segunda-feira, 11 de março de 2013

Cícero e a Agricultura

vindimas


Como norma imposta pela então CEE, o país desprezou a agricultura, e seguiu um caminho que nos meteu nesta embrulhada – a dos serviços. Que não produzem riqueza, nem criam postos de trabalho nas dimensões da Indústria ou da Agricultura. Agora mais do que nunca. Avisados, os homens da alta finança e grandes empresários (como Roquete da quinta do Esporão, ou Belmiro de Azevedo que, além das propriedades que já possui, comprou recentemente um monte com 50 hectares no vale da Vilariça para desenvolvimento da cultura do Kiwi), estão agora a apostar na Agricultura. Virá o tempo da Indústria.
Mas esta viragem não é de agora. Cícero, no seu pequeno volume “Da Velhice”, trata o assunto, dedicando algumas páginas a esta actividade. Indica grandes cidadãos romanos que se dedicaram a este género de vida, aos prazeres da agricultura, como Mânio Cúrio, Lúcio Quíncio Cincinato (16-56), ou Marco Valério Corvino (17-60).

A ceifa - Peter Bruegel, o Velho, c. 1565
A dado passo afirma:” Têm eles uma conta a ajustar com a terra, a qual nunca recusa o seu poder e nunca retorna desinteressadamente o que recebeu: umas vezes menos, mas, na maior parte, muito e com juros”. E diz que o que mais aprecia não é “apenas o produto”, mas o “vigor natural da terra”, descrevendo então, de forma bela, o ciclo da semente (15-51). A seguir deleita-se com a beleza da videira, com a transformação quase mágica de um grão de figo ou uma grainha “em troncos e em ramos grossos”. E admira-se com o brotar puro das plantas, em especial com as videiras (15-52). De novo imprime êxtase na descrição do ciclo da videira, com a chegada da Primavera, com o aparecimento dos gomos, da uva que enaltece como produto admirável, interrogando-se: “Existirá produto mais rico e mais belo?” (15-53). Menciona Hesíodo (que não fez nenhuma referência à agricultura), e o seu livro sobre os trabalhos do campo, onde enuncia os muitos benefícios da vida do campo. Lembra Laertes (descrito por Homero) que encontra o reconforto pela ausência do filho, “a cultivar e a fertilizar a terra”, e a mais bela invenção da Agricultura: a enxertia (15-54).
Remata indicando os textos de Xenofonte, principalmente o “Económico” onde a agricultura é tão “insistentemente louvada!”, e o episódio entre Lisandro e Ciro-o-Moço, Rei dos Persas, que havia, ele próprio, cultivado o seu jardim (17-59).

Armando Palavras


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