Sobre “ÁRVORES ENCANTADAS” de Manuela Morais
A obra “Árvores Encantadas” é uma bela história de
Amor que começa num jardim da cidade Invicta, num local concreto e que tem como
principal encanto uma Magnólia branca. Este conto – caracterizado pelo seu
começo: “Era uma vez”(p.9) - remete de imediato para um “jardim celestial”,
fazendo lembrar: o Jardim Edénico ou o Jardim do Cânticos dos Cânticos, a Ilha
dos Amores de Camões, o Jardim de Sophia de Mello Breyner, o Jardim de Amor de
William Blake ou até mesmo o Jardim de Milton ou o Jardim Secreto de
Baudelaire. Era um Jardim povoado de gnomos e pássaros, com uma Fonte, onde se
respirava a alegria e o amor da família que o possuía.O seu príncipe guardião
com um cavalo “da cor do ébano” mantinha rituais quotidianos neste lugar
idílico: “À noite, antes das árvores e dos pássaros adormecerem, o Príncipe
cavaleiro protector voltava…O Príncipe trancava o seu tesouro, o jardim, com as
sete chaves…”(p.11). Deste local secreto e místico, o Príncipe voava e levando
consigo a Magnólia personificada para lhe mostrar as mais belas paisagens de
Portugal. Na garupa do seu cavalo, que ao longo da história se apresenta de
várias cores, lá se empoleiravam ambos a sonhar e a usufruir da alegria da
vida. Surgem paisagens deslumbrantes e recordações de Norte a Sul do país.
Depois da Magnólia branca, por associação de
ideias, a narradora evoca as suas irmãs de cor diferente e as suas origens
“Certo dia, as irmãs Magnólia viajaram para o Extremo Oriente para conhecerem a
sua família ancestral” (p.14) e chegaram até à cidade de “Seoul, na Corei do
Sul”(p.14).Em Portugal, as magnólias existem em jardins públicos e privados e
são motivo de admiração dos transeuntes.
Para uma
melhor compreensaõ da leitura, A Magnólia
contituirá o primeiro capítulo do conto, ao qual se juntam mais quatro -O Pinheiro, A Oliveira, O Castanheiro e a
Amendoeira – totalizando cinco capítulos, através de árvores diferentes.É,
portanto, um conto com o maravilhoso e o fantástico característico dos contos
juvenis, mas portador de uma mensagem mais profunda e hermética no despertar a
Consciência Cósmica. São páginas de magia e de imaginação que transportam,
através da memória, o leitor para mundos insondáveis do conhecimento e fabricam
uma teia de cumplicidade com a narradora.Cada um destes capítulos da história
de Amor contém um belo poema à árvore em destaque, recheando a prosa e o discurso
de poesia. Para além deste hibridismo, a estratégia discursiva anunciada no
primeiro capítulo e que dá azo à transformação da árvore em pessoa é um dos
ingredientes mais ricos e hábeis invejado por qualquer escritor, conferindo,
assim, um estatuto mais elevado ao poder da palavra e à diegese. Esta abordagem
centrada na metáfora da árvore remete para uma reflexão profunda sobre os valores
efémeros da vida na terra e o fluir temporal alicerçado no jogo
passado/presente. Aqui, é o poder da memória que regasta o passado e recria, no
presente, os encontros/desencontros do caminho da vida protagonizados pelo
Princípe e pela Magnólia. Os vários locais visitados por ambos, no seu cavalo
alado, são testemunho do Amor e da Paz de um passado, estampado no Jardim de
outrora, hoje “Jardim perdido” , uma mera reminiscência como Proust escreveu: “
Les vrais paradis sont les paradis qu’on a perdus”. O Jardim e as Árvores,
situados num plano de horizontalidade, apontam para um plano mais elevado e
vertical – o Céu- consubstanciando nesta imagem uma força mítica e verdadeira,
provocando outras reflexões pra além da leitura linear, normalmente simples, própria
de um conto juvenil Esta caracterrística, acrescida de outras já indicadas,
pressupõe que ao espírito criativo se juntaram os elementos essenciais
conjugados em Yin e Yang, Masculino e Feminino. Estas e outras alusões combinam
com o Desenvolvimento da “Teoria das Cordas” que a narradora expõe na pág.
24:”A Teoria das Cordas tenta reconciliar a relatividade geral com a teoria
quântica, substituindo as partículas por minúsculas cordas vibratórias,
desenvolvendo um holograma no limiar da inflação eterna”.
A terminar
esta bela obra, que considero uma verdadeira alegoria, a autora escreveu: Este
livro começou por ser meu e, a partir de agora, é teu”.
Obrigada,
amiga Manuela, por esta dádiva maravilhosa.
Júlia Serra
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