quarta-feira, 7 de maio de 2014

Açores - Um Pedaço de Portugal, suspenso no alto mar-I


Por: Costa Pereira
   Portugal, minha terra.


Situado em pleno Oceano Atlântico, o arquipélago dos Açores dista cerca de 1500 km de Lisboa e, como nas antigas escolas primárias era ensinado, é constituído por nove ilhas de origem vulcânica, a saber: Santa Maria, São Miguel, Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial, Flores e Corvo. No seu todo estas ilhas ocupam uma área de 2335km2 e estão divididas em três grupos: do Central, fazem parte a Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial; do Oriental, São Miguel e Santa Maria; e do Ocidental, Flores e Corvo. Quanto à etimologia dizem andar relacionada com "Açores", nome de ave de rapina que se supõe existiria em abundância no arquipélago, ao tempo da descoberta. Também em relação à origem do arquipélago, alguns investigadores dizem trata-se de vestígios da Atlântida - ilha ou continente lendário, embora Platão o tenha descrito como histórico, que teria existido e desaparecido no Atlântico por causa de um terramoto e cuja localização já deu lugar a muitas teorias.

Da descoberta e povoamento também não há certezas quanto ao ano nem ao mês em que tais eventos se deram, pois se face aos "mapas genoveses do Sec.XIV" tudo pareça apontar no sentido dos Açores terem sido descobertos entre 1317 e 1339, já na tese do consagrado historiador Damião Peres, o arquipélago só por volta de 1427 é que teria sido descoberto por Diogo de Silves, tendo o povoamento sido iniciado, em São Miguel e Santa Maria, cerca do ano de 1439. Mas não se admirem os nossos patrícios açorianos desta carência de rigor histórico, porque também aqui, na "terra firme", a história local da maioria das aldeias, vilas e cidades está recheada desse tipo de lacunas. Depois o mais historicamente importante é saber-se que os Açores na época das Descobertas desempenharam papel preponderante na conquista e defesa das praças portuguesas no norte de África, e que nas suas ilhas faziam escala as naus vindas da Índia, bem como a partir delas foi dado o indispensável apoio às expedições para a exploração da América. Factos decorridos e a juntar a tantos outros em que até o patriotismo dos açorianos se faz realçar em actos corajosos de que a Batalha da Salga é exemplo. Recorde-se que aquando da perda da nossa soberania, em 1580, a favor dos espanhóis, a ilha Terceira, fiel ao Prior do Crato, já foi só Portugal, durante quase 3 anos. Só a 27 de Julho de 1583, os dominadores conseguem desembarcar e aclamar então Filipe II de Espanha rei de Portugal. Mais recente e noutras circunstâncias outro acontecimento notável marcou a Terceira por ocasião da disputa entre D. Pedro e D. Miguel. Ao abraçar a causa do constitucionalismo, Angra é nomeada capital do reino, ali se estabeleceu, em 1828 a Junta Provisória, em nome de D. Maria II. É dali que D. Pedro IV organiza a expedição militar que desembarcou no Mindelo (Vila do Conde) para reconquistar o poder.

Para além da sua importância histórica, os Açores primam ainda pela beleza da sua paisagem natural e encanto da sua constituição morfológica, que aqui limito à ilha Terceira, por a conhecer, dando como referência alguns dos pontos mais notáveis: Monte Brasil, Serra de Santa Bárbara (1023m), Serra do Cume (545m), Veredas (437m) Algar do Carvão (718m) e Facho ou Cruz de Dona Beatriz. O Monte Brasil é um relevo de origem vulcânica, rico em flora e fauna, que em jeito de península é, com a cidade de Angra do Heroísmo, Património Mundial. A Serra de Santa Bárbara é o ponto mais elevado da ilha e com a sua parcial Reserva Florestal Natural anexa às do Mistério Negro conserva a maior mata da ilha, além do seu adormecido vulcão, que nunca se sabe quando acorda... A Serra do Cume fica sobranceira à planície  do "Ramo Grande", dali se avista a Praia da Vitória e a quase totalidade do seu concelho, desde as Fontinhas às Lages e de Porto Martins aos Biscoitos. O mesmo acontece do miradouro das Veredas, quando se vem ou vai de Doze Ribeiras para a Reserva Florestal de Recreio da Lagoa das Patas, também dali o panorama sobre  Terra Chã, Posto Santo, São Bartolomeu, São Mateus da Calheta, Porto Negrito, Baia de Vila Maria e Monte Brasil, com o Atlântico como pano de fundo, oferece aos olhos um cenário deslumbrante. O Algar do Carvão, Reserva/Natural Geológica, tem na "chaminé" de um vulcão com majestosas estalactites e estalagmites (com 3115 anos) e lagoa subterrânea, a 100 metros da superfície, a principal atracção, enriquecido ainda por ser a zona do gado bravo e ficar na rota da Caldeira de Guilherme Moniz e das vizinhas Furnas do Enxofre, fumarolas vulcânicas em actividade. O Facho, do lado oposto ao Cabo da Praia, é por excelência o miradouro da terra berço de Vitorino Nemésio, está para a Praia da Vitória, como está para Angra do Heroísmo o Outeiro da Memória, local que João Vaz Corte-Real escolheu para erguer ali a primeira fortaleza dos Açores (c.1474) e onde desde meados do Séc. XIX  se ergue uma pirâmide "à memória" do rei D. Pedro IV.
Noutra oportunidade voltarei a falar desta terra que embora distante e isolada no Oceano Atlântico está hoje mais perto de Lisboa (c.2h10 de avião) que Lisboa está de Trás-os-Montes...



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