quarta-feira, 14 de maio de 2014

Os Russos

                                            

                                            Tempo CaminhadoA Primeira Rússia

Os Russos impressionam. Pela extensão geográfica do seu país (um continente!), ou pelo sofrimento que sempre superaram. Fosse pelos caprichos dos czares, fosse pelos do terrorismo moderno. Mas o que mais impressiona nos Russos é a sua literatura. Quem os quiser conhecer leia Tolstói, Dostoievski, Leskov, Grossman, Gogol, Akhmatova, Mandelstam,  Pushkin, Andréev, Tchékhov, Pasternak, Solljenítsin, e por aí adiante.
Mesmo quando lidos em traduções fracas, eles são indispensáveis. São Património da Humanidade. Neles está contido o reportório dos sentimentos, a verdadeira essência da natureza humana; do homem comum. A sua pertinência universal é apenas comparável com a Grécia Antiga. O seu arreigado nacionalismo, a sua língua, muitas vezes utilizada nas formas regionais e populares por estes gigantes da Literatura, constituem um obstáculo ao leitor (e crítico) ocidental. Mas o mesmo não deixa de ser verdade para os grandes clássicos de todas as Literaturas.
Sem As Três Irmãs, Pais e Filhos, O Arquipélago de Gulag, Guerra e Paz, Tudo PassaOs Irmãos Karamazov, Recordações da Casa dos Mortos, ou Um dia na vida de Ivan Deníssovitch, seriamos outros com certeza.
E o que mais impressiona não é sustentar que toda a literatura russa é essencialmente política (eles próprios o reconhecem), é constatar que toda esta literatura foi produzida em condições sub humanas. Em nenhum período da sua história estes romancistas e dramaturgos russos produziram em condições normais de liberdade intelectual. Contudo, apesar do regime, seja o mecanismo de opressão czarista, seja Leninista-estalinista, a obra de arte russa existe. E o Kremlin, apesar da perseguição pessoal a escritores, a prisão e o desterro de uns tantos, tem autorizado a criação e a difusão de obras “subversivas”. É que no imaginário do cidadão comum estes gigantes são clássicos e a alavanca para as reformas que a realidade não saberá aceitar.
A história russa alavancou-se numa humilhação e num sofrimento execráveis, mas isso tornou essa terra imensa una e sagrada. Sobreviver a Ivan , o Terrível, ou a Estaline é sinal de uma singularidade inalcansável em nenhum outro povo. E o poeta russo, por compaixão, ou por raiva, aceita viver perto dos que lhe coarctam a liberdade. Prefere viver junto de criminosos do que sujeitar-se a um ostracismo, longe da terra mãe.
E mesmo assim Solljenítsin, embora odiando o Ocidente, fez dele o seu desterro, ao passo que o autor de Tudo Passa, se manteve perto dos criminosos bolcheviques, não deixando de produzir obras de denúncia, aclamadas há muito no continente europeu, só agora editadas em Portugal.
Lenine e Estaline, dois criminosos de má memória, que perseguiram e desterraram o que de melhor existiu na alma russa, são os antepassados de Putini. A Ucrânia conheceu os mestres e conhece agora o discípulo.
Faz bem o mundo livre persistir  na condenação da acção inconcebível por parte de Vladimir e insistir nas sanções que agora endurece, anunciadas por Obama e Barroso.

Armando Palavras

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