Costa Pereira Portugal, minha terra. |
Pessoa amiga fez-me chegar à mão o recorte de um
jornal que, como tantos outros, acaba de
dar o seu ultimo suspiro, ou então entrada em prolongado estado sonambúlico. O JORNAL
POETAS & TROVADORES que tinha por director e proprietário Barroso da Fonte.
É uma perda para o património editorial,
mas sobretudo para os nossos poetas que no anonimato, deixam de ter um espaço,
onde divulgar os seus trabalhos e se tornarem conhecidos, dado que as grandes
empresas de comunicação e informação, são só para lançamento de amigos e
afilhados. Lamentando a extinção deste órgão de divulgação e informação
cultural, transcrevo, com pesar, o editorial
de seu ultimo numero:
Barroso da Fonte |
“Escrevo esta crónica nostálgica no dia de Natal
de 2015. Talvez seja o editorial mais desolado de quase 63 anos de jornalismo. Iniciei-me
em 24 de Janeiro de 1953. Raros foram os dias em que não escrevi, fosse o que
fosse. Quase sempre para reivindicar justiça, solidariedade e paz social. De
pouco me valeu, pela vida fora, este frémito que os poderosos usam e abusam para
espezinhar, cada vez mais os indefesos, os inválidos e os famintos.
O que se diz dos homens, aplica-se aos jornais.
Nascem, vivem e morrem com a consciência plena de que cumprem a sua missão, mas
nunca conseguem contribuir para os seus objectivos: denunciar para corrigir, esclarecer
para formar, repreender para humanizar.
Este Jornal foi registado na antiga Direcção-Geral
da Comunicação Social. Em 6 de Novembro
de 1979. O primeiro número apareceu em Maio de 1980. E chegou em forma de
revista. Sempre com vontade de ser grande, mas nunca conseguindo meios para dar
o grande salto qualitativo que ansiava. Napoleão Palma fora o director. Mas não
teve sorte e por ali se ficou.
Em 1985 José de Azevedo retomou-o e prolongou-lhe
a vida até 12 de Março de 1997. A última edição saíra em 1994. José Azevedo
faleceu em acidente de viação, em 12-02-1997.
Por ofício de 7-01-1998 o jornal foi registado em
nome pessoal do signatário. Alterámos o formato para o tablóide. Chegou a
publicar-se mensalmente, como encarte do quinzenário a Voz de Guimarães. Em
1999 passou a trimensário autónomo até que a crise se fez sentir decisivamente.
Nunca este jornal recebeu fosse o que fosse de
publicidade, nem pública, nem privada. Sendo uma publicação nacional, com sede
em Guimarães, que em 2012 foi a Capital Europeia da Cultura, onde se esbanjaram
107 milhões de euros de maneira escandalosa e cujo maior responsável foi condecorado
pelo Presidente da República, este Jornal de cultura nunca foi ouvido nem
achado, fosse para o que fosse. Este contraste paradoxal de tudo para o fútil e
do nada para o essencialmente cultural é o exemplo claro de como se gastam os
fundos comunitários e nacionais, naquilo que apenas dá glória a algumas dúzias,
em detrimento de milhões de contribuintes a quem ninguém dá ouvidos. Ainda hoje
, volvidos quase quatro anos, há mamarrachos espalhados pela cidade que nunca
ou poucas vezes abriram as portas, que custaram muitos milhões, como há processos
judiciais de calotes e de fretes de que nunca mais se ouviu falar, mexendo-se
os seus algozes como heróis nacionais. Que, imunes à justiça e às suspeitas de
que a culpa morrerá solteira, nunca mais terão explicações convincentes. É este
o país que temos, com a cultura transformada em esterco da agricultura, que dá
nabos, cebolas e nabiças para todos os gostos.
O signatário deste editorial, ao despedir-se dos leitores do Jornal dos Poetas
& Trovadores, que algumas vezes sentiu chorarem lágrimas de alegria pela
chegada do periódico e que, agora, talvez chorem de compaixão pelo mensageiro
dessas horas de leitura, não pode silenciar a injustiça com que tratam os
assuntos sérios, trocando-os por brincadeiras de mau gosto.
O voluntarismo em que me envolvi com este
projecto levou-me ao desânimo pessoal e familiar. Nele investi o meu apreço
pelos poetas populares, alguns dos quais nunca teriam visto os seus poemas em
letra de imprensa se este jornal não tivesse existido. O empenho em repercutir os
méritos literários de outros autores mais calejados, em prosa e em verso, mas
aos quais outras tribunas, impressas, radiofónicas ou televisivas não dão
ouvidos.
Sou abertamente contra os canais televisivos que
tresandam com o volume de informação cor-de-rosa e que apenas dão imagem e voz
aos amigalhaços desses órgãos e seus camaradas. «Fabricam» autores que nunca o
seriam, em detrimento dos outros autores verdadeiros do «país real». O país
está cheio de exemplos desses.
Por tudo isso entendi pôr um fim ao Jornal dos
Poetas & Trovadores. Continuaremos a editar livros de poetas e/ou
prosadores. Talvez o jornal volte ao formato de revista e reapareça com cara
diferente. Se tal acontecer darei notícias online.
Como proprietário e director deste periódico peço
desculpa aos leitores e assinantes que foram mais solidários, sendo com esses
proventos que pagava os encargos da expedição por correio. Os custos da
impressão sempre saíram do nosso pobre bolso de reformado. E a parte gráfica resultou
da competência técnica do meu filho João Pedro.
Os dois nos despedimos, até quando Deus quiser.
O director
In JORNAL DOS POETAS & TROVADORES”.
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