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Dom Ximenes Belo, Dr. Hirondino Isaías (presidente da CTMAD de LISBOA) e Professor Doutor Adriano Moreira |
Na passada Quinta-feira, a sede da agremiação
transmontana sediada em Lisboa, foi palco de memorável evento cultural: o
lançamento público do livro “Missionários Transmontanos em Timor-Leste”, de autoria
do Bispo de Timor, também prémio Nobel da Paz em 1996.
O evento juntou duas personalidades singulares – Dom
Ximenes Belo, autor do volume, e o Professor Doutor Adriano Moreira que o
apresentou ao público Transmontano e ao público Timorense que aí acorreu em
grande número.
Tivemos o privilégio, o prazer e a honra de
participar no volume com singelo texto a modos de prefácio que segue:

“A
obra da missionação de Timor-Leste começou no longínquo ano de 1556, quando um
frade dominicano de nome António Taveira (ou Taveiro) baptizou mais de cinco
pessoas na ilha de Timor e em Ende (Flores, Indonésia)”, retira-se da
introdução. Na verdade, o contacto entre Portugueses e Timorenses são remotos. Se
o descobrimento de Timor é incerto, a ilha já figura, em 1512, nos mapas do
piloto-cartógrafo Francisco Rodrigues. E em 1514, as cartas de Rui de Brito
fazem-lhe referência.
Quando
os Portuguese chegaram a Timor, as comunidades estavam organizadas em chefatura
hierarquizadas, com religião animista e sem conhecerem a escrita. Falavam duas
dezenas de línguas e estavam repartidas em quatro dezenas de reinos, agrupados
em duas confederações: a do Servião, a Oeste, encabeçada pelo régulo de
Senobai, e a dos Belos, a Leste, dominada por uma aristocracia militar de
língua teto, chefiada pelo régulo de Bé-Hali.
Quando
em 1511, os Portugueses, com a conquista de Malaca, passaram a dominar o
comércio externo timorense, inicia-se a primeira
fase da presença portuguesa em Timor, no período que medeia entre 1514/1556.
Nesta primeira fase, a presença portuguesa em Timor, limitou -se,
periodicamente, ao comércio do sândalo, e a visitas esporádicas. E é a partir
deste período que essa presença se faz sentir durante c. de 450 anos, por mais
três fases.
A
segunda fase tem início com a acção
do franciscano frei António Taveira, estendendo-se entre 1556 e 1703. Foi o
início da missionação. Instalados inicialmente na ilha de Solor, os
missionários, poucos anos depois, ocuparam a ilha de Timor, convertendo os
chefes e o seu povo ao Cristianismo. Mena, no Servião, foi o primeiro reino a
converter-se. Em 1590 já lá havia uma igreja. Até 1834 as missões de Solor e
Timor estiveram sob a tutela dos Dominicanos. Não é por acaso que o brasão do
Timor português incluía ao lado das quinas a cruz de São Domingos. É com frei
Cristóvão Rangel (c. 1633) e frei António de São Jacinto (c. 1639) que a
religião católica aí cria raízes definitivas. Por esta altura são fundadas
algumas escolas e três seminários: o primeiro, ainda em pleno século XVI, em
Solor, os outros dois em Timor – um no Servião (Oé-Cussi) e o outro nos Belos
(Manatuto).
Aos
ataques dos Holandeses Calvinistas (1595), dos Buguizes e Macáçares de Celebes
islamizados, a partir de 1603, os missionários ergueram um forte em Solor, cujo
comando confiaram a uma “dinastia de capitães” (fidalgos portugueses de origem
goesa) que, mais tarde, se deixou corromper.
Por
pressão dos missionários, comerciantes de sândalo e alguns régulos cristãos,
declarados vassalos do Rei de Portugal, inicia-se a terceira fase (1703-1894) de influência portuguesa, com a nomeação
de um governador para Timor, que passa a ser um protetorado português de
estrutura federal. A hierarquia feudal nativa é integrada na hierarquia militar
portuguesa; a bandeira portuguesa, transformada num Totem colectivo da
comunidade luso-timorense, torna-se objecto de culto. O Catolicismo e a língua
portuguesa tornam-se factores poderosos de união e integração social – e de
diferenciação em relação aos povos circunvizinhos. É, contudo, um período de agitação
interna e a investida dos Holandeses no Servião, obriga à transferência da
capital para Díli (1769). O fervor missionário cai a pique entre 1704 e 1811. E
com a extinção das ordens religiosas em 1834, as missões de Timor ficaram sob a
tutela dos sacerdotes seculares goeses.
A
partir de 1877, as missões religiosas foram reestruturadas pelo padre Medeiros,
futuro bispo de Macau. Trouxe para a ilha irmãs canossianas, construiu igrejas,
abriu escolas, introduziu várias plantas uteis, e o gado vacum de raça
holandesa.
Com
o governador Celestino da Silva (1894-1908), abre-se a quarta fase da influência portuguesa nesta área do Pacifico. Leva a
cabo grandes campanhas de pacificação com a ajuda de tropas de reinos fiéis,
entre as quais se destacam os Leais Moradores de Manatuto, recrutados na região
mais cristianizada de Timor. Ao mesmo tempo implantou-se a economia de
plantação, sobretudo de café.
Em
1898, na Soibada, os jesuítas abriram um colégio destinado à formação de
professores catequistas, o principal veículo de alfabetização, cristianização e
transmissão da cultura portuguesa nos meios rurais. Permaneceu até 1974 o
alfobre da elite de letrados nativos.
Até
1974 a soberania portuguesa não sofreu nenhuma contestação interna. Os laços de
amizade ultrapassaram, durante séculos, pequenas desavenças de personalidade.
Quão melhor exemplo se pode chamar à liça, do que aquele protagonizado pelos
régulos Dom Aleixo e Dom Jeremias, durante a ocupação japonesa de 1942-1945,
que pagaram com a vida a fidelidade à bandeira portuguesa?
É,
pois, desta amizade que trata o volume que têm em mãos. Amizade de povos, de
gente, de irmãos. É ainda a história destes missionários Transmontanos aqui
contada pela mão mestra de Dom Ximenes Belo, que ainda antes (1876-77)
da quarta fase de influência portuguesa, “trabalharam nas Missões Católicas de
Timor-Leste (antigo Timor Português)”, distinguindo-se em várias vertentes
sociais e culturais.
Após
um interregno de quatro décadas, consequência do decreto de 1834, exarado por
António Joaquim de Aguiar, que suprimia as ordens religiosas no território
ultramarino, as missões de Timor foram integradas na Diocese de Macau. São
então enviados para Timor, em 1877, sete sacerdotes, cuja lista é encabeçada
pelo transmontano (flaviense) António Joaquim Medeiros, mais tarde nomeado
Bispo de Macau e de Timor. Ao deixarem o seu torrão natal, no extremo
transmontano dos dois distritos (Vila Real e Bragança), “fizeram de Timor a
terra de eleição”, onde, além “da ação evangelizadora, os missionários
ensinaram aos alunos timorenses noções de agricultura e de pecuária, trabalhos
de “artes e ofícios”. O padre Basílio de Sá, em Baucau, ensinou os seus alunos
a virar a terra, a plantar e regar os feijões, etc. E o padre Alberto da
Ressurreição Gonçalves, missionário em Ainaro/Suro, desenvolveu a agricultura,
introduzindo a charrua. Outros incentivaram a abertura de hortas de milho e de
campos de arroz e a plantação de café, coqueiros, bananeiras, laranjeiras, nos
terrenos da Missão. Outros houve que se notabilizaram na escrita,
concretamente, o Bispo Dom António Joaquim de Medeiros, que publicou alguns
livros, padre Artur Basílio de Sá e o padre José João de Andrade.
Timor
é isto. Uma ligação enorme a Portugal, e à sua província mais periférica:
Trás-os-Montes”.
Oeiras,
14 de Setembro, XVIII
Armando
Palavras
Bom dia! Um Senhor Prefácio de quem tem um grande arcabouço intelectual, pegando no tema com uma leveza, sabedoria e mestria. Parabéns Doutor Armando Palavras pelos muitos contributos dados a Trás-os-Montes e Alto Douro e a Portugal. Jorge Lage
ResponderEliminarMuito obrigado, meu bom Amigo.
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