quarta-feira, 8 de abril de 2015

Cargo Presidencial está em «leilão»



Barroso da Fonte
   Se não está parece.  A política encontra-se de tal modo bandarilhada que o mais importante cargo republicano que, a cerca de um ano de distância, praticamente, todos os dias, os audiovisuais nos intoxicam com nomes, ora de políticos profissionais, ora com  sindicalistas de tendência marxista, ora de «papagaios» de cativeiro que falam muito, mas acertam pouco, porque o saber total é um dom de poucos que, não se querem confundir com os muitos, que decoram cassetes como autómatos. Essa é a praga da democracia que fabrica ídolos de cera e, raramente, sábios que a democracia não consegue destrinçar no seio das multidões.
    O republicanismo foi implantando entre nós, em 1910.  Manuel de Oliveira que na semana passada nos deixou e que choramos pelas suas qualidades humanas e artísticas, seria dos poucos que nasceu na Monarquia. Na sua ausência talvez sejam muito raros aqueles que nasceram antes de Outubro de 1910. E mesmo que haja um ou outro, ainda vivos, não saberiam hoje dar testemunho sobre as diferenças entre os dois regimes. Bastou-me estudar Alfredo Pimenta, (1882-1950), uma das personalidades mais polémicas e mais influentes do pensamento Português do século XX para ser um seu fã incondicional. Academicamente tive de ler as duas centenas de livros que assinou em meio século para saber que foi anarquista, socialista e, por fim, monárquico. Os historiadores profissionais e mesmo aqueles que tiveram de estudar os seus «Elementos da História de Portugal», adotados no ensino oficial do Estado Novo, saberá que foi dos maiores polémicos desse século e que, sendo um incondicional  Salazarista,  polemizou com ele sobre a «censura» e contra muitas das orientações dos seus governantes,como a PIDE.
  Invoco este Conservador da Torre do Tombo, durante 20 anos (1930-1950), para dizer que, quanto mais avanço sob a influência republicana, mais torço pela escolha do cidadão ideal, para que, depois disso, seja ele a rodear-se dos melhores, dos mais sérios, dos mais inteligentes e dos mais humanistas. É que, se o rei for desonesto, pouco inteligente, injusto e, socialmente, pouco sensível,  certamente encontrará, entre os seus assessores, alguém que lhe incuta ideias justas, sérias e humanitárias.
 Dos quatro Presidentes eleitos pelo povo, nestes quase 40 anos de República, já vimos que só o primeiro deles – na minha perspetiva - Ramalho Eanes, foi sério e justo. Bastará analisar a injustiça que Mário Soares contra ele promulgou, ao exclui-lo do «Estatuto» de privilégio que produziu para si e para aqueles que vieram depois dele. Mas, quando um seu sucessor, promulgou a legislação que procurava repor a justiça que Soares, malevolamente, decretou, Eanes prescindiu de mais de um milhão de euros, a favor do Estado. Sampaio também não serviu isento de injustiças, como por exemplo, de condecorar dois irmãos que são primos direitos dele, havendo dezenas de milhares de médicos com melhores credenciais, a começar pelos honorários nos consultórios privados, sabendo-se que continuam a ser altos funcionários do Estado, nunca aceitando o regime de exclusividade que  a maioria da classe pratica.
 Sampaio  e Soares continuam a viver em palácios do Estado, dispondo de motorista, de segurança privada, de viaturas pagas pelos nossos impostos, de privilégios que são uma afronta à pobreza.
     Cavaco, sendo o primeiro que teve de optar apenas por um dos vencimentos, coisa que os seus dois antecessores não fizeram, por não serem funcionários públicos, teve o azar de se rodear, quer no governo, quer na Presidência da República, de alguns dos mais nojentos políticos que o país conheceu.  Dessa mancha nunca mais se livrará.
 É por tudo isto que escolhi este tema para a minha crónica semanal. Votei em Ramalho Eanes e voltaria a votar se fosse candidato em 2016. Na 2ª eleição votei em Mário Soares, para me livrar de Salgado Zenha. Na 1ª tinha votado em Freitas do Amaral. Se na altura eu tivesse acertado preferia votar no diabo. Votei em ambas eleições em Cavaco por ser, como eu, filho do povo e ter ido à guerra. Nascemos no mesmo ano e ambos servimos no Ultramar. Uma solidariedade que para mim conta muito.  Alegrei-me, agora, quando vi Sampaio da Nóvoa,  anunciar a candidatura em 2016. Vi nisso uma abertura a quem gastou 60 anos a servir o Estado, como docente e reitor de uma Universidade Pública, retirado dos partidos políticos. Novo, culto e sério, como julgo que seja, talvez lhe entregue o meu voto. Mas, ao ler na imprensa do dia de Páscoa que o dirigente Socialista Sousa Pinto «foi demolidor para com  Sampaio da Nóvoa», sendo ele membro do Secretariado do PS, fico atónito. É dele a frase: «Não lhe (a Sampaio da Nóvoa) basta a sublime virgindade de, em 60 anos, nunca se ter metido com partidos, de que fugiu como do tifo. Parece que agradece a Deus a graça de ser pobre...» Sinceramente, pasmo com esta mentalidade de um deputado que ajuda a fazer e a propor leis (como ele fez com a dos gays e lésbicas). Será que ser pobre é um índice de menoridade e que ser virgem em relação aos partidos políticos é uma nódoa cívica, cultural e impeditiva de direitos comuns a qualquer ser humano?
                                                                                                      Barroso da Fonte

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