A matança numa discoteca de Orlando lançou a esquerda ocidental na habitual busca de "explicações". Como o assassino nascera na América, o problema é a sociedade em questão. Como o assassino era homem e heterossexual, o problema é o "heteropatriarcado" (juro). Como o assassino era inadaptado, o problema é a exclusão social causada pelo capitalismo. Como o assassino comprara armas, o problema é a facilidade de acesso às ditas.
Como
o assassino batia na esposa, o problema é a violência doméstica. Como o assassino
sofria de distúrbios mentais, o problema é a falta de um sistema universal de
saúde. Como o assassino era religioso, o problema é o fanatismo de todas as
religiões. Como as vítimas eram gays, o problema é a homofobia. Como o
assassino detestava mulheres e pretos, o problema é a misoginia e o racismo.
Como assassinos similares rebentaram com cartoonistas, transeuntes,
espectadores de concertos, frequentadores de aeroportos, clientes de
restaurantes e banhistas, o problema passa por fobias diversas que urge
estudar. Qualquer desculpa serve desde que caiba na cartilha em vigor, idêntica
à do programa da SIC E Se Fosse Consigo?
Claro
que o objectivo do exercício consiste em desprezar a circunstância de Omar
Matteen, o psicopata desta história, não ser ateu, cristão, budista, judeu ou
jeová, mas – segurem-se bem – muçulmano. Numa época em que se reclama a
abolição dos tabus, ergue-se um tabu gigantesco: admitir a peculiar relação
entre o terrorismo contemporâneo e o islão. Por acaso, é possível que tanta cautela
em não ofender provoque um efeito contrário ao desejado.
Deve
ser muito irritante para os zelotas do profeta verem as suas reivindicações
repetidamente desvalorizadas. O sr. Omar ocupava o tempo em fóruns radicais
online ? O que importa é o peso da National Rifle Association. O sr. Omar
dizia-se jihadista ? Isso é tudo muito lindo, porém o perigo é a nossa cultura
machista. O Estado Islâmico assumiu o massacre? Conversa fiada: convém é
repudiar o imperialismo dos EUA. Enquanto as autoridades analisam o crime e
ponderam deter o "heteropatriarcado" para interrogatório, o criminoso
confessa-se aos berros à porta da esquadra – e ninguém lhe liga. Não custa
imaginar as cúpulas do Daesh próximas de uma úlcera nervosa.
Infelizmente,
também não custa imaginá-las a conspirar (ou a "inspirar") os
atentados que se seguem, os quais contarão, deste lado, com a alucinada
subserviência do costume. A cada chacina, as "causas" do dia a dia
mostram o seu carácter oportunista: por mais que se finja defender os homossexuais
perseguidos ou as mulheres agredidas, o que realmente interessa é acarinhar a
crença que persegue aqueles e agride aquelas. Quem "luta" pelos
direitos humanos e aplaude sem reservas a construção de uma mesquita não
engana.
Quem
"sofre" pela discriminação e marcha contra Israel não disfarça.
Descontados os ingénuos terminais, é lícito reconhecer que, hoje, a esquerda
não se limita a tolerar excessivamente os excessos do islão: a esquerda (e
alguma "direita" trafulha ou confusa) é a sua embaixadora – às vezes
oficial, conforme prova o financiamento iraniano ao Podemos espanhol. Dado o
ódio de ambos à liberdade, não admira. Admirável é ainda não ser evidente que o
sangue suja as mãos de uns e outros.
O
BOM
O
maior espectáculo da Terra
O
"euro"? Tenho gostado imenso. Não vi nenhum jogo, mas acompanho com
prazer as sessões de pancadaria que os precedem. Apreciei especialmente as
exibições de ingleses, russos e ucranianos. Além da força, destaco a táctica
(um 4-3-3 flexível) com que os alemães enfrentam cada carga policial, ou a
técnica de quase todos no cabeceamento de cervejas e no arremesso de cadeiras.
Portugal é que desilude: distraídos por repórteres tontos, os nossos
compatriotas limitam-se a berrar para as câmaras.
O
MAU
Via
legal
É
ridículo formarmos a nossa opinião a partir das opiniões de
"estrelas" de Hollywood. Também há que ouvir os respectivos
familiares. Veja-se, por exemplo, a mulher de George Clooney, que se prepara
para processar o Estado Islâmico pelos crimes de escravidão sexual, estupro e
genocídio no Iraque. Após tantos debates sobre a atitude a tomar perante o
jihadismo, alguém mostra coragem. Só hesito no rigor da solução. Talvez fosse
melhor começar por multar o EI. Ou, no máximo, lançar-lhes uma providência cautelar.
O
VILÃO
Os
que não emigram
Não
me incomoda nada que o PR e o PM vão a Paris entreter emigrantes, conviver com
a selecção da bola, comentar a coxa de Ronaldo, tirar selfies, proferir
disparates "patrióticos", fazer dos cidadãos estúpidos e, no caso do
dr. Costa, convidar os professores daqui a emigrar sem ofender as boas almas ou
as seitas sindicais. Acho óptimo, repito, que essa iluminada parelha de
estadistas vá divertir-se em França, na Patagónia ou onde quiser. O que deprime
é a certeza de que regressam.
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