MANUELA MORAIS |
Por BARROSO da FONTE
Manuela Morais é
uma escritora Transmontana que lê, edita,apadrinha, divulga e produz prosa e
poesia, desde menina e moça, numa espécie de missionação cultural que o destino
lhe impôs. Licenciada em línguas e, desde cedo, comprometida com as artes e as
letras de dois vultos da literatura e da pintura, que nos deixaram, como deixaram
criação que baste para os eternizar, entendeu Manuela Morais, depois de tão
marcante vivência cultural, gerir uma editora que prolongasse a obra desses
dois talentos da diáspora, através da servidão a outros e aos próprios. Casada
com o Fernão de Magalhães Gonçalves, o mais profundo estudioso investigador de
Miguel Torga, acompanhou-o na peregrinação docente, como leitor de Português em
Granada e em Tóquio.
Nesta enorme cidade oriental foi fulminado por um ataque
fatal quando seguia na via pública, de braço dado com a sua musa. Perdeu a
cultura Portuguesa um jovem e talentoso escritor que deixou uma boa dúzia de
obras do melhor que se produziu na sua geração.
Manuela Morais,
mulher culta, fadada para dar testemunho do seu herói de muitos anos, fundou a
Tartaruga, com sede em Chaves e no Porto. Criou o Prémio Literário «Fernão de
Magalhães Gonçalves» que anualmente atribuiu e que consistia em patrocinar
integralmente a obra e o autor (a) que no seu entendimento o merecessem. Anos
depois da morte do primeiro marido, casou com outro enorme artista que aliou a
arte pictórica com o renascido amor que encontrou na musa Manuela Morais. Esta
generosa mulher que viveu rodeada de beleza física, intelectual e moral, passou
a fazer desta trilogia de nomes e de sentimentos as capas de Espiga Pinto, nome
do segundo marido com o qual construiu mais uma etapa da sua existência. Para
dar evidência ao princípio do «homem e as suas circunstância», mais uma cilada
se interpôs com a morte deste Artista
Alentejano.
Manuela Morais, em
prosa e em verso já editou um punhado de obras da sua lavra, todas com edições
esgotadas porque quando o amor, a solidariedade e a convivência pacífica se
entrelaçam, a vida manifesta-se pela palavra inspirada, pelo gesto fraterno e
pela bondade que se encontra onde menos se espera.
Júlia Serra outra
distinta docente que desde há muitos anos se tornou recensora de obras alheias
e que veio substituir uma lacuna nacional, que credibilizava as revistas e
suplementos literários que foram desaparecendo pela crise da imprensa nacional,
acabou de escrever uma recensão sobre as «Árvores Encantadas» sobre o último
livro de Manuela Morais.
Incapaz de
sintetizar tão pormenorizada, objetiva e oportuna crítica, deixo aqui
reproduzidos, da recensão de Júlia Serra que tempo caminhado [https://tempocaminhado.blogspot.com/2019/11/arvores-encantadas-de-manuela-morais.html] divulgou dia 27 do corrente, sobre o último livro de Manuela Morais, a que
chamou “Árvores Encantadas”.
É uma bela
história de Amor que começa num jardim da cidade Invicta, num local concreto e
que tem como principal encanto uma Magnólia branca. Este conto – caracterizado
pelo seu começo: “Era uma vez”(p.9) - remete de imediato para um “jardim
celestial”, fazendo lembrar: o Jardim Edénico ou o Jardim do Cânticos dos
Cânticos, a Ilha dos Amores de Camões, o Jardim de Sophia de Mello Breyner, o
Jardim de Amor de William Blake ou até mesmo o Jardim de Milton ou o Jardim
Secreto de Baudelaire. Era um Jardim povoado de gnomos e pássaros, com uma
Fonte, onde se respirava a alegria e o amor da família que o possuía. O seu
príncipe guardião com um cavalo “da cor do ébano” mantinha rituais quotidianos
neste lugar idílico: “À noite, antes das árvores e dos pássaros adormecerem, o
Príncipe cavaleiro protector voltava…O Príncipe trancava o seu tesouro, o
jardim, com as sete chaves…”(p.11). Deste local secreto e místico, o Príncipe
voava e levando consigo a Magnólia personificada para lhe mostrar as mais belas
paisagens de Portugal. Na garupa do seu cavalo, que ao longo da história se
apresenta de várias cores, lá se empoleiravam ambos a sonhar e a usufruir da
alegria da vida. Surgem paisagens deslumbrantes e recordações de Norte a Sul do
país».
Depois desta
viagem pela imaginação da autora de
«árvores encantadas» qualquer leitor enamorado pelo labirinto cósmico, fica com
o irresistível desejo de ler todos os seus livros: «Três Rios abraçam o
coração, 55 orações Marianas, a Tartaruga Sonhadora, Cântico ao Amor e, agora,
árvores encantadas».
Neste seu mais
recente livro a Autora reproduz, na primeira página de texto útil, quatro
citações de louvor às árvores, à natureza, às plantas, às paisagens, ao aroma,
às flores, às montanhas. É esse o seu mundo: da fauna, da flora e do amor.
Essas quatro citações poéticas entrelaçam-se numa espécie de diálogo saudoso,
romântico e misterioso.
«O jardim ou o
bosque ou o rio qual /deles chegará primeiro da memória à vontade da/ saudade
ao desejo das / mãos dadas a um beijo» escreveu Fernão de Magalhães Gonçalves,
seu primeiro amor.
A esta alegoria
corresponde a bem-amada musa:
« Fixo o olhar/
nas árvores plantadas,/ no deslumbramento da paisagem / recitando preces de
alegria / a esta terra abençoada».
Os sortilégios da
arte, sejam expressos em palavras, em traços e tintas ou em meros gorjeios de
voz manifestam-se, habilidosamente, nesta obra da Manuela Morais, onde as
metáforas são como estrelas brilhantes no firmamento de cada ser apaixonado.
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