Acácias Rubras - BENGUELA |
(1930-1962)
Livro que nos foi cedido pela Drª Isabel Maria Guimarães de Medeiros Borges, para os Amigos (e Amigas), a Sissi |
Alda Ferreira Pires Barreto de Lara
Albuquerque é uma referência cultural angolana (diremos mesmo africana). Nasceu
em Benguela, Angola, no dia 9 de Junho de 1930. Viveu em Lisboa desde a
adolescência, onde concluiu o liceu e frequentou as Faculdades de Medicina de
Lisboa e de Coimbra (onde se licenciou). Exerceu influência na renovação da
poesia angolana, comprometida, de certo modo, com a luta pela independência
daquele país.
De Alda
apenas existe (que saibamos) este livro que se apresenta. Mas como Juan Rulfo
que apenas publicou cerca de 300 páginas, Alda, para ser a poetisa que foi, não
precisou de publicar mais coisa alguma. Leiam-na, meditem, reflictam e
saboreiem esta poesia simples mas admirável!
É para
nós um prazer enorme ressuscitar Alda, esquecida que está, como os meninos
brancos estão das histórias que um dia ouviram nas (e das) noites africanas.
TESTAMENTO
À
prostituta mais nova
Do
bairro mais velho e escuro,
Deixo os
meus brincos, lavrados
Em
cristal, límpido e puro...
E àquela
virgem esquecida
Rapariga
sem ternura,
Sonhando
algures uma lenda,
Deixo o
meu vestido branco,
Todo
tecido de renda...
Este meu
rosário antigo
Ofereço-o
àquele amigo
Que não
acredita em Deus...
E os
livros, rosários meus
Das
contas de outro sofrer,
São para
os homens humildes,
Que
nunca souberam ler.
Quanto
aos meus poemas loucos,
Esses,
que são de dor
Sincera
e desordenada...
Esses,
que são de esperança,
Desesperada
mas firme,
Deixo-os
a ti, meu amor...
Para
que, na paz da hora,
Em que a
minha alma venha
Beijar
de longe os teus olhos,
Vás por
essa noite fora...
Com
passos feitos de lua,
Oferecê-los
às crianças
Que
encontrares em cada rua...
Lisboa, 1950
AS BELAS MENINAS PARDAS
As belas meninas pardas
são belas como as demais.
Iguais por serem meninas,
pardas por serem iguais.
Olham com olhos no chão.
Falam com falas macias.
Não são alegres nem tristes.
São
apenas como são
E as belas meninas pardas,
estudam muito, muitos anos.
Só estudam muito. Mais nada.
Que o resto, traz desenganos …
Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.
Nos
passeios de domingo,
andam
sempre bem trajadas.
Direitinhas.
Aprumadas.
Não conhecem
o sabor que tem uma gargalhada
(Parece
mal rir na rua!...)
E nunca
viram a lua,
debruçada
sobre o rio,
às duas
da madrugada.
Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.
E desejam sobretudo, um casamento decente...
O mais, são histórias perdidas...
Pois que importam outras vidas?...
outras raças?... , outros mundo?...
que importam outras meninas,
felizes, ou desgraçadas?!...
As belas
meninas pardas,
dão boas mães de família,
e merecem ser estimadas...
1959
(Fevereiro)
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