segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

O Natal da Casa dos Mortos

Dostoiévski foi primeiramente enviado para uma prisão localizada em Tobolsk, onde os presos eram redistribuídos para diversos campos de trabalho, a fim de cumprirem as suas penas de trabalho forçado (a que chamavam sistema Katorga). A seguir, o escritor foi encaminhado para uma prisão em Omsk, centro administrativo da Sibéria, onde cumpriu por quatro anos a sentença de trabalhos forçados.

Dependendo da tradução, este volume é conhecido como
"Recordações da Casa dos Mortos",
ou como "Cadernos da Casa Morta"
Recordações da Casa dos Mortos é um grande livro.  Descreve-nos uma micro-sociedade, com regras próprias, onde o prisioneiro de delito comum convive, lado-a-lado com outros que perpetraram crimes hediondos.
O dia reparte-se entre os trabalhos forçados, castigos sádicos, a miséria, o mercado negro e por aí adiante. Dostoievski redige uma narrativa de um realismo impressionante, reflectindo sobre a natureza humana. Uma experiência trágica pela qual passou, depois da sua pena ter sido comutada em exílio na Sibéria, um minuto antes de ser fuzilado! Alguns historiadores, sobre esta questão avançam que teria sido apenas uma tortura psicológica do Czar. Ou seja, uma situação encenada. Seja ou não seja realidade, é sempre uma experiência para lá dos limites.
Que razão nos leva hoje a recordarmos essa obra prima da Literatura Universal? Porque ainda estamos, até aos Reis, na época Natalícia. E se, nesta altura se recordam textos próprios da época como os de Dickens ou Torga, o texto sobre a Festa de Natal, descrita por Dostoiévski no capitulo 10, nunca é referenciada, quando a sua descrição é magnifica! Tem lá tudo sobre o Natal: a missa, a presença do padre, as prendas, a amizade, etc. Nesse dia, nessa prisão, onde se encontram os maiores criminosos, comemora-se o Natal, e esses criminosos tornam-se seres humanos normais.
Além do mais, é curiosa a referência a expressões utilizadas na língua portuguesa, muitas delas ouvidas na região de Trás-os-Montes. Pelo menos, ouvimo-las na infância e na juventude: “puxarem pelos cordões à bolsa”, “de grão na asa”, “bêbado como um cacho”, “não há de quê”, “de me pagar meio quartilho”.
Os termos também são uma mão cheia deles: “pândegas”, “catita” “resfolegar”, “zarpado”, “desinfesta”, “desinça”.
Poderão até ser universais, mas nós ouvimo-los em Trás-os-Montes.
O que aqui se expôs é um pequeno exemplo de um capitulo (com 15 páginas) desta obra de Dostoiévski.                                     Armando Palavras

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