Na foto, de Jorge Lage, a «Oliveira de Tavira» a árvore mais antiga de Portugal com cerca de 2.000 anos. Coeva de Jesus Cristo. Situa-se no aldeamento turístico Pedras d’El Rei, concelho de Tavira. |
Segundo a mitologia grega,
Atenas, a deusa da sabedoria e da paz e Poseidon, o deus dos mares, discutiram
sobre quem daria o seu nome à nova cidade da região de Ática. Zeus, o rei dos
deuses, decidiu que ganharia quem apresentasse a melhor oferta. Então, Poseidon
espetou o seu tridente num rochedo e logo fez brotar uma fonte de água
cristalina. Atenas, por sua vez, brandiu a sua lança no solo e imediatamente surgiu
uma oliveira. Esta foi considerada a oferta mais valiosa, pois proporcionava
iluminação, aquecimento, alimentação, medicamentos, cosméticos, etc. Assim, de
acordo com a lenda, nasceu a cidade de Atenas que, ainda hoje, possui a
oliveira como seu símbolo hierárquico.
Os cientistas, com base nos
estudos efectuados sobre folhas petrificadas, concluíram que a oliveira possui
uma história de 60 mil anos, em que a realidade se confunde com a lenda.
Conhecida dos assírios e babilónios, teria sido apresentada no Egipto pela deusa
Isis e na Grécia por Minerva. Os hebreus já a conheceriam desde o tempo de
Adão. Mas, fosse qual fosse a sua origem, sempre foi um símbolo de paz,
fecundidade, força e purificação.
A Olea europaea L., ou a sua
variedade selvagem “sylvestris” (zambujeiro), é claramente oriunda da bacia
mediterrânica, dando-se em solos alcalinos e soalheiros com clima idêntico ao
da citada região. Abro um parêntesis para recordar que, na última viagem à
Madeira, fui encontrar em Câmara de Lobos, várias oliveiras muito viçosas. Logo
indaguei se davam azeitonas. Responderam-me que serviam apenas como espécie
ornamental, pois jamais frutificavam.
Creio que não vale a pena
descrever, em pormenor, as características botânicas desta árvore milenária,
pois toda a gente a conhece com o seu tronco acinzentado e as suas folhas
coriáceas, lanceoladas e verde-claras. Também todos conhecem as azeitonas que
começam por ser verdes e gradualmente vão escurecendo. E até “vão à mesa do
rei”!
Pondo de parte os aspetos
culturais, sociais, etnográficos, mitológicos, religiosos, históricos e
económicos da oliveira que, só por si, dariam para elaborar volumosos tratados,
iremos deter-nos, apenas e resumidamente, nos atributos da área da saúde, já
que se trata de uma planta medicinal das mais preciosas, embora, por vezes,
seja injustamente subavaliada.
Comecemos pela casca que é
adstringente e febrífuga. Usa-se o seu cozimento na proporção de 50g para um
litro de água.
As folhas são vasodilatadoras e
diuréticas, sendo adequadas para o reumatismo, a gota, a arteriosclerose, a
diabetes e sobretudo, a hipertensão arterial. Fervem-se lentamente 200g de
folhas num litro de água, até reduzir o líquido para metade do seu volume
inicial.
O azeite deve ser tomado em jejum
(duas colheres de sopa) como laxativo, ou usado em clisteres evacuadores (50cl
para um litro de água, adicionado duma substância emulsionante). Para
queimaduras, é eficaz a aplicação de uma mistura de duas colheres de azeite com
uma clara de ovo bem batida.
Da dieta mediterrânica em que o
azeite é ingrediente central, também não iremos falar, dada, felizmente, a sua
atual divulgação, mas valerá a pena referir os benefícios deste salutar óleo
vegetal para atenuar conhecidas enfermidades.
Problemas cardíacos – Está
comprovado que o azeite reduz o nível das gorduras de baixa densidade, ou seja
o “mau colesterol”, aumentando o teor das gorduras proteicas de alta densidade
– o “colesterol bom”. Desta maneira, evita a formação de gordura nas artérias e
reduz os riscos de enfartes de miocárdio.
Úlceras – O azeite não irrita o
estômago, reduz os líquidos gástricos e ajuda na cura das úlceras.
Pele – O azeite contém vitaminas
B e E e provitamina A, protegendo a pele das radiações solares nocivas e das
queimaduras.
Sistema nervoso – A clorofila
existente no azeite contribui para o aumento das células e reforça o
metabolismo e o dinamismo do sangue.
Cancro – O consumo regular de
azeite reduz até 25% as probabilidades de cancro na mama, segundo estudos da
conceituada universidade americana de Harvard.
Velhice – As substâncias
antioxidantes contidas no azeite protegem as células do cérebro e ajudam a
envelhecer bem.
Bílis – O azeite contribui para o
bom funcionamento da bílis.
Ossos – O azeite tonifica o
esqueleto e o desenvolvimento dos ossos. É particularmente importante para a
prevenção da osteoporose e para o fortalecimento da estrutura óssea das
crianças.
Pâncreas – O azeite activa o
funcionamento do pâncreas, pelo que os diabéticos que o consomem, necessitam de
menos insulina.
Finalmente, não devemos menosprezar
o uso externo do azeite no fortalecimento das unhas, no alívio de pés cansados,
no brilho e saúde capilar, na suavidade das mãos e da pele, nos preparados
contra as rugas e em imensos tratamentos cosméticos.
Nos últimos tempos temos
menosprezado o cultivo da oliveira, ao contrário do que acontece em Espanha, na
Itália, na Grécia e na Turquia. Nestes dois últimos países, como tivemos
recentemente ocasião de comprovar, as oliveiras são adoradas e protegidas
legalmente, sendo as suas virtudes alimentícias e curativas ensinadas às
crianças, desde os jardins-de-infância. No México, país que não tem oliveiras,
o azeite é vendido nas farmácias, como valioso medicamento.
Com este modesto escrito, mais
não se deseja do que aumentar a sensibilidade dos cidadãos face a um património
natural vivo que urge estudar, enaltecer, intensificar a produção e utilizar de
forma adequada e criteriosa.
Miguel Boieiro
Jorge Lage |
Nota: Miguel Boieiro nasceu na
«Margem Sul do Tejo – Seixal», com Curso de Contabilidade e Administração. Tem
um currículo muito rico, de que destaco, ter sido Presidente do Município de
Alcochete durante 19 anos, é Presidente da Assembleia Municipal e foi
Presidente da Assembleia Municipal do Seixal. É Presidente da Sociedade
Portuguesa de Naturologia e especialista em Esperanto. Publica textos em vários
jornais e editou o livro «As Plantas, nossas irmãs». Vai apresentar o seu novo
livro «Plantas para curar e para comer»: 19OUT2014 na Sociedade Portuguesa de
Naturalogia (Lisboa), 07NO2014 na UNICEPE (Porto), 10NOV2014 na Biblioteca
Municipal dos Coruchéus (Lisboa) e 15NOV2014 na Biblioteca Municipal de
Alcochete. Este texto foi produzido no âmbito da comunicação que fez na
Universidade Sénior dos Coruchéus. Pelo que a Oliveira representa para
Mirandela e a nossa região dá-se a conhecer aos amigos leitores este texto.
Conheci (e sinto-me honrado) o Miguel Boieiro por intermédio de uma amiga comum
e investigadora, Teresa Perdigão. (Jorge Lage)
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