sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Alda Lara, poetisa angolana (1930-1962)

Acácias Rubras - BENGUELA

ALDA LARA, Poetisa angolana

(1930-1962)


Livro que nos foi cedido pela
Drª Isabel Maria Guimarães 
de Medeiros Borges,
para os Amigos (e Amigas), a Sissi
 Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque é uma referência cultural angolana (diremos mesmo africana). Nasceu em Benguela, Angola, no dia 9 de Junho de 1930. Viveu em Lisboa desde a adolescência, onde concluiu o liceu e frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e de Coimbra (onde se licenciou). Exerceu influência na renovação da poesia angolana, comprometida, de certo modo, com a luta pela independência daquele país.
De Alda apenas existe (que saibamos) este livro que se apresenta. Mas como Juan Rulfo que apenas publicou cerca de 300 páginas, Alda, para ser a poetisa que foi, não precisou de publicar mais coisa alguma. Leiam-na, meditem, reflictam e saboreiem esta poesia simples mas admirável!
É para nós um prazer enorme ressuscitar Alda, esquecida que está, como os meninos brancos estão das histórias que um dia ouviram nas (e das) noites africanas.


 TESTAMENTO


À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...

E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...

Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...

E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.


Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...


Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...


Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...

 Lisboa, 1950



AS BELAS MENINAS PARDAS

 As belas meninas pardas
 são belas como as demais.
 Iguais por serem meninas,
 pardas por serem iguais.

 Olham com olhos no chão.
 Falam com falas macias.
 Não são alegres nem tristes.
     São apenas como são
        todos dos dias.

 E as belas meninas pardas,
 estudam muito, muitos anos.
 Só estudam muito. Mais nada.
 Que o resto, traz desenganos …

 Sabem muito escolarmente.
 Sabem pouco humanamente.

Nos passeios de domingo,
andam sempre bem trajadas.
Direitinhas. Aprumadas.
Não conhecem o sabor que tem uma gargalhada
(Parece mal rir na rua!...)
E nunca viram a lua,
debruçada sobre o rio,
às duas da madrugada.

 Sabem muito escolarmente.
 Sabem pouco humanamente.

 E desejam sobretudo, um casamento decente...

 O mais, são histórias perdidas...
 Pois que importam outras vidas?...
 outras raças?... , outros mundo?...
 que importam outras meninas,
 felizes, ou desgraçadas?!...

As belas meninas pardas,
 dão boas mães de família,
 e merecem ser estimadas...

1959 (Fevereiro)

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