Diniz de Abreu in: Jornal Sol |
Um obscuro ex-secretário de Estado de um Governo
de José Sócrates lembrou-se de informar os media da intenção de escrever ao
Presidente da República, a defender que o seu antigo primeiro-ministro seja
condecorado.
A vitória de António Costa está a despertar o
reaparecimento, em força, dos devotos de Sócrates
A iniciativa encontrou, como de costume, eco
imediato na comunicação social e não faltaram as carpideiras a juntarem-se ao
lamento de Ascenso Simões, o incomodado autor da carta anunciada.
Descontada a originalidade de vermos
correspondência citada nos jornais antes de ser lida pelo destinatário, nota-se
que a recente vitória interna de António Costa no PS está a despertar, como era
de prever, o reaparecimento, em força, dos devotos de Sócrates.
Andavam escondidos e agora almejam reabilitá-lo
à pressa, seja à conta da 'medalha de ouro' da Covilhã - terra grata àquele seu
filho pelos projectos de inesquecíveis casinhas, semeadas pela vizinha Guarda
-, seja exigindo agora a Cavaco que imponha as insígnias de relevantes serviços
públicos a quem conduziu o país ao limiar da bancarrota.
Queixa-se o ex-governante, sem corar - já
acolitado por Manuel Alegre -, de que Sócrates não é menos do que os outros,
que foram igualmente agraciados pelo facto de terem um dia ocupado o lugar de
primeiro -inistro.
Admita-se que houve quem recebesse a distinção
com menos mérito do que outros. Mas não há memória de um primeiro-ministro que
tivesse deixado o país tão de rastos - ajoelhado diante da troika -, como se
viu com José Sócrates. A menos que se queira condecorar o desastre.
Ora, como o próprio Ascenso Simões reconhece, o
chefe das Ordens “não pode promover o abastardamento das mais altas
condecorações da Nação”.
Espera-se, por isso, que Cavaco Silva tenha a
frontalidade de romper com a tradição, que nada obriga, e não colabore na farsa
que começou a ser montada no Município da Covilhã. Por uma questão de elementar
pudor político. E de dignidade institucional.
Mas o impudor parece ter despertado em várias almas
socialistas.
Conta-se, sem desmentido, que outro
ex-governante de Sócrates, o inefável Manuel Pinho, promete avançar com um
processo judicial contra o BES para receber uma reforma antecipada no valor de
dois milhões de euros, que, alegadamente, lhe terá sido prometida por Ricardo Salgado,
numa carta de conforto.
Adiante-se que Manuel Pinho recebia um salário
mensal bruto de 39 mil euros (reduzido agora, draconianamente, pelo executivo
do Novo Banco) como administrador de uma holding sem actividade, a BES África.
É mais um exemplo da gestão pródiga do ex-líder
do Grupo Espirito Santo, que sabia distinguir os seus fieis. Sobeja, todavia, a
dúvida sobre se a carta de Ricardo Salgado vale os dois milhões reclamados por
Pinho.
Com o colapso do BES - e a família Espirito
Santo num caos -, resta ao ex-ministro o recurso aos tribunais. Mandaria o
recato outra atitude. Mas, como se viu nas inesquecíveis cenas parlamentares -
que ditariam a sua queda como ministro -, o bom senso é algo que nem sempre o
acompanha.
Talvez num destes dias tenha a sorte de um
abraço público de Mário Soares, a dizê-lo injustiçado, como se viu com Isaltino
Morais…
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