Vasco Pulido Valente -
jornal público
Se o PS e o PSD
alternassem pacificamente no poder, a pobreza da Pátria não os deixaria fazer
muito mal, nem muito bem.
O dr. Centeno (e com ele
o governo de Costa) parece um maníaco daqueles que mudam o dinheiro de bolso na
esperança de que ele cresça. Ainda se houvesse dinheiro suficiente para ficar
algum nos bolsos menos fundos, o exercício podia ter um mérito. Mas não há e,
no fim do dia, acaba tudo na miséria do costume. Quem conhece a história do
Portugal da “Regeneração”, o regime mais comparável ao deste de agora, sabe que
a dívida e a trapalhada financeira sempre foram uma das mais nobres características
da raça. E quem se quiser rir com as nossas mentiras públicas que leia Ramalho
e um bocadinho de Eça. São os dois mais pertinentes do que a retórica por aí
anda em curso, tanto a dos cavalheiros que fazem contas, como a dos que não
fazem. De resto, no tempo deles, de quando em quando, ainda se escrevia
português.
De qualquer maneira, a
aventura de Costa e dos seus sócios serviu para revelar uma verdade básica: a
III República deixou de ter partidos. Tem uns bandos que andam à procura de um
emprego ou de popularidade; e tem um museu de Arte Antiga que se chama Partido
Comunista Português. As diferenças não passam do seguinte: a esquerda quer
aliviar os pobres, por meio de um aumento ridículo do respectivo rendimento; a
direita quer tirar aos pobres meia dúzia de tostões mais, para “consolidar as
finanças” e contentar os ricos. Infelizmente, nem à esquerda, nem à direita se
vêem os meios das políticas que prometeram. E, pior do que isso, Portugal por
um lado e a “Europa” por outro não permitem que elas sejam levadas muito a
sério ou muito longe. Em substância, sobra odium
theologicum, que esse, pelo menos, não falta.
O PS vive hoje na
incompreensível ilusão de que é, ou se prepara para ser, um partido radical. O
PSD, segundo Passos Coelho, é um partido social-democrata, apenas desviado
provisoriamente do seu caminho pela maldade do mundo. Suponhamos que existia um
método qualquer, com certeza esotérico, para separar estas magníficas visões da
humanidade, a oposição entre elas não justificava com certeza as questiúnculas
com que a televisão e a imprensa nos moem o juízo. E a prova está em que acabou
por ser preciso arranjar umas tantas querelas dúbias como a TAP ou a eutanásia,
para tapar os buracos que a política começava a abrir. Se o PS e o PSD alternassem
pacificamente no poder, a pobreza da Pátria não os deixaria fazer muito mal,
nem muito bem. E o PCP que lá se divertisse com as suas Câmaras do Alentejo e
os seus sindicatos, na paz que se deve à velhice.
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