sábado, 20 de setembro de 2014

Barroso da Fonte - Coincidências, excrescências e outras indecências fatais



BARROSO da FONTE
 No dia (15) em que as aulas começaram, atabalhoadamente, foi anunciada a condenação a três anos e meio prisão com pena suspensa, da ex-ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, bem como de igual pena para o secretário-geral do Ministério da Educação, à data dos factos,  João da Silva Batista, mais o  advogado João Pedroso, irmão do antigo ministro Paulo Pedroso. Factos provados: «prevaricação de cargo público». A ex-ministra e o secretário-geral do Ministério terão ainda de pagar ao Estado 30 mil euros cada um. E João Pedroso reporá 40 mil euros. Tudo porque a ex-ministra, com a concordância técnica do Secretário-geral «contratou João Pedroso, por ajuste directo, para exercer tarefas de consultoria jurídica, a partir de janeiro de 2007, contra o pagamento de 220 mil euros (sem IVA). O trabalho não chegou a ser concluído e o jurista devolveu parte das verbas». Esta contratação partidária, descarada e ostensivamente provocante, gerou, ao tempo, páginas e páginas de notícias. Já quase ninguém se lembrava do folhetim. Os três condenados logo anunciaram que vão recorrer. Pudera! Já cheira a eleições...
Duas semanas antes haviam sido condenados 36 arguidos do caso Face Oculta, mas desta vez a prisão efectiva. Os mais graúdos foram o ex- ministro Armando Vara, o ex-Secretário de Estado José Penedos, ex-administrador da REN e empresário de sucatas, José Godinho.


Também estas três dúzias de réus anunciaram recurso e, pelas mesmas razões que se vislumbram, cresce a curiosidade em antever se os tribunais de primeira instância que desta vez  revelaram ter coragem para punir caça grossa, vão ser respeitados, ou se outros valores mais alto se alevantam.
Atrás destes dois terramotos que agitaram o verão quente que por sinal teve menos incêndios e mais chuva e por que, não há duas sem três, a breve trecho será o caso do BPN, a aquecer o próximo inverno. Veremos se os amigalhaços de Oliveira e Costa, espécie de samaritano em funções de vaguemestre dos «bichinhos de S. Francisco», vão «comer pela mesma rasa» ou se o padrão das Teigas, vai mudar de agulha por causa do «Habeas corpus» natalício.
E, como estas coisas da banca e da política se enredam como as cerejas na canastra, lá para daqui a um ano, o ambiente irá aquecer não só por causa das mais disputadas eleições de sempre, como teremos em arena os réus do BES e afins, porque o dinheiro e o poder, não olham a meios para atingirem os seus fins.
Escrevo este feixe de notícias no dia 15 de Setembro, que semeou chuva forte e trovoadas por todo o país e que coincidiu com muitas trapalhadas nas ruas, nas escolas, nos refeitórios e nas secretarias do ministério da Educação. Ficará na história desta data um sinal claro de irresponsabilidade a mais, em zelo a menos, no âmbito da cidadania básica:
             O poder político não consegue levantar o dorso porque a sociedade apodreceu e os seus   membros vogam como folhas de árvore no alto mar. A nada podem agarrar-se. E nem a espuma das tempestades pode servir de bóia aos náufragos porque desfalecem ao primeiro mergulho. As grandes reformas nacionais atiraram o país para um beco sem saída. Estrebuchamos uns contra os outros e já não salva-vidas que nos socorram.
    O governo quis fazer todas as reformas, numa espécie de competição selvagem. A primeira foi a administrativa. Esquartejou o pequeno rectângulo à beira-mar plantado. Resultaram monstros quando deveriam nascer seres perfeitos. 
  A segunda foi a da Justiça: pior a emenda do que o soneto. Os monstros só podem gerar o caos. Foi o que aconteceu, sendo certo de5 de Setembro foram as crianças a servir de escudo a todas as contestações. Com os desordeiros profissionais do costume a cantar vitória em todos os canais televisivos; com os encarregados de educação, de mãos dadas aos filhos, protestando com panelas, cartazes e chavões arruaceiros; com empreiteiros manhosos que não cumprem os prazos das obras para que as aulas comecem a tempo e horas quem podem bater palmas e confiar no futuro?
  Apesar de velha e rabugenta a democracia que nos comanda, nos amedronta e nos tira a vontade de viver, Marinho Pinto que foi vedeta nas últimas eleições europeias, deu o dito por não dito, mandou às malvas o Partido da Terra que o guindou a deputado europeu. Já não lhe bastam os mais de 21 mil euros mensais que aufere. Dispondo do mediatismo que conquistou enquanto foi bastonário da Ordem dos Advogados e do estatuto de tribuno parlamentar intocável, eis que chamou «fariseus» àqueles que o elegeram e anunciou, já, a criação de mais um partido político para ser o  líder de novos «fariseus» que venham a votar nele.
 Foi um verão murcho, macambúzio e turbulento como nos habituámos a ser com a crise das crises.
                                                                                                  Barroso da Fonte
   

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