sábado, 20 de julho de 2013

A rasgadela do acordo de salvação nacional com Falk




Normalmente os homens bons acreditam nos acordos, quando estes são propostos com boa-fé, como foi o caso deste – de Salvação Nacional – proposto em boa hora pelo Presidente da República. Que ajam, pede-lhes a Nação.
 
Quando ontem ouvimos as justificações de António José Seguro, onde justificava atabalhoadamente a rasgadela desse acordo, ouvimos o que desde o início das conversações esperávamos. Em nada nos espantou. Aliás, foi uma justificação de um demagogo, puro e simples. Pressionado pelo pela facção de poder do seu partido.
E sobre essa justificação por aqui ficamos até ouvirmos as justificações da maioria, esmiuçarmos os textos de compromisso das duas partes e, sobretudo, ouvirmos a intervenção do Presidente da República, Professor Aníbal Cavaco Silva.
 
O que ontem aconteceu é mais profundo do que se pensa. Os partidos, como os clubes de futebol, associações, etc., são grupos; grupos humanos que professam doutrinas, formas de ver o mundo. E alguns destes grupos humanos são influenciados (por vezes manipulados) por outros. O Partido socialista é como os outros partidos um desses grupos. Influenciado por outro. Que, na verdade, é constituído por muitos homens bons, mas também por uma miríade de gente medíocre, inculta, muitas vezes ignorante (e mais não diremos a este respeito – por respeito aos homens bons).
 
Na verdade, o acordo não foi conseguido por culpa da maioria, mas por culpa do Partido Socialista. Porque o texto de Lessing, datado de 1778, considera que essa gente (a outra gente) é o resultado da actuação de uma força centrípeta, existente no seio da sociedade civil que visa compensar as forças centrífugas que a conduzem à fragmentação. O escritor e filósofo alemão descreve os homens que compõem esse “agrupamento” como sendo homens desejosos de ultrapassar os limites impostos pelo “patriotismo”. Era isto que, na essência, descrevia Lessing através do seu personagem Falk. Mas o próprio Lessing conclui que esta bela intenção (a que juntava os limites impostos pela “religião” e pela “grandeza social”) era parcial.
 
Por muito boas intenções que tenham, ficam a anos-luz dos verdadeiros. Alguns são naturalmente conhecidos: Péricles e Aristóteles (leia-se a constituição de Atenas que lhe é atribuída). Não por o serem, mas pelas funções politicas e de cidadania que desempenharam.
Quanto à rasgadela do acordo, o Presidente saberá avaliar. Mas inclinamo-nos para que esta maioria acabe a legislatura em 2015.
Armando Palavras

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