Tempo Caminhado: A Primeira Rússia |
Mesmo quando lidos em traduções
fracas, eles são indispensáveis. São Património da Humanidade. Neles está
contido o reportório dos sentimentos, a verdadeira essência da natureza humana;
do homem comum. A sua pertinência universal é apenas comparável com a Grécia
Antiga. O seu arreigado nacionalismo, a sua língua, muitas vezes utilizada nas
formas regionais e populares por estes gigantes da Literatura, constituem um
obstáculo ao leitor (e crítico) ocidental. Mas o mesmo não deixa de ser verdade
para os grandes clássicos de todas as Literaturas.
Sem As Três Irmãs, Pais e
Filhos, O Arquipélago de Gulag, Guerra e Paz, Tudo Passa, Os Irmãos Karamazov, Recordações da Casa dos Mortos, ou Um dia na
vida de Ivan Deníssovitch, seriamos outros com certeza.
E o que mais impressiona não é sustentar que toda a literatura russa é essencialmente política (eles próprios o reconhecem), é constatar que toda esta literatura foi produzida em condições sub humanas. Em nenhum período da sua história estes romancistas e dramaturgos russos produziram em condições normais de liberdade intelectual. Contudo, apesar do regime, seja o mecanismo de opressão czarista, seja Leninista-estalinista, a obra de arte russa existe. E o Kremlin, apesar da perseguição pessoal a escritores, a prisão e o desterro de uns tantos, tem autorizado a criação e a difusão de obras “subversivas”. É que no imaginário do cidadão comum estes gigantes são clássicos e a alavanca para as reformas que a realidade não saberá aceitar.
E o que mais impressiona não é sustentar que toda a literatura russa é essencialmente política (eles próprios o reconhecem), é constatar que toda esta literatura foi produzida em condições sub humanas. Em nenhum período da sua história estes romancistas e dramaturgos russos produziram em condições normais de liberdade intelectual. Contudo, apesar do regime, seja o mecanismo de opressão czarista, seja Leninista-estalinista, a obra de arte russa existe. E o Kremlin, apesar da perseguição pessoal a escritores, a prisão e o desterro de uns tantos, tem autorizado a criação e a difusão de obras “subversivas”. É que no imaginário do cidadão comum estes gigantes são clássicos e a alavanca para as reformas que a realidade não saberá aceitar.
A história russa alavancou-se numa
humilhação e num sofrimento execráveis, mas isso tornou essa terra imensa una e
sagrada. Sobreviver a Ivan , o Terrível, ou a Estaline é sinal de uma
singularidade inalcansável em nenhum outro povo. E o poeta russo, por
compaixão, ou por raiva, aceita viver perto dos que lhe coarctam a liberdade. Prefere viver junto de
criminosos do que sujeitar-se a um ostracismo, longe da terra mãe.
E mesmo assim Solljenítsin, embora
odiando o Ocidente, fez dele o seu desterro, ao passo que o autor de Tudo
Passa, se manteve perto dos criminosos bolcheviques, não deixando de
produzir obras de denúncia, aclamadas há muito no continente europeu, só agora
editadas em Portugal.
Lenine e Estaline, dois criminosos de
má memória, que perseguiram e desterraram o que de melhor existiu na alma russa,
são os antepassados de Putini. A Ucrânia conheceu os mestres e conhece agora o
discípulo.
Faz bem o mundo livre persistir na condenação da acção inconcebível por parte
de Vladimir e insistir nas sanções que agora endurece, anunciadas por Obama e
Barroso.
Armando Palavras
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