segunda-feira, 7 de março de 2016

No render da guarda: virar o disco sem tocar o mesmo


BARROSO da FONTE
 Esta segunda semana de Março vai ficar marcada pela mudança do Presidente da República. Depois de nove contra um, Marcelo Rebelo de Sousa, conseguiu ganhar, sem contestação, o mais importante cargo nacional. Antes do ato eleitoral afirmei numa crónica que votaria em Ramalho Eanes se ele  tivesse concorrido. Como não concorreu votei naquele que se adivinhava vencedor incontestado. Quando assim é não vale a pena contrapor. Para tão importante serviço público sempre se desejou uma espécie de super-homem que se imponha pela cultura geral, pelo seu civismo, pela simplicidade, pela coerência e pelo humanismo. Neste caso concreto a democracia mostrou as suas virtualidades. Com a sua eleição por 52%, sobre os seus nove concorrentes, evitou uma segunda volta que implicaria mais um mês de algazarra, de lavagem de roupa suja e, poupou, acima de tudo, mais alguns milhões de euros ao erário publico.
  Depois do general Ramalho Eanes ter cumprido dois mandatos  para que foi eleito com plena  autoridade, justiça e isenção, seguiu-se Mário Soares que apenas se «salvou» das bocas do mundo pelo facto de gozar de uma auréola política que não correspondia aquilo que dele se esperava. Deu várias voltas ao mundo, gastou à tripa forra e até teve coragem de promulgar uma lei a favor dele e dos presidentes seguintes, deixando, - ostensivamente - de fora, o estatuto do seu antecessor, Ramalho Eanes. Foi terceiro na tabela dos Presidentes democratas, Jorge Sampaio que se diferenciou do camarada anterior por várias razões. Uma delas foi protagonizada pelo atual Parlamento quando veio alegar que  as legislativas se decidem na Assembleia da República e não nas urnas. Ao demitir o governo legítimo de Santana Lopes que gozava da maioria de dois terços no Parlamento, Sampaio que não chegou a devolver o cartão de militante, enquanto foi chefe de Estado, foi prepotente, faccioso e antidemocrata.
 O seu camarada António Costa veio confirmar esse despotismo ao invocar uma maioria de esquerda do Parlamento, fabricando um governo que o elevou a ser primeiro ministro, contra o resultado nas urnas.
  Cavaco Silva foi o XIX Presidente da República. Tal como Mário Soares me enganou, ao votar nele, evitando a eleição de Salgado Zenha, também este me desiludiu dos pés à cabeça. Simpatizava com ele, pelas origens familiares, pelo ano de nascimento e pelo facto de sermos alferes do mesmo tempo.
  Todos gastaram verbas astronómicas que contribuíram para avolumar a crise. Medalhou a torto e a direito, a mulher, os poderosos e os corruptos. Disso fui dando conta e apontando nomes. Confesso-me arrependido.
 De resto, para avaliar, a propensão para o pagamento de favores caraterizou todos os quatro Chefes de Estado, democraticamente eleitos: O campeão foi Mário Soares com 2.509 medalhas; o vice-campeão foi Jorge Sampaio, com 2.368; Ramalho Eanes, em terceiro, com 2007 medalhas e, finalmente, Cavaco Silva com 1.522. Ainda não vi registado o custo e as implicações de vária ordem destas 8.406 medalhas. Nem no dez de Junho instituído pelo Estado Novo para distinguir os chamados «heróis» que morriam ou ficavam atrofiados, na I grande Guerra ou, entre 1961 e 1974, nos diferentes campos de guerra subversiva, medalhavam tantas e tantos. E esses eram heróis à força!...
  O vendaval financeiro que assolou a frágil democracia portuguesa e que, em 40 anos de regime, arruinou as Finanças, licenciou a ignorância e destruiu a cidadania, em nome de modernidades, de valores inimagináveis, como os casamentos gays, o lesbianismo e a inversão dos valores absolutos.
  Portugal medra hoje no lixo. Seja ele de natureza financeira, seja pelo rendimento per capita, seja pela fome real que grassa e que retirou a esperança aos jovens, antecipou a morte dos mais idosos e semeou a descrença, a falta de incentivos e a própria vontade de viver de quem entra na idade ativa.
 Não tem havido coragem para acabar com as exceções das classes sempre privilegiadas, como os advogados que são parlamentares, docentes universitários e comentadores residentes e, por isso, remunerados. Veja-se o caso de Pedro Bacelar de Vasconcelos que não tem pejo em assinar a  facciosa crónica das quintas feiras. Não é caso único. Cito-o porque o leio semanalmente naquele matutino. Mas é indecorosa esta adjetivação profissional, ainda que legítima.
  Claro que Marcelo também já terá passado pela mesma situação. Se o fez à base da acumulação de funções, censuro-o. Mas já deixou o ensino. E tudo ele deverá fazer para não garantir emprego aos filhos, como fez, por exemplo, Jorge Sampaio e, recentemente, João Soares.
 S nada fizer para que haja justiça distributiva, se mantiver o rumo dos antecessores, a medalhar a corrupção, os amiguinhos e as classes influentes, poderá não ser aquilo que prometeu e verá perigar a reeleição daqui a cinco anos.
    Já tarda um Chefe de Estado que sirva de modelo humano, social e político.
 Será através do exemplo de verdade, de coerência, de saber, de justiça e de equidade social que a democracia se exerce em plenitude.

                                                   Barroso da Fonte

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