BARROSO da FONTE |
Quem
acompanhou o último debate parlamentar, dia 17 de Janeiro, deve ter-se rido a
valer, com o cinismo com que o primeiro ministro liderou essa tarde de sol de
inverno. Tinha chegado da Índia, feliz com o regresso desses pedaços de
Portugalidade, que guardam, a sete chaves, expressões linguísticas que são o
nosso orgulho. Gostámos das imagens de Goa que deixámos nos meados do século
passado. Presumo que terá valido a pena essa romagem de saudade e de orgulho
quinhentista. O futuro o dirá. Ainda
com esses sabores orientais nos lábios, falou pelos cotovelos no primeiro
debate parlamentar do ano. A dado passo acusou o líder parlamentar de que «tinha
mau perder». Passos Coelho gostou dessa afronta porque Costa estava a ver-se ao
espelho.
-Então não foi o Senhor que afrontou, com esse
mau perder, a normalidade democrática, ao celebrar um acordo contra-natura,
com toda a esquerda, rejeitando quaisquer conversações com a direita? Não foi
por essa via que chegou a primeiro ministro, cargo a que nunca ascenderia,
porque perdeu as eleições que eu ganhei? Quem acusa quem? Nem
com essa farsa picaresca, fruto do mau perder, António Costa moderou o tom da
sua vozearia. Assunção Cristas chamou-lhe
mentiroso com todas as letras. A primeira inverdade ficou no ouvido dos ouvintes:
- que o acordo com Concertação Social entrava em vigor no dia seguinte, quando
apenas deverá vigorar a partir de 1 de Fevereiro. Se vigorar! Em segundo lugar
ao garantir que esse acordo estava assinado por todos os intervenientes,
quando, pelo menos três deles, ainda não tinham assinado. Tinha António Costa a
intenção. Mas ele sabe, como jurista, que uma coisa é o facto e outra é a
intenção. Para saber isso nem é preciso ir a Coimbra. Como as mentiras dos
políticos valem mais do que as verdades de muitos que os elegem, como é o
exemplo dos deputados, António Costa prosseguirá o seu passeio, de braço dado,
com a esquerda e com o guarda-chuva Presidencial. Quando o guarda-chuva lhe fugir com o vento,
Costa ainda vai ter que engolir: - Volta José Seguro que estás perdoado...
O deputado Europeu Nuno Melo, no JN de 19
seguinte, clarificou a geringonça em que António Costa se enrolou e nos enrola
todos os dias, como acaba de acontecer com a retirada daquilo que é nosso: o
dinheiro sagrado dos reformados e dos funcionários públicos no ativo.
Voltando
às Geringoncices de Nuno Melo: «mandaria a prudência que, pretendendo o PS uma
solução com a Concertação Social, que violava necessariamente as garantias
dadas ao BE e ao PEV, António Costa, ao menos, chamasse Passos Coelho e
Assunção Cristas às conversações. Mas não.
Em outubro de 2015, quando o PSD e o CDS queriam formar Governo, por
terem vencido as eleições, Carlos César dizia que, na falta de maioria, Passos
Coelho era obrigado a "dialogar com o PS", não podendo "tratar o
PS como se fosse o CDS". Perceba então o PS que o CDS e o PSD também não
são o PCP, o BE ou o PEV. Felizmente. Se têm a maioria, governem-se. E já
agora, governem».
Aquilo
que os Portugueses querem é que o país viva em paz social. Nada tem faltado a
essa paz social, graças, sobretudo, ao Presidente da República. Parece ser
inata essa bonomia Marcelista. Mas com outro PR que se remetesse ao silêncio,
não fosse tão beijoqueiro e, sobretudo, não se vestisse de Pai natal e de
bombeiro voluntário em cada percalço que se adivinha, António Costa não teria a
paz social que a providência presidencial antecipa, como se de «milagres» se
tratasse.
Desta vez esse providencialismo terá
dificuldades em sobrepor-se ao anúncio que o PSD já tornou público. O CDS
fica-se pela abstenção. Se António Costa
não tivesse criado a geringonça, a oposição deveria viabilizar o acordo da
Concertação Social. Como, para chegar a primeiro ministro, rastejou até
consumar o «casamento», tem o dever de entender-se com a pareceria a quem se
entregou para quatro anos. O povo tem princípios filosóficos para este tipo de
litígios: «quem lhe comeu a carne que lhe coma os ossos».
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