COSTA PEREIRA Portugal, minha terra. |
Em plano descendente, ali
vêm entroncar, no sentido nascente/poente, a Ladeira de São Francisco, Rua do
Galo e Rua da Sé; e no ascendente, em sentido sul/norte, a Rua Direita e a Rua
do Santo Espírito, as mais antigas e movimentadas artérias da primeira povoação
do arquipélago dos Açores a ser elevada a cidade, em 1534, por alvará de D.
João III; e que, também, por decreto de 12 de Janeiro de 1837, mercê do apoio
que deu às causas liberais, ao receber o título de "mui nobre,
leal e sempre constante cidade de Angra do Heroísmo", passou a designar-se por Angra
"do Heroísmo".
Para visitar o sítio que deu
origem ao nome de todo este importante núcleo urbano, vamos seguir pela Rua
Direita até ao Páteo da Alfândega, junto do qual fica a baía de Angra, essa
baía ("angra") que se veio a celebrizar como topónimo, embora ao
tempo das Descobertas não passasse dum simples pântano perdido na área
envolvente da fortaleza de São Sebastião e do castelo de São João Baptista do
Monte Brasil, e alimentado pela ribeira de curso permanente que, depois
desviada, descia dos lados do já inexistente castelo de São Luís, actual
"Outeiro da Memória", fazendo o mesmo percurso deste nosso passeio. E
uma vez neste local, como não permitir que a nossa sensibilidade se deixe
demorar na contemplação de um passado histórico que sabemos teve por palco e
cenário esta baía? Pois não obstante as caravelas
portuguesas e os galeões espanhóis
se terem dispensado de virem aqui, como outrora, para se reabastecerem,
repararem dos estragos, protegerem dos piratas e procurarem cuidados de saúde
para o seu pessoal enfermo, a memória desse passado continua viva e documentada
no património construído e na bucólica paisagem que o rodeia.
Ao lado da fortaleza de São
Sebastião, lá se mantém o cais do Porto
das Pipas à espera de carga e descarga das embarcações que deixaram de
aportar ali; do lado do castelo de São João Baptista, os vestígios do estaleiro naval doutos tempos são ainda
evidentes; nas muralhas das
fortalezas referidas, podemos imaginar da segurança que então existia dentro e
à volta delas, e na igreja da Misericórdia
(séc. XVIII), situada onde foi instalado o primeiro hospital dos Açores, a 15
de Março de 1492, só no séc. XIX. se deixou de prestar assistência aos doentes,
porque entretanto o hospital foi transferido para o convento das Irmãs
Concepcionistas.
Deixemos a baía, com a sua Marina e várias obras de reabilitação do
velho porto, em curso, para de
regresso ao centro urbano avançarmos até ao topo norte da Rua Direita, onde no
início da Rua do Marquês nos espera, para ser admirada, a Casa do Capitão do
Donatário que estrategicamente "cerca de 1474, João Vaz Corte-Real, mandou
construir" na base do morro do primitivo castelo de São Luís, também,
nessa data, mandado construir por este que, depois do cosmógrafo e cartógrafo,
ao serviço do Infante Dom Henrique, Jácome de Bruges, foi o primeiro Capitão do
Donatário, em Angra. E a seguir porque não dar a volta pela Rua do Rego e Alto
das Covas até encontrar perto a Rua de São Gonçalo? Vale a pena, porque temos
ali o Convento de São Gonçalo que,
fundado em 1545, "é o mais antigo da cidade, o primeiro destinado a
freiras - clarissas - o maior conjunto conventual de Angra e um dos maiores dos
Açores". Dele se nos oferece ainda destacar: os claustros, cerca e graneis; igreja e coros de estilo joanino;
o interior barroco e conventual onde sobressai "o cadeiral do coro alto
com figuras fantásticas; o conjunto de painéis de azulejo português (séc.
XVIII); o Cristo crucificado em cruz de prata (séc. XVII, escola espanhola,
possivelmente sul americana); e rico revestimento em talha, telas e tecto
pintado (séc. XVIII)". Não sendo dos mais sumptuosos da cidade, pelo que
significam e representam na história local, estes dois edifícios merecem, da
nossa parte, serem os seleccionados para constarem na descrição que vamos
continuar sobre valores patrimoniais e culturais de Angra do Heroísmo.
Costa Pereira
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