A única maneira
segura de pôr uma criança a ler para o resto da vida é ver os pais
constantemente a ler. Não gostam de ser interrompidos porque gostam de ler.
Assim a criança
vê os livros como um prazer adulto. Ler como andar e falar é uma coisa que
consegue fazer quase tão bem como os mais velhos. E, tal como andar e falar, a
criança depressa repara que está sempre a melhorar, para mais a um ritmo
agradavelmente rápido.
A criança deve
descobrir a leitura sem sermões sobre o lindo que é ler ou exortações
agressivas a ler ou ficar burro toda a vida.
Aquilo que se
descobre nos livros é uma maneira de fugir às ordens e desejos dos nossos pais.
Os pais querem impingir-nos livros bons, artísticos e poéticos, cheios de
lições de vida.
Lembro-me
perfeitamente do prazer de descobrir os livros do William escritos por Richmal
Crompton que se tornou a minha primeira escritora preferida. William era
desobediente, mentiroso, ladrão, megalómano, vaidoso e azarado. Era o meu
herói.
Quando Tom
Sawyer e o Huckleberry Finn abriram a minha imaginação ao mundo eu recebi-os
como extensões gloriosas do William. Se tivesse começado como os meus pais
queriam teria lido devagar e sem urgência porque o texto era difícil de mais
para a minha idade e para o meu apetecimento.
Ao fingirem que
não gostavam das minhas leituras os meus pais souberam viciar-me nos livros.
Era eu que os escolhia e era através deles que eu fugia para um mundo onde não
havia regras e onde as famílias eram coisas chatas que nos atravancavam as
vidas.
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