Barroso da Fonte |
O republicanismo foi implantando
entre nós, em 1910. Manuel de Oliveira
que na semana passada nos deixou e que choramos pelas suas qualidades humanas e
artísticas, seria dos poucos que nasceu na Monarquia. Na sua ausência talvez
sejam muito raros aqueles que nasceram antes de Outubro de 1910. E mesmo que
haja um ou outro, ainda vivos, não saberiam hoje dar testemunho sobre as
diferenças entre os dois regimes. Bastou-me estudar Alfredo Pimenta,
(1882-1950), uma das personalidades mais polémicas e mais influentes do
pensamento Português do século XX para ser um seu fã incondicional.
Academicamente tive de ler as duas centenas de livros que assinou em meio
século para saber que foi anarquista, socialista e, por fim, monárquico. Os
historiadores profissionais e mesmo aqueles que tiveram de estudar os seus
«Elementos da História de Portugal», adotados no ensino oficial do Estado Novo,
saberá que foi dos maiores polémicos desse século e que, sendo um
incondicional Salazarista, polemizou com ele sobre a «censura» e contra
muitas das orientações dos seus governantes,como a PIDE.
Invoco este Conservador da Torre do
Tombo, durante 20 anos (1930-1950), para dizer que, quanto mais avanço sob a
influência republicana, mais torço pela escolha do cidadão ideal, para
que, depois disso, seja ele a rodear-se dos melhores, dos mais sérios, dos mais
inteligentes e dos mais humanistas. É que, se o rei for desonesto, pouco
inteligente, injusto e, socialmente, pouco sensível, certamente encontrará, entre os seus
assessores, alguém que lhe incuta ideias justas, sérias e humanitárias.
Dos quatro Presidentes eleitos pelo
povo, nestes quase 40 anos de República, já vimos que só o primeiro deles – na
minha perspetiva - Ramalho Eanes, foi sério e justo. Bastará analisar a
injustiça que Mário Soares contra ele promulgou, ao exclui-lo do «Estatuto» de
privilégio que produziu para si e para aqueles que vieram depois dele. Mas,
quando um seu sucessor, promulgou a legislação que procurava repor a justiça
que Soares, malevolamente, decretou, Eanes prescindiu de mais de um milhão de
euros, a favor do Estado. Sampaio também não serviu isento de injustiças, como
por exemplo, de condecorar dois irmãos que são primos direitos dele, havendo
dezenas de milhares de médicos com melhores credenciais, a começar pelos
honorários nos consultórios privados, sabendo-se que continuam a ser altos
funcionários do Estado, nunca aceitando o regime de exclusividade que a maioria da classe pratica.
Sampaio e Soares continuam a viver em palácios do
Estado, dispondo de motorista, de segurança privada, de viaturas pagas pelos
nossos impostos, de privilégios que são uma afronta à pobreza.
Cavaco, sendo o primeiro que teve
de optar apenas por um dos vencimentos, coisa que os seus dois antecessores não
fizeram, por não serem funcionários públicos, teve o azar de se rodear, quer no
governo, quer na Presidência da República, de alguns dos mais nojentos
políticos que o país conheceu. Dessa
mancha nunca mais se livrará.
É por tudo isto que escolhi este tema
para a minha crónica semanal. Votei em Ramalho Eanes e voltaria a votar se
fosse candidato em 2016. Na 2ª eleição votei em Mário Soares, para me livrar de
Salgado Zenha. Na 1ª tinha votado em Freitas do Amaral. Se na altura eu tivesse
acertado preferia votar no diabo. Votei em ambas eleições em Cavaco por ser,
como eu, filho do povo e ter ido à guerra. Nascemos no mesmo ano e ambos
servimos no Ultramar. Uma solidariedade que para mim conta muito. Alegrei-me, agora, quando vi Sampaio da
Nóvoa, anunciar a candidatura em 2016.
Vi nisso uma abertura a quem gastou 60 anos a servir o Estado, como docente e
reitor de uma Universidade Pública, retirado dos partidos políticos. Novo,
culto e sério, como julgo que seja, talvez lhe entregue o meu voto. Mas, ao ler
na imprensa do dia de Páscoa que o dirigente Socialista Sousa Pinto «foi
demolidor para com Sampaio da Nóvoa»,
sendo ele membro do Secretariado do PS, fico atónito. É dele a frase: «Não
lhe (a Sampaio da Nóvoa) basta a sublime virgindade de, em 60 anos, nunca se
ter metido com partidos, de que fugiu como do tifo. Parece que agradece a Deus
a graça de ser pobre...» Sinceramente, pasmo com esta mentalidade de um
deputado que ajuda a fazer e a propor leis (como ele fez com a dos gays e
lésbicas). Será que ser pobre é um índice de menoridade e que ser virgem em
relação aos partidos políticos é uma nódoa cívica, cultural e impeditiva de
direitos comuns a qualquer ser humano?
Barroso
da Fonte
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