Vale Maduro
Desceu ao Vale Maduro,
A meio da noite.
Fugindo ao açoite.
Deixava uma alça caída,
Esperava que raiasse o dia
Nos seios da Aurora,
A cama de giesta moída
Ficou na ladeira
Soltava um resto sem vida
Numa terroeira
Coelho ladino menino, reguila e tão giro.
Fugiste ao furão, ladeaste o cão,
Mas não fugiste ao tiro....
Jorge Lage |
* Inédito de Zé do Bale (pseudónimo de
Abílio Bastos) 1957.
O rapaz ia tocando as vacas pela quelha de
Cortinhelas (Abadim) quando apareceu o Ti Francisco Carqueja com o seu largo
bigode, caminhando de passo sempre
abrir, a esquerda e a direita, lhe
pergunta: - Não viste passar por aqui um coelho? Pelo seu sorriso via-se, que o Ti Francisco Carqueja,
mesmo de sachola em punho, não queria
fazer mal ao bichinho. Mas lá foi dizendo: - Vi-o ali de pé, até parecia que
trazia umas calças com alças! Respondeu o rapaz: - Escondeu-se na lora.
Continuou o Ti Francisco Carqueja: - É
mesmo reguíla! E sabes que aqui é tudo maduro? Passado uns dias, quase a
noitinha, passou um caçador ao fundo barbeito e o seu cão. Levanta-se um coelho
dum silvado. O bichinho reboca o cão para o centro da bessada e com uma pirueta
obriga-o a seguir em frente. Nesse momento esconde-se no calço novo. -
Salvou-se - pensou o rapaz! Mas, o caçador, sacou do casaco um bicho feio. Um
furão que enfiou no muro e aguardou de arma em riste, enquanto o cão corria em
todas as direcções. Num instante, o coelho saltou e, quando já parecia livre,
veio o tiro que o deixou de patas para ar. - Pobre fim - disse o rapaz! O furão
não apareceu mais naquela noite. O caçador pediu uma lanterna de petróleo a um
morador do Vale (de Abadim) e deixou-a apagar-se encostada ao calço da bessada.
O rapaz (Zé do Vale) pegou nas palavras do tio Francisco e deu vida a «Vale
Maduro».
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