quinta-feira, 11 de abril de 2019

A minha avó Maria Rosa



Na partida para sempre do meu irmão mais velho, várias pessoas que me vieram cumprimentar e «dar-me os sentimentos». Alguns vieram de longe para estarem com a minha família. Eu tomei a decisão de não avisar os amigos. Apenas disse a dois ou três familiares para poderem estar no funeral. Com alguns, recordei os seus e meus familiares que já partiram. Os Eixes, terra em que viveu a minha avó Maria Rosa (Aleixo Ribeiro) a maior parte dos dias da sua vida, vasculharam um pouco o baú do tempo para enganar o momento e dizer-lhes quão boas recordações tinha. Assim, estive uns minutos com um sobrinho do Américo Baptista e um outro família dos Serrinchas, bem conversados e ambos dos Eixes. A páginas tantas da nossa conversa, puxo as boas recordações da minha avó materna. Uma delas, na faina da apanha das batatas, um grupo de mulheres dos Eixes iam ajudar na apanha com as grandes cestas de tradoura e no fim levavam-nas bem cheias alimentado as proles, durante alguns dias, em tempo de fome. Porém, um destes amigos foi-me dizendo o bem que a minha avó fazia com descrição, na ceia das sopas das alheiras. Ela sabia quem na matava ceba, porque a pobreza não o permitia, e para aveludar esses momentos mais negros, mandava a cada casa um prato fundo ou fonte das sopas das alheiras, bem adubadas para que os mais necessitados tivessem a sua refeição melhorada. Claro que me emocionei com aquele generoso gesto e invulgar. Ela fazia as suas dádivas sem o meu avô Manuel se aperceber, lembrando em ponto pequenino o que a Rainha Santa Isabel distribuía nas barbas de D. Dinis. Assim, recordo a minha linha familiar que a memória me faz recuar até ao meu visavô João Aleixo (Ribeiro) campeão no manejo do pau (faia). Isto atravancou-se-me nesta pequena lavra porque ter por perto um poema em forma de livrinho (oferecido pelo Celestino Reis), de João Sire, «A Fome no Douro», editado, em Lisboa, pela «Typ. La Bécarre», em 1909. Um poema que pinta com um realismo negro o sofrimento de uma família camponesa do Douro que morre de fome. Eram os tempos de fome do Douro rural iniciados décadas antes com a crise das vinhas provocadas pela doença da filoxera e que a mítica Adelaide Antónia (a Ferreirinha) combateu, ajudando muita gente faminta.
Jorge Lage – jorge.j.lage@gmail.com –12MAR2019

Provérbios ou ditados de Abril:
      Fia-te nas castanhas assadas que se estouram saltam-te à cara.
      Nasce erva em Abril, mesmo que pisada por mil.
      Aprende-se pouco com a vitória, mas muito com a derrota.
Jorge Lage – jorge.j.lage@gmail.com – 12MAR2019

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