Vou para Ti em busca dos meus erros,
Sobraçando os meus sonhos de poeta,
A angústia dos desterros,
Os olhos do menino desigual
Que foi pedir Natal
À minha porta,
(…).
Vou para Ti em busca do meu pó
E do meu Eu!
Mas não vou só:
Comigo vão milhões de desgraçados,
(Famintos, velhos, loucos, depravados,
Feras da noite, párias, convertidos,
Guerreiros do Silêncio já vencidos,
Pastores da ilusão e, até, bandidos)
(…)
Vou para Ti. E, todavia, sei
Que na Gruta
Não há abrigo
Para esta Multidão sem voz nem lei
Que vai comigo (…).
(…)
E virás cá bem fora ouvir os ignorados...
E se vieres (e eu sei que vens!)
Já não sou capaz
De voltar lá para dentro
E deixar sós, abandonados ao relento,
Milhões de corações ajoelhados!
O livro «No Coração da ausência», foi editado em
1984, pelo «Diário do Minho», de Braga. Conheci o Abílio Peixoto, no primeiro
lustro de noventa do século passado, quando era Presidente da Escola Secundária
de Fafe e eu Coordenador Distrital Braga de Segurança das Escolas e promovi
acções formativas específicas para as direcções das escolas. Era parco em
palavras mas de uma nobreza imensa. A partir daí mantivemos uma amizade que
perdurou até ao seu falecimento neste último Verão. Lutou durante anos contra
um cancro impiedoso que o roía e nunca lhe ouvi um queixume da doença. Estava
atento às minhas publicações a que dava generoso espaço nos cadernos culturais
do jornal «Diário do Minho». Achava sempre que era a Cultura do «Diário do
Minho», que tinha de me agradecer. Apenas pude fazer o choro na Missa do 30.º
dia. Era tão afável tão atencioso e modesto, que nunca me disse que tinha um
livro de poemas. Soube da sua morte quando estava a trabalhar na paginação e
finalização do meu último livro, «Maria Castanha – Outras Memórias». Ao
perguntar por ele, dizem-me que falecera. Fortuitamente, descubro lá, numa pilha
de livros, o seu livro de poemas e que o Director do jornal me ofereceu,
percebendo o meu interesse. Na «Nota do Autor», diz que fica realizado se um só
verso encontrar no coração do leitor «um eco de eternidade». No Prefácio,
Amadeu Torres (ou Castro Gil) diz que «Custa muito vencer na vida, sobretudo
quando se não nasceu em berço de algodão nem com tios ricos». São oitenta
poemas dos quais vos dou a conhecer o mais condizente com a quadra natalícia.
Para o amigo leitor fica o meu gesto para com um amigo em que me agarro à
memória. Boas-Festas amigo leitor e até sempre Dr. Abílio Peixoto!
Jorge Lage –
jorgelage@portugalmail.com – 04DEZ2016
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