quarta-feira, 21 de maio de 2014

O Fado e a Bancarrota


É um fado. Não aquele acompanhado à guitarra, mas o das  crises financeiras, vulgo bancarrotas. No século XIX tivemos cinco (pelo menos). De memória ocorrem-nos quatro. As de 1827, 1836-37, 1842 e 1846. Só na primeira metade! Aligeirando, uma média de uma por cada cinco anos! Andámos todo o século a viver à custa dos outros. E nem mesmo sob a tutela das potências estrangeiras (principalmente dos ingleses), aprendemos alguma coisa (a classe política, pois claro). Não é por acaso que Eça, n'Os Maias, num famoso diálogo, insinua que o país caminha para a bancarrota.
Surge o século XX e, desgraçadamente, os dezasseis anos execráveis da Primeira República (com os republicanos à cabeça) atiram-nos para uma bancarrota catastrófica, que o Doutor Salazar, em escassos dois anos (nem chegou)  anulou.
Mas o preço social foi enorme! O país só começou a prosperar passados 23 anos (1953)! E a “miséria franciscana” que o povo teve de suportar é hoje conhecida, embora na década de 60 o país tenha crescido 7% ao ano (mais ou menos)!
Estes exemplos históricos não serviram de nada a uma certa tralha “política”. Três anos após a implantação da democracia fomos sujeitos a uma primeira intervenção do FMI e nos anos oitenta com o Professor Hernâni Lopes a comandar o navio das Finanças, surge um primeiro assomo de bancarrota, que o ilustre professor acaba por anular passados quase três anos. Correspondia a 5% do PIB, ou seja, da riqueza que o país produz durante um ano.
Há época era primeiro-ministro o dr. Soares. São célebres as suas frases. A dada altura diz: “ Os problemas económicos de Portugal são fáceis de explicar e a única coisa a fazer é apertar o cinto” (DN 27 de Maio de 1984).
Nem assim se aprendeu alguma coisa. E em 2011 o desastre foi dantesco. A bancarrota eminente ultrapassava os 40% do PIB!
O Governo de Pedro Passos Coelho, embora com fragilidades, eleito em condições de emergência nacional, num tempo idêntico ao de Hernâni Lopes, mas com um desastre económico oito vezes (e meia) superior, salvou o país da bancarrota (com o que isso possa ter de dúbio ou de incerteza). Só que desta vez, as circunstâncias são outras. A austeridade vai ser semelhante à do tempo do Doutor Salazar (que durou cerca de 23 anos), com o agravante de termos em cima de nós, a vigiar-nos, os “parceiros” europeus! Aliás, como sempre estiveram, pelo menos desde o século XIX a esta parte.
Este Governo cometeu erros, quando tomou posse em 2011. Desde logo pelo silêncio em torno das responsabilidades de Sócrates, o que implicou que não fossem corrigidas (que bem poderiam ter sido atenuadas ministério a ministério) muitas das directivas execráveis dessa governação. Ao silenciá-las ficou à mercê dos causadores do desastre, e à vista de alguns portugueses como um Governo preocupado apenas com a diminuição do défice (indo-lhes ao bolso), desvirtuado de justiça social.
Contudo, não se pode negar-lhe a ambição de afastar o país de uma calamidade que se arrastaria por gerações, como se não pode negar ao primeiro-ministro a resiliência às adversidades e a inteligência política demonstrada na crise do Verão. Isto não tem sido motivo de comentário pelos holofotes dos programas que por aí abundam, mas vai sê-lo da História. E este Governo já lá tem lugar. Pela positiva.
Armando Palavras


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