sexta-feira, 16 de maio de 2014

COSTA PEREIRA - Açores, Um pedaço de Portugal, suspenso no alto mar-IV


COSTA PEREIRA
Portugal, minha terra.
Como muito bem antecipou José Vieira, em recente trabalho sobre a Terceira: "Não é suficiente olhar para o património construído como expressão monumental, é sobretudo importante perceber a função de cada edifício, a razão da sua localização, e compreender no seu recheio o quanto essa história influenciou a vivência e a maneira de ser dos terceirenses". Dá conta dessa realidade quem visita Angra, e com vagar percorre os pontos estratégicos da urbe, então verá que para além de procurar a protecção do badalado castelo de São Luiz, a histórica Casa do Capitão do Donatário tinha como principal objectivo, pela Rua Direita, tornar mais rápido e fácil o acesso à baía de Angra.
 O mesmo se vislumbra em relação ao Solar de Nossa Senhora dos Remédios (antiga residência do Provedor das Armadas e hoje a sede da Secretaria Regional dos Assuntos Sociais), "Construído no séc. XVI, por Pero Anes do Canto, provedor das armadas de El-Rei - o "Armador" -, sofreu este edifício muitas modificações em razão dos serviços exigidos; apoiar em tudo os navios das índias. Ostenta ainda o brasão dos Canto e Castro. A localização, entre o casario do Corpo Santo (bairro de gente do mar) permite-lhe o acesso rápido ao porto das pipas". Vizinha dele fica o santuário de Nossa Senhora da Conceição de Angra do Heroísmo, igreja que reconstruída sobre as ruínas de uma anterior ermida " é a mais antiga depois da Sé de Angra. O único documento antigo que existe sobre esta, é o Alvará de 26 de Março de 1533 de D. João III, ordenando ao Bispo D. Jorge de Santiago que erigisse na paróquia a ermida de Nossa Senhora da Conceição, que já existia quando Angra era Vila". Com a sua arquitectura em estilo barroco e o interior dividido em três naves e o tecto sustentado por quatro colunas de pedra de cada lado e de forma rectangular, são dignas de admiração na Capela Mor (séc. XVII/XVIII), a imagem da Senhora da Conceição (séc.XX); na Capela do Santíssimo (séc. XVII),o sacrário de cedro (séc. XVII), uma urna da mesma madeira (séc. XVII) e Cruz processional de prata (séc. XVII); no altar do Coração de Jesus (séc. XVII/XVIII), a escultura (séc. XX); no de São Sebastião (séc. XVII/XVIII), imagem de São Sebastião dos "Mestres da Sé de Angra" (séc. XVII); e no Altar de São José (séc. XVII/XVIII), São José com o Menino ao colo (séc.XIX). Depois além da Descida da Cruz, em madeira de cedro (séc.XVII- escola portuguesa), merece relevo a imagem do beato João Baptista Machado (séc.XIX), um dos mártires do Japão, natural de Angra e beatificado, em 1867, por Pio IX. Também de realçar é o facto de pela frente desta igreja ter, seguramente, passado o corpo de Paulo da Gama, irmão do descobridor do Caminho Marítimo para a Índia, que aqui faleceu no regresso dessa histórica viagem, e jaz em sepultura incerta na vizinha igreja de Nª Sª da Guia (séc.XVIII) do Convento de São Francisco, como recorda a história local ao referir que "É o terceiro neste lugar, tendo servido de sede à Província Franciscana dos Açores (São João Evangelista). Nele foram sepultados, Paulo da Gama e o Capitão Vaz Corte Real, ainda na primeira capela da Nossa Senhora da Guia, fundada em finais do séc. XV".- Neste convento onde também já funcionou o Liceu de Angra, depois de restaurado, após o violento sismo de 1 de Janeiro de 1980, está hoje instalado o deslumbrante Museu de Angra do Heroísmo. E sem deixar perder de vista os domínios que foram da antiga "Ribeira dos Moinhos" e que, pelas Ruas/ do Santo Espírito, Garoupinha, Diogo das Chagas e Pisão, acabamos de percorrer e um desdobrável intitulado "ANGRA a pé...", da Delegação de Turismo da Terceira, vem ao melhor jeito historiar: "No vale onde está Angra corria selvagem, uma ribeira (mais ou menos onde estão hoje os tubos verdes da central hidroeléctrica). Desviada por Álvaro Martins Homem antes de 1474 e canalizada em leito de cantaria aparelhada, serviu, durante 500 anos, como espinha dorsal da industria da cidade (moinhos, alcaçarias - curtume de peles - pisões de lã e linho. Um arruamento sinuoso desenvolveu-se, acompanhando a ribeira numa sequência de "Y" típicos do urbanismo arcaico, entre o outeiro e o cais da cidade".
Também do outeiro, onde pela Rua do Pisão chegamos, uma vez que do primitivo castelo, "que afastado do mar espelhava a ideia ainda medieval, continental e mediterrânica de uma defesa em acrópole", nada resta, e da pirâmide que em honra de D. Pedro IV já anteriormente demos conta, o mais acertado agora é descer daqui por uma convidativa escadaria que nos vai introduzir no interior do Jardim Duque da Terceira, notável pelas suas diversas e bem cuidadas espécies da flora atlântica, onde embevecidos pelo aroma do seu arvoredo e canteiros floridos nos vamos deter a fim de recuperar energias para continuarmos a nossa incursão Angra dentro.

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