“Conquistadores”
é um daqueles livros que se lê de uma penada. Escrito por Roger Crowley,
historiador inglês, tem o mérito de nos contar trinta anos dessa história, como
se fosse uma ficção. Mas não é, o académico inglês fundamenta-se nas
observações in loco dos “cronistas”
que acompanharam as descobertas, assim como em fontes como João de Barros,
Damião de Góis, Pêro Vaz de Caminha, Fernão Lopes, Damião Peres, entre outros.
Para além dos autores modernos estrangeiros e, sobretudo, em fontes primárias.
Como não poderia deixar de ser por parte de um académico. E ao mesmo tempo,
como vem transcrito no Daily Telegraph
“… recupera o papel de Portugal como pioneiro do primeiro império colonial”,
dando “vida aos exploradores portugueses” (Publishers
Weekly).
Em
Agosto de 1483, Diogo Cão e os seus marinheiros, fustigados pelos ventos,
levantavam na costa actual de Angola, um padrão de pedra que assinalava a sua
passagem por aquelas terras. Foi um momento que exigiu décadas de esforço. Esta
e as expedições que se seguiram até atravessar o Cabo Bojador, eram modestas. Dois
ou três barcos, comandados por um fidalgo da casa do Infante Dom Henrique. As
caravelas de vela latina transportavam um reduzido número de soldados, com
limitação de alimentos, dificultando as viagens marítimas prolongadas.
Portugal
era um país pequeno e empobrecido, periférico aos assuntos europeus, e isolado
por Castela, mas em Ceuta, os conquistadores portugueses tinham vislumbrado um
mundo novo. Um mundo que lhes abria as perspectivas anunciadas por mapas medievais
criados em Maiorca por cartógrafos judeus que representavam rios reluzentes,
que permitiam o acesso ao reino do lendário Mansa Musa (rei dos reis).
Subjacente
ao interesse africano, juntava-se o sonho antigo de uma cristandade militante:
flanquear o Islão, que bloqueava o acesso a Jerusalém e às riquezas do Oriente.
Dom
João II nomeia então Bartolomeu Dias comandante de uma próxima expedição. E ao
mesmo tempo coloca em terra espiões com instruções especificas de se dirigirem
ao oceano Índico por terra: Pêro da Covilhã e Diogo de Paiva. Roger Crowley
descreve-nos a cena como se estivéssemos a apreciar um filme de espionagem.
Entretanto Colombo começava a dar nas vistas.
Explorada
a costa africana, Dom Manuel I que havia subido ao trono com a morte de Dom
João II, incumbe Vasco de Gama, que se havia dedicado a assuntos de corsário e
pirataria no mediterrâneo, de dobrar o Cabo das Tormentas.
A
forma como os portugueses aproveitaram os ventos para dobrar o Cabo, as
vicissitudes da viagem, as doenças (escorbuto), as mortes, os naufrágios e os
primeiros dias já no Índico, são narrados pelo académico inglês, como se de um
filme de acção se tratasse.
O
Índico fora, ao longo de milénios, a encruzilhada do comércio mundial. Nele se
passearam em paz os barcos enormes do imperador chinês, Yongle, da dinastia
Ming. Os portugueses, porém, viriam com uma nova visão e uma nova postura. Com
uma artilharia poderosa fabricada por engenheiros alemães, e o conhecimento
marítimo adquirido pelos sábios que rodeavam o rei português, impuseram uma
nova forma de estar e uma nova táctica de guerra. Arrasaram cidades e povos,
mas lutavam com honra e eram generosos para quem lhes era leal.
No
meio da inveja e da corrupção, os portugueses conseguiram conquistar e manter
(durante séculos) o primeiro império global porque os seus principais capitães
e homens como Vasco da Gama, Cabral, Francisco de Almeida e Afonso de
Albuquerque eram incorruptíveis. Nunca prejudicaram os seus homens e
companheiros, e dedicaram-se inteiramente à causa do Estado (da coroa).
Roger
Crowley diz-nos no final da narrativa: “Tal como em todas as iniciativas
imperiais, a História julgou as descobertas e as conquistas portuguesas de
forma parcial. Albuquerque, apesar da sua ferocidade, aderiu a um ideal de justiça
robusto” (p.356). Remata que os portugueses “com os seus canhões de bronze e
frotas capazes”, uniram o mundo, foram os mensageiros da globalização e da
idade cientifica dos descobrimentos. E conclui no epílogo (memorável): “nunca
param quietos num sitio”. Faz, finalmente, uma referência aos pasteis de Belém, polvilhados com canela. Armando Palavras
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