Taxa de
desprotecção civil. Taxa pernil. Taxa pirolito. Taxa Arménio Carlos... Que
taxas são estas? Aquelas que se pagam antes sequer de existirem.
Taxa pernil. Esta taxa visa financiar a cátedra
Santos Silva, o ministro sociólogo que teve o privilégio de protagonizar um
momento inédito na história do socialismo utópico e científico pois coube-lhe
explicar a um governo socialista apoiado por Cuba – Venezuela – que um governo
de socialistas apoiado por estalinistas, maoistas e trotskistas – Portugal – e
sustentado por Bruxelas não intervém no comércio mundial do pernil de porco.
Por enquanto não se sabe se este cisma gastronomo-ideológico será analisada no
âmbito do multiculturalismo ou se nas alternativas ao capitalismo global.
Taxa de desprotecção civil. Dado o
falhanço rotundo da Autoridade de Protecção Civil durante o ano de 2017 é
urgente a criação de uma taxa que financie uma autoridade que nos proteja da
falta de competência da alegada Autoridade de Protecção Civil. A taxa de
desprotecção civil pode também financiar o balcão que a CML anunciou ir abrir “para
que os munícipes possam apresentar o pedido de devolução das verbas cobradas”
no âmbito da taxa de protecção civil que a autarquia cobrou indevidamente. O
que não se percebe é a necessidade do balcão: para cobrar a CML escreve-nos;
para pagar o que nos deve a CML precisa de criar um balcão para nos atender.
Taxa pirolito. De cada vez que os portugueses entram
na água do mar acabam a ingerir o nefando sal, para mais não filtrado de
impurezas pela tampinha dos saleiros. Logo é urgente a criação de uma taxa
pirolito como forma de mudança das mentalidades dos portugueses na sua relação
com a água salgada: por cada pirolito sai um tanto de taxa. Numa segunda fase,
a abordagem deve ser mais inclusiva e abordar questões como o impacto do
protector solar na disseminação do assédio sexual ao longo da orla marítima. A
taxa pirolito deve portanto ser indexada a outros factores, sem esquecer o seu
agravamento em função da temperatura da água de modo a combater as
desigualdades no acesso ao mar, pois quanto mais quente a água maior o número
de banhos, mais banhos equivalem a mais pirolitos, mais pirolitos a mais sal…
Taxa Arménio Carlos. Trata-se de uma taxa
verdadeiramente pioneira. Em nenhum outro país um imposto ou taxa são cobrados
para financiar o encerramento de empresas. A taxa Arménio Carlos, a ser paga
por todas as empresas, é absolutamente inovadora pois o seu objectivo é a
dinamização dos movimentos e protagonistas que se tenham destacado na
destruição de empresas, muito particularmente das mais modernas. Esta taxa será
complementada com a sobretaxa Ricardo Salgado, que recairá sobre todos os
portugueses que acabarem o mês com saldo superior a 1 euro na conta bancária.
Taxa cartola. Já vamos no quarto aumento de capital
da CP este ano e ainda não deu por nada? E também não deu por notícias nem
indignações contra a degradação do serviço prestado por esta empresa? Um manto
de silêncio cai sobre o facto de dezenas de médicos do SNS estarem a assinar
declarações de isenção de responsabilidade sempre que têm de prestar cuidados
sem os meios necessários: não se fazem ecografias durante noite porque não há
radiologista; há epidurais que ficam por dar porque não há anestesista
disponível; aguarda-se um mês pelo resultado de um exame que se faz em três
dias porque faltam médicos na anatomia patológica… e o silêncio impera. Um
silêncio tão espesso quanto o que cobre a entrada da Santa Casa no Montepio.
O que tem
isto a ver com a taxa cartola? Tudo. A taxa cartola já existe e é sem dúvida um
dos casos de maior sucesso na afectação de receitas: por cada problema sai da
cartola da propaganda um acontecimento, uma proposta arrojada, uma iniciativa
nunca vista… O dinheiro pode faltar para tudo mas para a cartola nunca faltará.
Taxa anomalia histórica. Apesar de no sector privado se
trabalharem mais horas, as férias serem menores, não existir ADSE e o acesso à
reforma ser mais difícil há quem se obstine em manter-se no sector privado,
numa espécie de atitude contra o sentido da História. Logo, sobres estes
trabalhadores e empresários tem de incidir a taxa anomalia histórica, destinada
a financiar o horror ao investimento, ao mercado e aos empresários nas
universidades. Muito particularmente nas que se dizem de ciências sociais e
humanas.
Taxa por insistência nos pedidos de leite gordo e iogurte com lactose. Só a pressão da máquina fiscal será capaz de acabar com as pessoas que
deambulam nos supermercados em busca destes produtos que a modernidade manda
expurgar dos nossos frigoríficos.
Esta taxa,
mais do que arrecadar receita, pretende avaliar a nossa capacidade para agora
fazer e dizer uma coisa e daqui a uns anos dizer e fazer precisamente o seu
contrário pois é óbvio que, dentro de algum tempo, novos despachos nos mandarão
comer aquilo que agora mesmo nos proíbem – lembram-se quando a sopa e os
legumes secos eram símbolos do nosso atraso?
Taxas para os peões nas ciclovias. As cidades
estão cheias de ciclovias e as ciclovias cheias de peões. Assim serão
instituídas portagens para os peões nas ciclovias de modo a que estes se sintam
motivados a utilizar a bicicleta.
Taxa por não perceber o que diz António Costa (e já agora Joana Mortágua). Será seguramente uma das taxas mais rentáveis da nossa máquina fiscal
pois se do primeiro é garantido que poucos percebem o que diz da segunda é óbvio
que nem ela mesma percebe o que está a dizer.
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