Na partida para sempre do meu irmão mais velho,
várias pessoas que me vieram cumprimentar e «dar-me os sentimentos». Alguns
vieram de longe para estarem com a minha família. Eu tomei a decisão de não
avisar os amigos. Apenas disse a dois ou três familiares para poderem estar no
funeral. Com alguns, recordei os seus e meus familiares que já partiram. Os
Eixes, terra em que viveu a minha avó Maria Rosa (Aleixo Ribeiro) a maior parte
dos dias da sua vida, vasculharam um pouco o baú do tempo para enganar o
momento e dizer-lhes quão boas recordações tinha. Assim, estive uns minutos com
um sobrinho do Américo Baptista e um outro família dos Serrinchas, bem
conversados e ambos dos Eixes. A páginas tantas da nossa conversa, puxo as boas
recordações da minha avó materna. Uma delas, na faina da apanha das batatas, um
grupo de mulheres dos Eixes iam ajudar na apanha com as grandes cestas de
tradoura e no fim levavam-nas bem cheias alimentado as proles, durante alguns
dias, em tempo de fome. Porém, um destes amigos foi-me dizendo o bem que a
minha avó fazia com descrição, na ceia das sopas das alheiras. Ela sabia quem
na matava ceba, porque a pobreza não o permitia, e para aveludar esses momentos
mais negros, mandava a cada casa um prato fundo ou fonte das sopas das
alheiras, bem adubadas para que os mais necessitados tivessem a sua refeição
melhorada. Claro que me emocionei com aquele generoso gesto e invulgar. Ela
fazia as suas dádivas sem o meu avô Manuel se aperceber, lembrando em ponto
pequenino o que a Rainha Santa Isabel distribuía nas barbas de D. Dinis. Assim,
recordo a minha linha familiar que a memória me faz recuar até ao meu visavô
João Aleixo (Ribeiro) campeão no manejo do pau (faia). Isto atravancou-se-me
nesta pequena lavra porque ter por perto um poema em forma de livrinho
(oferecido pelo Celestino Reis), de João Sire, «A Fome no Douro», editado, em
Lisboa, pela «Typ. La Bécarre», em 1909. Um poema que pinta com um realismo
negro o sofrimento de uma família camponesa do Douro que morre de fome. Eram os
tempos de fome do Douro rural iniciados décadas antes com a crise das vinhas
provocadas pela doença da filoxera e que a mítica Adelaide Antónia (a
Ferreirinha) combateu, ajudando muita gente faminta.
Provérbios ou ditados de Abril:
Fia-te nas castanhas assadas
que se estouram saltam-te à cara.
Nasce erva em Abril, mesmo que
pisada por mil.
Aprende-se pouco com a vitória,
mas muito com a derrota.
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