BARROSO da FONTE |
Nascer e viver são destinos de tudo e de
todos aqueles que têm vida. Como as flores estiolam depois de embelezarem a
natureza, assim as pessoas que se sucedem em circunstâncias que não conseguem
controlar.
Escrevo esta crónica num domingo soalheiro. O país está de luto. Não por
morrerem muitas pessoas. Mas por morrer
Mário Soares. Não foi por castigo divino porque Deus não é vingativo. Nem por
ser republicano, socialista e laico. Morreu porque o seu prazo de validade
acabou aos 92 anos de idade. Até nesta sua última batalha foi feliz, porque
nada lhe faltou. Teve tudo aquilo que era possível ter. Dignidade.
No momento em que dedilho estas palavras
aparece no ecrã do computador, via Público, este dístico: «Soares morreu.
Começa agora o combate da imortalidade».
Ora aqui está: não é preciso ser
católico para se obter a imortalidade. O que é preciso é ter sorte. Mário
Soares era filho do Padre João Soares. Nada lhe faltou na vida, a confirmar que
«não custa viver, o que custa é saber viver». Mário Soares soube viver. E por
isso vai ficar na História de Portugal. Só por coisas boas? Só por ser
revolucionário? Só por ser honesto e pacífico?
Antes que escorregue neste labirinto de
congeminações satânicas, vou lembrar outras mortes que ocorreram no mesmo
espaço temporal. De entre essas só outro nome mereceu destaque: Guilherme
Pinto, Presidente da Câmara de Matosinhos. Todos os canais televisivos,
nomeadamente aqueles que se dizem de interesse público, cerraram fileiras,
mobilizaram todos os repórteres, rebuscaram todos os arquivos. De noite e de
dia, desde as vésperas de Natal, talvez por todo o mês, todo o ano, todos os
anos. E o mais que se verá. A imortalidade só agora começou...
No mesmo período temporal morreram três ilustres vultos da cultura
portuguesa: Mons. Ângelo Minhava, Padre Doutor João Ribeiro Montes e o Médico
especialista Daniel Serrão. Três notáveis personalidades, cada qual a mais
ilustrada e todas Transmontanas.
Não tiveram as televisões que nos martirizam o
corpo, a alma e a bolsa, uma palavra que fosse, a lembrar esses
desaparecimentos.
Para tudo é preciso ter sorte. Até para morrer.
Mário Soares foi, inegavelmente, um
Homem diferente, destemido, culto e frontal.
Na qualidade de diretor do Paço dos
Duques de Bragança, durante cerca de seis anos, recebi-o três vezes nesse
Monumento Nacional que funciona como residência oficial do chefe do Estado no
norte do País.
Já antes, em 1986, como vereador da
Câmara, eu tinha contribuído para aí se realizar a primeira «semana aberta». O
executivo era social democrata. Carneiro Jacinto era o jornalista da
Presidência. Falou comigo para auscultar se uma Câmara diferente da sua cor,
receberia bem essa experiência presidencial. Passou-se esse dialogo com aquele
jornalista na Pousada de Santa Marinho da Costa em 24 de Junho. Ainda nesse
espaço de tempo, falei com os vereadores da oposição: CDS (Carlos Costa), PS
(Manuel Ferreira), CDU (Capela Dias). Que sim senhor. Avançou-se e a
experiência que permitiu a Mário Soares, levar a efeito, outras semanas abertas
em várias cidades do País. Conservo no meu espólio uma carta de agradecimento
de Mário Soares pela maneira como foi benéfico
o meu contributo.
Nada de pessoal me permite censurar o
chamado «pai da democracia portuguesa», em quem votei na sua reeleição para a
PR, quando concorreu contra Salgado Zenha. O que pasmo é ver e ouvir, chorões e
choranas, - verdadeiras poltronas - desta carpidaria-mor do reino.
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