É um fado. Não aquele acompanhado à
guitarra, mas o das crises financeiras,
vulgo bancarrotas. No século XIX tivemos cinco (pelo menos). De memória
ocorrem-nos quatro. As de 1827, 1836-37, 1842 e 1846. Só na primeira metade! Aligeirando,
uma média de uma por cada cinco anos! Andámos todo o século a viver à custa dos
outros. E nem mesmo sob a tutela das potências estrangeiras (principalmente dos
ingleses), aprendemos alguma coisa (a classe política, pois claro). Não é por
acaso que Eça, n'Os Maias, num famoso diálogo, insinua que o país
caminha para a bancarrota.
Surge o século XX e, desgraçadamente,
os dezasseis anos execráveis da Primeira República (com os republicanos à
cabeça) atiram-nos para uma bancarrota catastrófica, que o Doutor Salazar, em
escassos dois anos (nem chegou) anulou.
Mas o preço social foi enorme! O país
só começou a prosperar passados 23 anos (1953)! E a “miséria franciscana” que o
povo teve de suportar é hoje conhecida, embora na década de 60 o país tenha
crescido 7% ao ano (mais ou menos)!
Estes exemplos históricos não
serviram de nada a uma certa tralha “política”. Três anos após a implantação da
democracia fomos sujeitos a uma primeira intervenção do FMI e nos anos oitenta
com o Professor Hernâni Lopes a comandar o navio das Finanças, surge um
primeiro assomo de bancarrota, que o ilustre professor acaba por anular
passados quase três anos. Correspondia a 5% do PIB, ou seja, da riqueza
que o país produz durante um ano.
Há época era primeiro-ministro o dr.
Soares. São célebres as suas frases. A dada altura diz: “ Os problemas
económicos de Portugal são fáceis de explicar e a única coisa a fazer é apertar
o cinto” (DN 27 de Maio de 1984).
Nem assim se aprendeu alguma coisa. E
em 2011 o desastre foi dantesco. A bancarrota eminente
ultrapassava os 40% do PIB!
O Governo de Pedro Passos Coelho,
embora com fragilidades, eleito em condições de emergência nacional, num tempo
idêntico ao de Hernâni Lopes, mas com um desastre económico oito vezes
(e meia) superior, salvou o país da bancarrota (com o que isso possa ter de
dúbio ou de incerteza). Só que desta vez, as circunstâncias são outras. A
austeridade vai ser semelhante à do tempo do Doutor Salazar (que durou cerca de
23 anos), com o agravante de termos em cima de nós, a vigiar-nos, os
“parceiros” europeus! Aliás, como sempre estiveram, pelo menos desde o século
XIX a esta parte.
Este Governo cometeu erros, quando
tomou posse em 2011. Desde logo pelo silêncio em torno das responsabilidades de
Sócrates, o que implicou que não fossem corrigidas (que bem poderiam ter
sido atenuadas ministério a ministério) muitas das directivas execráveis dessa
governação. Ao silenciá-las ficou à mercê dos causadores do desastre, e à vista
de alguns portugueses como um Governo preocupado apenas com a diminuição do défice
(indo-lhes ao bolso), desvirtuado de justiça social.
Contudo, não se pode negar-lhe a
ambição de afastar o país de uma calamidade que se arrastaria por gerações,
como se não pode negar ao primeiro-ministro a resiliência às adversidades e a
inteligência política demonstrada na crise do Verão. Isto não tem sido motivo
de comentário pelos holofotes dos programas que por aí abundam, mas vai sê-lo
da História. E este Governo já lá tem lugar. Pela positiva.
Armando Palavras
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