sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Agremiação transmontana divulga “Nata do Povo”

 Elsa Moreira, Armando Palavras, Hirondino Isaías e Flávio Vara

Drª Elsa (responsavel pela pasta da cultura da
agremiação) no uso da palavra

A Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa com direcção renovada e uma dinâmica estonteante, sobretudo derivada da acção do seu Presidente, Dr. Hirondino Isaías, que tem dado o corpo ao manifesto (juntamente com alguns dos seus colaboradores como o Coronel Jorge Golias, entre outros) divulgou ontem, em mais 
uma sessão cultural, um volume de mérito, do poeta Flávio Vara, natural de Rio Frio (Bragança). 
Tivemos o privilégio e a honra (que nos foi concedida pelo poeta transmontano), em fazer parte dessa sessão, com modesto texto de contextualização da sua poesia rigorosa e erudita. Texto que ainda esta semana esperamos publicar neste espaço.
Flávio já está no Outono da idade (física) a caminhar para o Inverno. Mas mantém a vivacidade da juventude.


Um poeta desta natureza e desta qualidade, há muito que num país culto estaria a ser discutido nas primeiras páginas dos jornais, em trabalhos universitários, e a ser publicado pelas mais importantes editoras.
Flávio é audaz com os escroques da Nação, perspicaz nas análises e, sobretudo, um mestre da língua e da ironia (e foi comer caviar – depois da roubalheira):


Relato de um Assalto

ia eu pelo caminho
que é meu costume fazer
de casa para o trabalho,
e eis que vejo aparecer,
irrompendo de um atalho,
a deputada Mortágua,
que se aproxima de mim,
cheia de solicitude:
- Ora viva, caro amigo,
como vai essa saúde?


- Vai indo como Deus quer
e estou mesmo seguro
que irá melhor no futuro,
graças a Vª, Excelência,
que com ideias tão nobres
deputa com veemência
em defesa dos mais pobres.
E a que fico eu a dever
a honra desta visita?


- É só razões de guita;
eu ando a sacar dinheiro
a quem tenha mealheiro.
- Mas não veio ter comigo
com semelhantes tenções?!
Não me vai limpar o bolso
de alguns exíguos tostões
que mal dão para o almoço …


- Eu não quero ouvir sermões,
o que eu quero é o caroço,
passa para cá a carteira.
(E ao mesmo tempo tirava
a pistola da algibeira!)


Eu, se quis salvar a vida,
fiquei sem outra saída,
tive que lha entregar.
Deixou-me ali depenado
e foi comer caviar.

(Flávio Vara, A Nata do Povo, pp 76-77)

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