O editorial de hoje do jornal Público, zurzido pelo seu director, Manuel Carvalho, um transmontano de Alijó, demonstra a realidade do ensino público da aldeia lusa. Assenta no estudo do Académico de Évora. Mas toda a gente sabia disto, desde 2005. Contudo, como é costume, os do costume enfiaram a cabeça na areia, como a avestruz, durante todos estes anos! O Doutor António Portelada apenas levanta o pó (o que já é bom num país ao nivel do Burkina Faso), mas a questão é muito mais grave. Será que Portugal já não tem gente decente em barda?
MANUEL CARVALHO Jornal Público |
Um em cada quatro docentes diz ter sido vítima de agressões morais. Não,
desta vez não está em causa um estudo sindical — o que obriga a olhar o
problema com outros olhos.
A garantia de boas condições
para o exercício da docência não é um assunto que diz apenas respeito aos
professores, aos seus sindicatos ou ao Ministério da Educação. O seu desempenho
individual e colectivo é um assunto que tem de preocupar toda a comunidade.
Por isso, é impossível não ler as conclusões do estudo académico de António
Portelada, da Universidade de Évora, que o PÚBLICO hoje revela, e encolher os
ombros como se o que estivesse em causa fosse apenas mais um desconforto de uma
profissão cada vez mais exigente, hierarquizada e engolida pela burocracia.
Ao revelar que um em
cada quatro professores de uma amostra razoavelmente expressiva foi vítima de
assédio moral, o estudo atesta um pano de fundo propiciador para a desmotivação
ou a negligência. Não se pode acreditar que um professor (ou qualquer
profissional) vítima de assédio moral por parte da instância que dirige a
escola, dos seus pares ou dos alunos e encarregados de educação reúna as
melhores condições para dar à escola o que pode e deve dar. E não, desta vez não
está em causa um retrato promovido pela Fenprof e realizado por
uma académica conhecida pelo pendor ideológico das suas intervenções – o que,
se serviu para alimentar suspeitas, não basta para minar os méritos
científicos.
O Estado tem por isso
o dever de considerar que há um problema e agir. Na relação com os alunos e os
pais, a autoridade dos docentes tem de ser reforçada, seja pela produção
de nova legislação ou pelo agravamento das penas já previstas na lei para os
agressores. Mais difícil, porém, será resolver o problema dos abusos atribuídos
aos directores das escolas. Porque o que aqui se reflecte é aquele mundo ínvio
de pequenos poderes, do sectarismo tribal muitas vezes contaminado pela
política local, que tende a considerar a escola como um feudo sujeito ao
autoritarismo e à prepotência. É, por isso, uma questão cultural que é urgente
combater.
Os desafios são
imensos. E difíceis. Mas depois de anos de queixas avulsas, este estudo faz
prova de uma realidade inaceitável. Se queremos boas escolas, não podemos
deixar que os protagonistas dessa condição, os professores, continuem a viver
com estes constrangimentos.
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