Mario Draghi feliz depois do anúncio |
Paul Krugman |
Mário Draghi, na qualidade de presidente, ao anunciar anteontem (6-9-XII) a compra ilimitada de divida pública dos países atacados pelos especuladores pelo Banco Central Europeu (BCE), contribuiu para que uma luz fosse avistada no fim do túnel para a crise económica em que a Europa está mergulhada desde 2007/2008. Não será com certeza a luz de um outro comboio.
Esse anúncio (de uma acção idêntica à da Reserva Federal Americana, Banco Central do Reino Unido e Banco Central do Japão, por exemplo) remeteu-nos para a leitura do livro de Paul Krugman (prémio Nobel da Economia), recentemente publicado (Julho) em Portugal, mas que o autor concluiu em Fevereiro (2012).
Krugman dedica um capítulo inteiro (10) à crise da Europa intitulado Eurodämmerrung: O Crepúsculo o Euro.
Depois de descrever as soluções (3) para esta crise europeia (pp.196-197) diz: “O BCE surpreendeu pela positiva desde que Mário Draghi assumiu a presidência após a saída de Jean–Claude Tricher. Verdade seja dita, Draghi recusou firmemente as exigências de que deveria comprar as obrigações dos países em crise. Mas descobriu uma forma de alcançar mais ou menos o mesmo resultado pela porta das traseiras do banco, anunciando um programa no qual o BCE iria disponibilizar empréstimos ilimitados a bancos privados, aceitando as obrigações dos governos europeus como garantias” (p. 197).
Nesse mesmo capitulo elabora uma síntese histórica da União Europeia, o problema da moeda única, a bolha do euro, a “ narrativa distorcida, um relato falso sobre as causas da crise que impede verdadeiras soluções” (p. 189), o problema essencial da Europa e as soluções para salvar o euro, páginas onde se insere a citação supra sobre Draghi.
No capitulo onze aborda a questão dos defensores da austeridade, a quem chama os Austerianos, em cujas mentes “perdura uma urgência constante de transformar a crise económica numa peça de moralidade, num conto em que a depressão é a consequência necessária de pecados anteriores que não devem ser atenuados” (p. 217).
O capítulo 12 inicia-o com uma frase de John Maynard Keynes (A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, 1936): Os principais defeitos da sociedade económica em que vivemos são a sua incapacidade em proporcionar o pleno emprego e a sua arbitrária e desigual distribuição de riqueza e de rendimentos.
Aquilo que era verdade em 1936 continua a ser verdade hoje em dia, diz-nos (p.218). Nem de propósito, dedica todo um capítulo, o quarto, à origem da crise (a mesma que a da Grande Depressão de 1929), intitulado Banqueiros Tresloucados. Num sistema cada vez mais desregulado, os bancos tinham liberdade para se deixarem levar pelo excesso de confiança que um período de tranquilidade (depois da Segunda Guerra – as regras de regulação foram criadas na década de 1930, depois da Grande depressão) criou. No quinto capitulo analisa como cresceram as grandes fortunas à custa da pobreza de tantos, e “ de uma mudança nas normas sociais” (p. 95), apresentando um gráfico que reproduzimos ao lado. É a partir de 1980 que os muito ricos ficaram escandalosamente mais ricos, porque até lá, com a politica da redistribuição de riqueza, fomentada pela social democracia do pós guerra mantiveram-se saudavelmente ricos.
Convém relembrar o recente falecido e talentoso historiador Toni Judt em Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos (2010). Dizia: “Há algo de errado na maneira como hoje vivemos” (p. 17). E acrescentava: “Quanto maior o fosso entre a minoria rica e a maioria empobrecida, piores os problemas sociais: é uma afirmação verdadeira tanto para países ricos como pobres” (p. 33). E já agora porque não John Steinbeck, n’As Vinhas da Ira?
Krugman, no livro em análise, nesse quinto capítulo sobre a distribuição da riqueza, apresenta as razões porque é que os ricos ficaram (muitíssimo) mais ricos (pp. 87- 95), e sobre a elite e a economia politica das más medidas politicas.
No capítulo seis fala-nos de Keynes, da época da Grande Depressão, de outras teorias (elegantes) económicas, da manipulação de ideias.
No capítulo sete aborda a bolha imobiliária, o momento Minsky (na economia americana), o fiasco imobiliário e o endividamento das famílias (pp. 137- 139). A questão do défice é analisada no capítulo oito.
E vai por aí fora, numa linguagem simples, entendida por quem não é especializado nesta área, propondo soluções para a crise. Em síntese, sugere aos seus pares que aprendam com a lição da Grande Depressão e que se implantem as soluções de Keynes introduzidas na economia real pelo presidente Roosevelt, que apenas as aplicou quando, à época, a economia norte-americana alcançou o fundo do poço e as receitas se esgotaram. O resultado foi sensacional. Num brevíssimo espaço de tempo, o produto nacional bruto dos EUA duplicou e o desemprego caiu de 17% para 1%.
Krugman refere-se essencialmente à crise americana, dedicando um capítulo à europeia. Mas tudo o que diz sobre a América pode bem ser dito sobre a Europa.
Embora os governos europeus em dificuldades, estejam sujeitos à política de austeridade imposta pela Alemanha, podem, em casos específicos, seguir Krugman e aliviar as dificuldades dos seus concidadãos. E uma a reter, é sobre o endividamento das famílias, bem explicada nas páginas 157 a 160.
Esse anúncio (de uma acção idêntica à da Reserva Federal Americana, Banco Central do Reino Unido e Banco Central do Japão, por exemplo) remeteu-nos para a leitura do livro de Paul Krugman (prémio Nobel da Economia), recentemente publicado (Julho) em Portugal, mas que o autor concluiu em Fevereiro (2012).
Krugman dedica um capítulo inteiro (10) à crise da Europa intitulado Eurodämmerrung: O Crepúsculo o Euro.
Depois de descrever as soluções (3) para esta crise europeia (pp.196-197) diz: “O BCE surpreendeu pela positiva desde que Mário Draghi assumiu a presidência após a saída de Jean–Claude Tricher. Verdade seja dita, Draghi recusou firmemente as exigências de que deveria comprar as obrigações dos países em crise. Mas descobriu uma forma de alcançar mais ou menos o mesmo resultado pela porta das traseiras do banco, anunciando um programa no qual o BCE iria disponibilizar empréstimos ilimitados a bancos privados, aceitando as obrigações dos governos europeus como garantias” (p. 197).
Nesse mesmo capitulo elabora uma síntese histórica da União Europeia, o problema da moeda única, a bolha do euro, a “ narrativa distorcida, um relato falso sobre as causas da crise que impede verdadeiras soluções” (p. 189), o problema essencial da Europa e as soluções para salvar o euro, páginas onde se insere a citação supra sobre Draghi.
No capitulo onze aborda a questão dos defensores da austeridade, a quem chama os Austerianos, em cujas mentes “perdura uma urgência constante de transformar a crise económica numa peça de moralidade, num conto em que a depressão é a consequência necessária de pecados anteriores que não devem ser atenuados” (p. 217).
O capítulo 12 inicia-o com uma frase de John Maynard Keynes (A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, 1936): Os principais defeitos da sociedade económica em que vivemos são a sua incapacidade em proporcionar o pleno emprego e a sua arbitrária e desigual distribuição de riqueza e de rendimentos.
Aquilo que era verdade em 1936 continua a ser verdade hoje em dia, diz-nos (p.218). Nem de propósito, dedica todo um capítulo, o quarto, à origem da crise (a mesma que a da Grande Depressão de 1929), intitulado Banqueiros Tresloucados. Num sistema cada vez mais desregulado, os bancos tinham liberdade para se deixarem levar pelo excesso de confiança que um período de tranquilidade (depois da Segunda Guerra – as regras de regulação foram criadas na década de 1930, depois da Grande depressão) criou. No quinto capitulo analisa como cresceram as grandes fortunas à custa da pobreza de tantos, e “ de uma mudança nas normas sociais” (p. 95), apresentando um gráfico que reproduzimos ao lado. É a partir de 1980 que os muito ricos ficaram escandalosamente mais ricos, porque até lá, com a politica da redistribuição de riqueza, fomentada pela social democracia do pós guerra mantiveram-se saudavelmente ricos.
Convém relembrar o recente falecido e talentoso historiador Toni Judt em Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos (2010). Dizia: “Há algo de errado na maneira como hoje vivemos” (p. 17). E acrescentava: “Quanto maior o fosso entre a minoria rica e a maioria empobrecida, piores os problemas sociais: é uma afirmação verdadeira tanto para países ricos como pobres” (p. 33). E já agora porque não John Steinbeck, n’As Vinhas da Ira?
Krugman, no livro em análise, nesse quinto capítulo sobre a distribuição da riqueza, apresenta as razões porque é que os ricos ficaram (muitíssimo) mais ricos (pp. 87- 95), e sobre a elite e a economia politica das más medidas politicas.
No capítulo seis fala-nos de Keynes, da época da Grande Depressão, de outras teorias (elegantes) económicas, da manipulação de ideias.
No capítulo sete aborda a bolha imobiliária, o momento Minsky (na economia americana), o fiasco imobiliário e o endividamento das famílias (pp. 137- 139). A questão do défice é analisada no capítulo oito.
E vai por aí fora, numa linguagem simples, entendida por quem não é especializado nesta área, propondo soluções para a crise. Em síntese, sugere aos seus pares que aprendam com a lição da Grande Depressão e que se implantem as soluções de Keynes introduzidas na economia real pelo presidente Roosevelt, que apenas as aplicou quando, à época, a economia norte-americana alcançou o fundo do poço e as receitas se esgotaram. O resultado foi sensacional. Num brevíssimo espaço de tempo, o produto nacional bruto dos EUA duplicou e o desemprego caiu de 17% para 1%.
Krugman refere-se essencialmente à crise americana, dedicando um capítulo à europeia. Mas tudo o que diz sobre a América pode bem ser dito sobre a Europa.
Embora os governos europeus em dificuldades, estejam sujeitos à política de austeridade imposta pela Alemanha, podem, em casos específicos, seguir Krugman e aliviar as dificuldades dos seus concidadãos. E uma a reter, é sobre o endividamento das famílias, bem explicada nas páginas 157 a 160.
Post- scriptum
Miguel Frasquilho |
Pedro Passos Coelho Primeiro-ministro de Portugal |
Ainda ontem (7-9-XII) o Primeiro-ministro de Portugal, Dr. Pedro Passos Coelho, anunciou novas medidas de austeridade (embora sejam universais, deviam ser proporcionais como defende o Presidente da Republica, Professor Aníbal Cavaco Silva) sobre o povo português. Ninguém ficou satisfeito. E nós muito menos.
Mas que alternativa tem o governo de Portugal? Nenhuma. A Europa, sob a batuta da Alemanha (também com a OCDE – o conjunto dos países mais ricos), está a seguir, em relação à resolução da crise (no que respeita aos países em desequilíbrio) uma politica de austeridade que não está de acordo com as soluções de Krugman (uma politica expansionista – como o Universo!), mas foi a Europa que emprestou o dinheiro ao País (contrato assinado pelo Partido Socialista português e com a Troica, como sois dizer-se), logo é à Europa que o governo português deve meças, não a Krugman, cuja leitura se aconselha vivamente. Foi o melhor livro de economia que lemos nos últimos dois anos.
Quanto ao Partido Socialista diremos o que disse o Dr. Frasquilho: “ Ficar-lhe-ia bem um pouco de modéstia e reconhecer os erros do passado que contribuíram para esta situação desagradável”. Situação desagradável significará, cremos, bancarrota. Ou seja, 80% da população na miséria, a passar fome!
Mas que alternativa tem o governo de Portugal? Nenhuma. A Europa, sob a batuta da Alemanha (também com a OCDE – o conjunto dos países mais ricos), está a seguir, em relação à resolução da crise (no que respeita aos países em desequilíbrio) uma politica de austeridade que não está de acordo com as soluções de Krugman (uma politica expansionista – como o Universo!), mas foi a Europa que emprestou o dinheiro ao País (contrato assinado pelo Partido Socialista português e com a Troica, como sois dizer-se), logo é à Europa que o governo português deve meças, não a Krugman, cuja leitura se aconselha vivamente. Foi o melhor livro de economia que lemos nos últimos dois anos.
Quanto ao Partido Socialista diremos o que disse o Dr. Frasquilho: “ Ficar-lhe-ia bem um pouco de modéstia e reconhecer os erros do passado que contribuíram para esta situação desagradável”. Situação desagradável significará, cremos, bancarrota. Ou seja, 80% da população na miséria, a passar fome!
Armando Palavras
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