Ontem o presidente
Marcelo iniciou um périplo por Angola. No dia anterior o
presidente João Lourenço dava uma entrevista excelente à RTP e nós, neste
modesto espaço online, fazíamos
referência ao mais recente livro do Doutor Barroso da Fonte que nos foi
oferecido pelo autor no dia dos seus 80 anos (19/02/2019): “Crónicas do tempo
da guerra”. Foi a melhor prenda que recebemos este ano. Porque refere terra que
amamos, com a clareza e a sabedoria de quem lá esteve 24 meses, não por opção,
mas por dever.
Estávamos à espera de uma
narrativa comum – o relato de façanhas, actos heróicos e por aí fora. Mas isso
é para os homens comuns, não para homens de excepção como o cronista de
Montalegre, uma lenda viva para os da nossa geração.
Barroso da Fonte, nestas
crónicas, não tem no horizonte a guerra, mas sim a paz (do futuro, alicerçado no passado e sustentado no presente), a fraternidade entre
povos. É o humanista, o defensor de princípios éticos universais, o escritor
corajoso e genuíno que sobressai nestas páginas, sem ódios e rancores. Fala mais da terra (Angola) do que da guerra.
O que lhe importa é a
terra, as suas gentes e a sua capital, LUANDA, a quem tece elogios como a
rapariga casadoira.
As coisas não acontecem
por acaso, mas neste caso, a coincidência destas crónicas com o périplo do
presidente português a Angola e a homenagem
a Maria Eugénia Neto (esposa do
falecido Agostinho Neto e natural de Montalegre) a 28 de Fevereiro do corrente,
só pode ter acontecido através de algo transcendental.
Seguem três crónicas: 43,
50 e 53. (Armando Palavras)
É com imensa satisfação que vejo este apontamento por mais um lançamento de um livro do Doutor Barroso da Fonte, Envio-lhe os meus parabéns, desejando-lhe os maiores sucessos. Jorge Lage
ResponderEliminarPENSEI ESCREVER UM POEMA
ResponderEliminarPensei escrever um poema
com esta cor pálida
da tarde a diluir-se
enquanto as pretas se ajeitam
com esses mantos multicolores
falando uma linguagem
que pasma os cães
e faz rir os estrangeiros.
Há neste entardecer
uma alma poética
que faz versos da terra
e gestos simétricos
da sombra dos imbondeiros.
Gosto de ver o céu azul
pintado do sorriso dos pretos
em tardes habituais
nesta terra de palmeiras, capim e mandioca.
Este poema que pensei escrever
com palavras e gestos
tirados do tempo
é um salvo-conduto
para a minha posteridade.
Filiei-me nesta raça primitiva
e quero perpetuar o seu primitivismo
Porque não enxertar as árvores estéreis
se podem dar bons frutos
para matar tanta fome?
In Trinta Anos de Poeta - Barroso da Fonte