João Lemos Esteves - Jornal i
1. A saga familiar prossegue: na passada semana
tivemos a oportunidade de assistir a novos episódios desta série (algures entre
a sitcom de qualidade duvidosa e a telenovela trágica). Aliás, poderia ser a
nova estreia do Fox Comedy: PS, Uma Família Muito Modernaça. Tem todos os
ingredientes para prender a atenção dos telespetadores e se converter num êxito
retumbante de audiências: tem a exploração da cultura da cunha; tem o
funcionamento implacável de uma rede de cumplicidades e amizades; tem o exagero
próprio da comédia, que consiste em negar a realidade evidente, brincando com
os portugueses (as vítimas e os atores secundários da trama socialista); e o
amor, personificado pela mensagem lírico-poética, em jeito de balada à paixão
gerada pela luta na secção entre o Pedro Nuno e a Catarina. É Uma Família
(Socialista) Muito Modernaça do séc. xxi, um hit da comédia-tragédia nacional
que nunca cessa de nos surpreender.
2. Imagine, agora, que este caso do “Familygate”
socialista se passaria com um Governo do PPD/PSD – a comunicação social não
largaria o assunto, iria atrás dos ministros em causa, perseguiriam os
familiares dos ministros em causa, dedicariam horas e horas de debate, sempre a
caricaturar a direita como o “terrível centro dos interesses diabólicos e
egoístas da sociedade”. Entendamo-nos: criar uma teia de ligações familiares na
estrutura do Estado é censurável, independentemente dos seus protagonistas e
beneficiários. O problema é que o Partido Socialista tem uma história recente
que imporia maior prudência, sensatez e decência: não podemos olvidar que os
socialistas apoiaram um primeiro-ministro que é acusado de corrupção no
exercício das suas funções políticas. Nem podemos ignorar que o Partido
Socialista é o partido que abandonou o Governo, em 2001, após atolar Portugal
num genuíno pântano (no qual ainda estamos soterrados). Isto é: as duas últimas
experiências governativas do PS resultaram em tragédia para o povo português.
Seria, pois, expetável que os socialistas tivessem algum sentido de contenção
no assalto ao aparelho do Estado, que evidenciassem algum (ainda que mínimo)
sentimento de arrependimento, que se esforçassem por, desta vez, mostrar que
também partilham alguma noção de ética no exercício de cargos públicos.
3. Qual quê! Os socialistas, em vez de humildade
democrática, exibiram, nos últimos quatro anos, uma arrogância e uma
prepotência que desafiam todos os limites da decência democrática; em vez de
bom senso e de lucidez para aprender com os erros de governações pretéritas, o
PS de Costa conseguiu a proeza de fazer tão mal ou pior que António Guterres e
José Sócrates. António Costa mostrou, mais uma vez, que se julga o “dono disto
tudo”. Na verdade, esta conclusão não deve surpreender-nos: os membros do atual
Governo são os mesmos que serviram José Sócrates e Guterres ou que os apoiaram
vibrantemente. Ora, se os protagonistas são os mesmos, se evidenciam a mesma
postura, se mantêm as mesmas convicções e a mesma ausência de ética e a mesma
omnipotência do desejo de poder total e a todo o custo, como acreditar que o
consulado geringonçado de António Costa terminará de forma diversa? Não vai
terminar. A História demonstrará o quanto – outra vez! – o PS prejudicou o povo
português, com a mercantilização de lugares públicos que promoveu a favor da
extrema- -esquerda e dos interesses especiais que serve. Escusa de vir o
inenarrável Pedro Marques (não sabe quem é? Não se preocupe… é normal; Marques
é o cabeça-de--lista do PS às europeias ou, porventura para si será mais fácil,
o protagonista daquela dança inesquecível no Carnaval de Torres Vedras)
reclamar o legado de Mário Soares – este é mais um exercício de puro cinismo
político. A verdade é que António Costa renunciou ao legado histórico de Mário
Soares ao aliar-se à extrema-esquerda do PCP e do BE para surripiar o poder que
havia perdido nas urnas. Hoje, já ninguém contesta uma conclusão deveras óbvia:
o PS de Costa é a negação do PS de Mário Soares.
4. E o que é o PS de Costa? Não é mais do que uma
coligação entre radicais de esquerda e interesses especiais ligados às empresas
do regime. O PS abandonou o seu eleitorado tradicional – a classe média – para
abraçar os interesses da elite que está hipotecando (definitivamente?) o futuro
da nossa pátria e do nosso povo. Já agora: é muito curioso constatar que a
relação entre o PS e o PCP melhorou significativamente à medida que a presença
chinesa no nosso país se intensificou. Ora, sabendo nós que os interlocutores
privilegiados da China em Portugal são o PCP e o PS, seria muito interessante
estudar a correlação entre estes dois factos…Donde, a questão das ligações
perigosas familiares na imensa estrutura do Estado não é mero acaso. Nem é,
como – ingenuamente – afirmam os comentadores políticos que pululam nas
televisões nacionais, um mero erro político ou descuido de António Costa. Nada
disso; Costa tolerou e incentivou a nomeação de um círculo restrito de pessoas
da sua confiança para tudo o que são cargos no Estado. Porquê? Fácil: para
tornar o seu poder, a sua influência e capacidade de controlo da administração
pública imune aos ciclos eleitorais. Para, enfim, assegurar que o costismo
sobrevive, independentemente do veredito eleitoral do povo português.
5. Isto porque, estando dentro do aparelho do
Estado, António Costa poderá ter acesso privilegiado a informação reservada,
fazer guerrilha política permanente aos seus adversários políticos, desgastar
um futuro Governo que não seja do PS e alimentar um conjunto de aliados
políticos que estão dependentes dos trabalhos que o Estado lhes arranja. Tudo
pelo Costa, nada contra o Costa – já vimos este filme aquando da instrumentalização
de funcionários do fisco para desgastar mediaticamente Passos Coelho, a poucos
meses das eleições legislativas. E daqui uma inferência inevitável: António
Costa está tentando replicar no Governo de Portugal o mesmo modelo de poder que
montou na Câmara Municipal de Lisboa. Exatamente o mesmo! A verdade é que os
socialistas se plantaram em Lisboa – e de lá não tencionam sair…
6. Tudo isto dito e ponderado, é preciso muita
desfaçatez, é preciso ter uma absoluta ausência de vergonha para acusar o
PPD/PSD de querer tomar de assalto o poder… quando António Costa montou lá, no
coração do poder, uma árvore genealógica rosinha-avermelhado. Ou a culpa das
nomeações também foi de Passos?
Escreve à terça-feira
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