07 Março 2015, 19:16 por Lusa
O jornal britânico Financial
Times classifica hoje Angola como uma cleptocracia e os seus dirigentes como
uma elite indiferente ao resto da população, num artigo sobre o novo livro do
investigador Ricardo Soares de Oliveira.
O texto, com o título 'Porque o
Ocidente adora um cleptocrata', publicado hoje na secção de Fim de Semana do
jornal britânico, aborda o lançamento do livro 'Magnificent and Beggar Land:
Angola Since the Civil War', de Soares de Oliveira.
O texto começa por dizer que
"mesmo pelos padrões dos Estados petrolíferos, Angola é quase risivelmente
injusta", e descreve que "os oligarcas deixam gorjetas de 500 euros
nos restaurantes da moda em Lisboa, enquanto cerca de uma em cada seis crianças
angolanas morrem antes de terem cinco anos".
No artigo, que estava no sábado
ao final da manhã na primeira página do site do Financial Times, refere-se que
"esta pequena cleptocracia é aceite como uma parte integrante do sistema
ocidental" e explica-se que são os expatriados que fazem a economia
angolana mexer, desde as consultoras que ajudam a definir a política económica
até aos bancos que financiam os negócios.
"Os oligarcas angolanos
habitam a economia do luxo global das escolas públicas britânicas, dos gestores
de activos suíços, das lojas Hermès, etc", lê-se no jornal, que classifica
o livro sobre Angola como "maravilhoso".
O livro, de resto, foi lançado no
final da semana passada em Londres e é o segundo da autoria de Ricardo Soares
de Oliveira, um professor de Política Africana em Oxford e faz parte do
Instituto de Políticas Públicas Globais, em Berlim.
No texto que serve de lançamento
para o livro, é feito um retrato de fortes contrastes entre a elite e o resto
da população angolana, por exemplo quando se lê que "a clique dirigente
consiste largamente numas poucas famílias de raça mista da capital, Luanda, que
considera que os cerca de 21 milhões de angolanos negros no mato ou musseques
são imperfeitamente civilizados, e com pouco desejo para os educar".
A relação entre Portugal e Angola
faz também parte da análise do jornalista que assina o texto, que cita o autor
do livro dizendo que "por trás de cada magnata angolano há uma equipa de
gestão maioritariamente portuguesa", que não se preocupa com as
consequências da sua gestão, "por isso os estrangeiros bombam petróleo,
fazem luxuosos vestidos e constroem aeroportos sem sentido no meio do
nada".
Criticando de forma directa as
luxuosas viagens à Europa, os passeios entre capitais europeias recorrendo a
aviões a jacto, o artigo prossegue argumentando que a crise económica fez com
que os governos ocidentais procurassem novos negócios sem olhar ao contexto
político desses países, contando com o exemplo da conhecida política de não
interferência da China, um dos novos grandes investidores em África na exploração
de recursos naturais.
Depois de criticar os governos
ocidentais por não fazerem a distinção entre o dinheiro dos governantes e o
dinheiro dos Estados, porque afinal "eles empilham-no nos nossos bancos e
gastam-no nos nossos quadros, em cirurgias plásticas e em casas de praia, para
além de ações das nossas empresas, especialmente em Portugal", o artigo
termina abordando a descida do preço do petróleo.
"A elite fez a festa durante
o crescimento do petróleo. O provável impacto no regime do colapso nos preços é
pouco, porque se só se está a alimentar uma pequena percentagem do povo, 50
dólares por barril chega e sobra".
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