Dostoiévski foi primeiramente enviado para uma prisão localizada em Tobolsk, onde os presos eram redistribuídos para diversos campos de trabalho, a fim de cumprirem as suas penas de trabalho forçado (a que chamavam sistema Katorga). A seguir, o escritor foi encaminhado para uma prisão em Omsk, centro administrativo da Sibéria, onde cumpriu por quatro anos a sentença de trabalhos forçados. |
Dependendo da tradução, este volume é conhecido como "Recordações da Casa dos Mortos", ou como "Cadernos da Casa Morta" |
Recordações
da Casa dos Mortos é um grande livro. Descreve-nos uma micro-sociedade, com regras
próprias, onde o prisioneiro de delito comum convive, lado-a-lado com outros
que perpetraram crimes hediondos.
O dia reparte-se entre os
trabalhos forçados, castigos sádicos, a miséria, o mercado negro e por aí
adiante. Dostoievski redige uma narrativa de um realismo impressionante,
reflectindo sobre a natureza humana. Uma experiência trágica pela qual passou,
depois da sua pena ter sido comutada em exílio na Sibéria, um minuto antes de
ser fuzilado! Alguns historiadores, sobre esta questão avançam que teria sido
apenas uma tortura psicológica do Czar. Ou seja, uma situação encenada. Seja ou
não seja realidade, é sempre uma experiência para lá dos limites.
Que razão nos leva hoje a
recordarmos essa obra prima da Literatura Universal? Porque ainda estamos, até
aos Reis, na época Natalícia. E se, nesta altura se recordam textos próprios da
época como os de Dickens ou Torga, o texto sobre a Festa de Natal, descrita por Dostoiévski no capitulo 10, nunca é
referenciada, quando a sua descrição é magnifica! Tem lá tudo sobre o Natal: a
missa, a presença do padre, as prendas, a amizade, etc. Nesse dia, nessa
prisão, onde se encontram os maiores criminosos, comemora-se o Natal, e esses
criminosos tornam-se seres humanos normais.
Além do mais, é curiosa a
referência a expressões utilizadas na língua portuguesa, muitas delas ouvidas
na região de Trás-os-Montes. Pelo menos, ouvimo-las na infância e na juventude:
“puxarem pelos cordões à bolsa”, “de grão na asa”, “bêbado como um cacho”, “não
há de quê”, “de me pagar meio quartilho”.
Os termos também são uma
mão cheia deles: “pândegas”, “catita” “resfolegar”, “zarpado”, “desinfesta”,
“desinça”.
Poderão até ser
universais, mas nós ouvimo-los em Trás-os-Montes.
O que aqui se expôs é um
pequeno exemplo de um capitulo (com 15 páginas) desta obra de Dostoiévski. Armando
Palavras
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