investigador de Miguel Torga, acompanhou-o na peregrinação docente, como leitor de Português em Granada e em Tóquio.

Nesta enorme cidade oriental foi fulminado por um ataque fatal quando seguia na via pública, de braço dado com a sua musa. Perdeu a cultura Portuguesa um jovem e talentoso escritor que deixou uma boa dúzia de obras do melhor que se produziu na sua geração.
Manuela Morais, mulher culta, fadada para dar testemunho do seu herói de muitos anos, fundou a Tartaruga, com sede em Chaves e no Porto. Criou o Prémio Literário «Fernão de Magalhães Gonçalves» que anualmente atribuiu e que consistia em patrocinar integralmente a obra e o autor (a) que no seu entendimento o merecessem. Anos depois da morte do primeiro marido, casou com outro enorme artista que aliou a arte pictórica com o renascido amor que encontrou na musa Manuela Morais. Esta generosa mulher que viveu rodeada de beleza física, intelectual e moral, passou a fazer desta trilogia de nomes e de sentimentos as capas de Espiga Pinto, nome do segundo marido com o qual construiu mais uma etapa da sua existência. Para dar evidência ao princípio do «homem e as suas circunstância», mais uma cilada se interpôs com a morte  deste Artista Alentejano.
Manuela Morais, em prosa e em verso já editou um punhado de obras da sua lavra, todas com edições esgotadas porque quando o amor, a solidariedade e a convivência pacífica se entrelaçam, a vida manifesta-se pela palavra inspirada, pelo gesto fraterno e pela bondade que se encontra onde menos se espera.
Júlia Serra outra distinta docente que desde há muitos anos se tornou recensora de obras alheias e que veio substituir uma lacuna nacional, que credibilizava as revistas e suplementos literários que foram desaparecendo pela crise da imprensa nacional, acabou de escrever uma recensão sobre as «Árvores Encantadas» sobre o último livro de Manuela Morais.
Incapaz de sintetizar tão pormenorizada, objetiva e oportuna crítica, deixo aqui reproduzidos, da recensão de Júlia Serra que tempo caminhado [https://tempocaminhado.blogspot.com/2019/11/arvores-encantadas-de-manuela-morais.htmldivulgou dia 27 do corrente, sobre o último livro de Manuela Morais, a que chamou “Árvores Encantadas”.
É uma bela história de Amor que começa num jardim da cidade Invicta, num local concreto e que tem como principal encanto uma Magnólia branca. Este conto – caracterizado pelo seu começo: “Era uma vez”(p.9) - remete de imediato para um “jardim celestial”, fazendo lembrar: o Jardim Edénico ou o Jardim do Cânticos dos Cânticos, a Ilha dos Amores de Camões, o Jardim de Sophia de Mello Breyner, o Jardim de Amor de William Blake ou até mesmo o Jardim de Milton ou o Jardim Secreto de Baudelaire. Era um Jardim povoado de gnomos e pássaros, com uma Fonte, onde se respirava a alegria e o amor da família que o possuía. O seu príncipe guardião com um cavalo “da cor do ébano” mantinha rituais quotidianos neste lugar idílico: “À noite, antes das árvores e dos pássaros adormecerem, o Príncipe cavaleiro protector voltava…O Príncipe trancava o seu tesouro, o jardim, com as sete chaves…”(p.11). Deste local secreto e místico, o Príncipe voava e levando consigo a Magnólia personificada para lhe mostrar as mais belas paisagens de Portugal. Na garupa do seu cavalo, que ao longo da história se apresenta de várias cores, lá se empoleiravam ambos a sonhar e a usufruir da alegria da vida. Surgem paisagens deslumbrantes e recordações de Norte a Sul do país».
Depois desta viagem  pela imaginação da autora de «árvores encantadas» qualquer leitor enamorado pelo labirinto cósmico, fica com o irresistível desejo de ler todos os seus livros: «Três Rios abraçam o coração, 55 orações Marianas, a Tartaruga Sonhadora, Cântico ao Amor e, agora, árvores encantadas».
Neste seu mais recente livro a Autora reproduz, na primeira página de texto útil, quatro citações de louvor às árvores, à natureza, às plantas, às paisagens, ao aroma, às flores, às montanhas. É esse o seu mundo: da fauna, da flora e do amor. Essas quatro citações poéticas entrelaçam-se numa espécie de diálogo saudoso, romântico e misterioso.
«O jardim ou o bosque ou o rio qual /deles chegará primeiro da memória à vontade da/ saudade ao desejo das / mãos dadas a um beijo» escreveu Fernão de Magalhães Gonçalves, seu primeiro amor.
A esta alegoria corresponde a bem-amada musa:
« Fixo o olhar/ nas árvores plantadas,/ no deslumbramento da paisagem / recitando preces de alegria / a esta terra abençoada».
Os sortilégios da arte, sejam expressos em palavras, em traços e tintas ou em meros gorjeios de voz manifestam-se, habilidosamente, nesta obra da Manuela Morais, onde as metáforas são como estrelas brilhantes no firmamento de cada ser apaixonado.

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