Alberto Gonçalves – revista Sábado
Diz o Público que "ao líder do PSD,
nem o sol de Setembro trouxe um sorriso e prefere continuar a ser o profeta da
desgraça deste governo". A sentença não integra um artigo de opinião ou o
palpite de um funcionário do PS: está no início de uma reportagem "neutra"
sobre a Universidade de Verão da JSD e, afinal, esforça-se por não destoar do
tom vigente. Nos últimos dias aumentaram notavelmente os ataques a Pedro Passos
Coelho.
Da extrema-esquerda a gente conotada com o
PSD, passando por gente que se julga conotada com o PSD, pelos senhores
governantes, por serviçais assumidos ou dissimulados dos senhores governantes e
por analistas que gostariam de ser sérios, meio mundo dá-se a trabalhos para
tentar diminuir Pedro Passos Coelho. O tipo é um "catastrofista" que
não aceita o caminho de felicidade que o País trilha. O tipo é um vendido que
não acata os apelos à "coesão" de que o País necessita. O tipo é um
ressabiado que não abraça o patriotismo que o País exige. A bem do País, o tipo
devia calar-se. A bem do PSD, o tipo devia sair do PSD. A bem de Massamá, o
tipo devia emigrar conforme forçou inúmeros desvalidos na Era das Trevas
(2011-2015). O tipo é um demónio. O tipo é um estorvo. O tipo está a mais.
De facto, no clima em que vivemos há
meses, uma coisa entre o cabaré grotesco e o crime organizado, talvez Pedro
Passos Coelho esteja a mais. Desde logo, é dos raríssimos espécimes que insiste
em notar evidências desagradáveis: as seitas que se apoderaram disto vão
levar-nos à ruína; a ruína será imensamente pior do que os arremedos
anteriores; as consequências da ruína serão pagas durante demasiado tempo e com
demasiados custos. Qualquer pessoa sabe que tais trivialidades não andam nada,
nada, nada longe da verdade. O problema é que a verdade não convém nada, nada,
nada aos arranjinhos em curso.
Sobretudo Pedro Passos Coelho é condenado
por existir. Discreta que seja – e calada que fosse –, a sua presença na
chamada esfera pública é suficiente para evocar a artimanha que torceu os
resultados eleitorais em prol de um oportunista e duas agremiações comunistas.
E a sua coerência é um obstáculo a que a "direita" participe no
festim que antecede o desastre. E a sua sensatez contrasta com as figuras de um
Presidente que, se calhar com razão, confunde Portugal com as tardes de domingo
na TVI. Não admira o ódio que todos lhe dedicam.
Claro que o ódio é proporcional à
relevância. Aqui, confesso uma surpresa. Critiquei quase sempre Pedro Passos
Coelho enquanto líder da oposição a Sócrates (e à dona Manuela, que hoje passeia
rancor). Critiquei-o muitas vezes enquanto primeiro-ministro de um governo que,
por receio e tradição, evitou reformas vitais. Agora descubro-lhe uma decência
imprevisível em quem foi tutelado por Ângelo Correia. Sozinho, como um homem,
Pedro Passos Coelho permanece, até ver, imune à fraude em que caímos. Não basta
para nos salvar, que dos políticos apenas se pode esperar males menores ou
maiores. Mas ajuda-nos a perceber a diferença. E a olharmos o futuro sem um
sorriso tonto. Nem é difícil: quando a desgraça é certa, a profecia é mera
formalidade.
O BOM
A Volta ao Contribuinte
A troco de reles 23 milhões de euros, a
Câmara de Lisboa imitou outros municípios e criou um sistema de
"bicicletas partilhadas". Cada bicicleta custará 16.312 euros ao
cidadão, que doravante pode subir Alfama a pedais em vez de se deslocar de carro.
Julgo tratar-se de uma exigência da modernidade. De futuro, assim haja visão
estratégica, media dóceis e IMI para aumentar, as autarquias investirão o dobro
em carroças de tracção animal. O importante é que o futuro não pare, ainda que
seja muito mais lento do que o presente.
O MAU
Criaturas míticas
António Costa leva à cimeira de Bratislava
uma ideia para acabar com o terrorismo. Qualquer pessoa percebe que o dr. Costa
teria dificuldade em fazer um pão com manteiga sem falhar pelo menos um dos
ingredientes. Não obstante, o homem sonha acabar com o terrorismo. Como?
Simples: através do "investimento" na "regeneração urbana",
arquitectónica e social. Ou seja, se se gastar o suficiente em obras públicas e
miminhos, o Islão pacifica-se num ápice. Inacreditável? Não tanto quanto o dr.
Costa existir. E, ao que tudo indica, ele existe.
O VILÃO
Ano após ano, um bando de teor totalitário
reúne os fiéis. Os fiéis comem, bebem, vestem referências a assassinos, agitam
símbolos medonhos, ouvem a música e os sermões dos parceiros de fé, conspiram
contra a democracia e, em suma, divertem-se a imaginar maneiras de arrasar o
nosso mundo. Se isto acontecesse entre 30 skinheads numa garagem do Cacém, a PJ
andaria alerta e o povo inquieto. Como acontece entre milhares de comunistas
numa quinta do Seixal, a PJ não liga e o País, um certo país, acha o exercício
simpático.
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