À
esquerda e à direita - com honrosas exceções - há um grande consenso a favor da
nacionalização do Novo Banco.
José
António Saraiva - Jornal SOL
jose.a.saraiva@newsplex.pt
Assis
sugere eleições antecipadas
Nesta
questão há duas vertentes.
Uma
é a vertente ideológica.
Se
já é questionável o facto de o Estado ter um banco - que navega muitas vezes ao
sabor dos interesses dos partidos que dominam o Governo -, será aceitável o
Estado (mesmo temporariamente) ter dois bancos?
Não
será mais um local para colocar os boys e um saco azul para financiar os
amigos?
A
outra é a vertente financeira.
Ora,
está bem fresca na memória de todos a tragédia que foi a nacionalização do BPN,
com consequências terríveis para os contribuintes.
O
Estado enterrou nele muitos milhares de milhões de euros - nem se sabe bem
quantos - e acabou por vendê-lo a custo zero (ou abaixo de zero).
Foi
um buraco colossal.
Depois
deste caso, como pode falar-se da ‘nacionalização do Novo Banco’?
Estão
a brincar connosco?
Uma
experiência falhada não chega?
Acresce
que o Novo Banco tem muitos rabos-de-palha, que podem arrastar-se
indefinidamente no tempo, sendo um risco enorme para o Estado assumir a sua
propriedade.
Para
não falar nas necessidades de recapitalização, que levantam problemas bicudos em
face da legislação europeia.
Uma
coisa parece óbvia: se os privados não dão muito por ele, é porque não é grande
aposta; vai o Estado meter-se em mais um negócio duvidoso?
Mas
há mais. Ainda está por resolver o imbróglio da Caixa Geral de Depósitos.
O
Governo quis a CGD 100% pública, mas não conseguiu solucionar o problema mais
básico que é arranjar uma administração.
A
CGD está há um ano sem administração efetiva!
Além
de que a sua gestão não tem sido propriamente um modelo, estando neste momento
o banco cheio de buracos.
Agora
precisa de 5 mil milhões de euros - para iniciar um novo ciclo que,
possivelmente, acabará daqui a meia dúzia de anos com a necessidade de outros 5
mil milhões.
Com
este caso de ‘gestão exemplar’, para que quer o Estado mais um banco?
Para
ter mais um sumidouro de dinheiro?
No
tempo de Pedro Passos Coelho, pensei que íamos entrar no caminho certo: um
Estado mais pequeno, mais leve, com menos risco, menos despesa, menos gente,
permitindo que os cidadãos e as empresas fossem gradualmente aliviados de impostos.
Chegou
a falar-se na privatização da RTP, que seria um sinal saudável de que o Governo
não desejava condicionar os media.
Mas
com a ‘geringonça’ voltámos ao passado: ao caminho triunfal de termos um Estado
gordo, pesado, intervencionista, com mais gente e mais despesa.
Aquilo
que já estava privatizado (como a TAP) foi outra vez nacionalizado, os
tribunais que tinham fechado voltaram a abrir, alguns funcionários públicos que
estavam na porta de saída foram reintegrados, etc.
E
agora quer-se a nacionalização do Novo Banco!
Se
ainda fosse só a esquerda a defendê-la, ainda vá que não vá.
O
mais intrigante é haver também gente da direita a advogar esse caminho.
Argumentam
com o exemplo do Lloyds, que foi recuperado com sucesso pelo Estado britânico
(com o português Horta-Osório na presidência).
Mas
poderá comparar-se Portugal com o Reino
Unido?
O
rigor e a isenção que os anglo-saxónicos colocam nestes processos terão alguma
coisa a ver com os nossos hábitos trapalhões?
Algum
banco português foi recuperado com sucesso?
Uma
característica das pessoas inteligentes é aprenderem com os erros dos outros,
evitando repeti-los; ora, nós nem conseguimos aprender com os nossos próprios
erros.
As
nossas elites não prestam.
Não
aprendem, por mais que a realidade lhes entre pelos olhos dentro.
Não
é uma questão de pessoas: é uma questão de ambiente, de caldo de cultura.
Se
o Novo Banco for nacionalizado, vai ser mais um palco de lutas partidárias, de
financiamentos duvidosos ou ruinosos, de colocação de boys.
E
os contribuintes continuarão a pagar a fatura.
Valha-nos
Deus, pois com esta elite nunca chegaremos a lado nenhum.
P.S.
1 - O ex-ministro das Finanças Campos e Cunha fez uma afirmação gravíssima, que
só por si fragiliza enormemente os que defendem a banca pública: disse que
Sócrates insistiu com ele para que demitisse Vítor Martins da CGD,
substituindo-o por Santos Ferreira e Armando Vara. Sócrates veio desmentir esta
versão, mas os factos não o ajudam: na verdade, logo que Campos e Cunha saiu, a
administração da Caixa mudou. Agora, se
o Novo Banco for nacionalizado, poderemos ter Mariana Mortágua e João Galamba
como administradores...
P.S.
2 - Sobre este mesmo tema, o sucessor de Campos e Cunha, Teixeira dos Santos,
fez declarações lamentáveis na Comissão de Inquérito à CGD. Parecia Zeinal Bava
a dizer que não se lembrava de nada...
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