por BARROSO da FONTE
0 primeiro ministro que chegou ao poder aos
ziguezagues, jogou no tudo ou nada. Foi uma espécie de jogo da roleta para não
fazer publicidade ao Euromilhões.
Não fora aquilo que era impensável e teria sido o
chefe da oposição no mandato em que ainda tem quase um ano de vigência. Dessa
golpada política alcandorou-se em campeão das esquerdas portuguesas que desde o
Gonçalvismo nunca haviam saboreado o poder. Durante a campanha nenhuma força
política aludiu a essa união de facto. Nem o próprio pai da proposta a colocou
no ar. Daí que António Costa, com aquele risinho de escárnio com que nos brinda
todos os dias e a toda a hora e momento, tenha entrado na história política não
só do país, mas de toda a Europa comunitária. Aquilo que até ali era
inadmissível no reino do Parlamentarismo democrático, fez doutrina universal.
Perdeu-se a alma mater da ideologia e cambiou-se pelo oportunismo do momento
isotérico. Platão que nos instruiu com a sua República criou a mimética
que faz a rotura entre o conhecimento e
a arte. «Através dessa rotura condena a arte por promover a mimese, porque esta
pauta-se pela aparência, elege simulacros da verdade e não presta contas à
Filosofia que é a senhora absoluta e o bem mais precioso e mais útil à
sociedade e ao bom cultivo da virtude. A arte está a três pontos afastada da
verdade».
António Costa fez doutrina política com os simulacros
da mimesis. Mas esta pauta-se pela aparência que está três graus abaixo
da verdade.
Não invoco Platão que viveu cerca de quinhentos anos
antes de Cristo, para ofender os políticos da modernidade. Mas sempre lhes irei
dizendo que nenhum político profissional deveria exercer os seus cargos sem ler
o Livro X da República, mormente,
o Capítulo «Platão e a Arte Mimética» Lembro-me dos diálogos entre os três mais conhecidos
pensadores dessa longínqua época: Sócrates, Aristóteles e Platão, em
divergências contínuas, face à falta de referências anteriores. Foram eles os
pais da oratória, da ciência e da polisseia. Quando recuamos ao período greco -
romano, qualquer intelectual invoca este trio que gizou as traves - mestres do
conhecimento universal. Entre as aparências e a realidade há um planeta que faz
a diferença dos povos. Tal como a fome diverge da fartura, o sol do nevoeiro ou
a noite do dia.
O facto de António Costa ter, por sedução, conquistado
os votos de toda a esquerda, não deve vangloriar-se, como se tivesse direito a
entrar no Guiness Boock. Essa viragem não é mais do que uma certeza das
fragilidades da democracia que demonstra ser falaciosa sempre que está minada
pelo falta de transparência, caminho aberto à corrupção.
A mensagem de Natal do primeiro ministro, que só
chegou a esse cargo por via dessas fragilidades esquerdóides, é falaciosa e por
isso enganadora. Passou três anos a gabar-se como campeão, sendo desmentido
pela realidade de cada uma das quinhentas e tal greves de todas as classes
sociais, num só ano. Nunca, mas mesmo nunca, em Portugal, houve tantas greves,
de todos, mesmo de todas as classes, incluindo daquelas que não têm capacidade
para se organizarem, como são: as domésticas, os desempregados, os arrumadores
de carros, os carteiristas, os assaltantes, os drogados.
António Costa apenas teve jeito e astúcia para seduzir
os partidos da esquerda e até os sindicatos. A estes não conseguiu silenciá-los.
Mas silenciou os chefes que preparavam os cartazes, berravam através dos
megafones, ensaiavam as frases da provocação e da desordem. Só faltou esse
frenesim arruaceiro que foi trocado pelos falhanços estrondosos de Pedrógão e
de Borba, pelos Roubos de Tancos, pelo desastre do hélicoptero do INEM.
Nunca, em tão pouco tempo, Portugal viu morrer tantos
cidadãos inocentes; tanta promessa
incumprida; tanta incompetência encoberta.
Adivinha-se que o novo ano traga mais do mesmo. Temos
a maior carga fiscal dos últimos 22 anos. A dívida pública é das maiores do
Mundo. Os setores que dependem do Estado gerem o caos. Os hospitais cheios de
listas de espera. Alguns, sem nenhum anestesista, como aconteceu na Maternidade
Alfredo da Costa, neste último Natal. Na ferrovia é um pandemónio. Este
parágrafo e muito mais, saiu no JN de
27/12. E nessa 2ª página de Nuno Melo, pode
ler-se: «Costa diz que o Estado não tem nada a ver com isso e a Esquerda
alega que Portugal está melhor».
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