quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A Máfia Lusa



Miguel Esteves Cardoso - jornal Público

Os habitantes de Londres precisam desesperadamente do jeitinho e do brio dos trabalhadores portugueses. Perdoam-lhes tudo menos voltar de vez para Portugal.
Os portugueses em Londres podem ser poucos mas são unidos. Todos os portugueses pertencem automaticamente à Máfia Lusa, uma organização fraterna que protege os seus.
Graças a um António arranjei um quarto óptimo num bom hotel por um preço quase português. Ele não só me explicou como se fazia – paga-se adiantadamente com antecedência, para fixar as tarifas mais baixas – como me deu dicas valiosas para entrar em contacto com outros membros da Máfia Lusa.
No Fortnum’s tivemos a sorte de conhecer um dos grandes padrinhos da Máfia Lusa: chama-se Miguel, está cá há 12 anos e ainda não descobri uma única coisa que ele não saiba. Sabe tudo sobre gastronomia inglesa, vinhos e a boa vida. É uma daquelas pessoas generosas que partilha o que aprendeu ao longo dos anos. Graças a ele a nossa estada cá tem sido uma festa permanente.
Para organizar um dia de São Valentim em condições tive de recorrer ao Octopus – o Famoso polvo da Máfia Lusa que tem contactos em todo o tecido social britânico.
Graças à Sónia, cabecilha duma célula armada de barbeiros e cabeleireiros, pudemos pôr em prática um sofisticado plano de celebrações românticas que dependeu duma vasta rede de cordelinhos, favores, descontos de amigo, recomendações irrecusáveis e outras portuguesíssimas especialidades.
A Máfia Lusa pode operar descaradamente em Londres porque os habitantes precisam desesperadamente do jeitinho e do brio dos trabalhadores portugueses. Perdoam-lhes tudo menos voltar de vez para Portugal. Para a Máfia Lusa nem o Brexit existe.

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